5 de abril de 2011

Trilhas sonoras de amor perdidas


"Nós, os românticos e melancólicos, nos achávamos mais inteligentes que os outros, porque nós sabíamos o segredo. O segredo está em se manter sensível às partes sombrias da Arte."

6 de maio de 2010

Daí que.

Era pra eu vir falar das peças do festival lááá de março. Nove, ao todo. Quase todas boas. Quase. Sempre o quase. Que senão não era o festival. Era pra vir falar de como eu gostei tanto tanto do Nosso estranho amor. E de como violinos de trilha sonora são uma covardia para as emoções todas. De Minas, pra variar. Sempre bom. Invariavelmente bom. Até agora, ao menos. E de como não suportei a total falta de noção d'A Falta. Curitiba, pra variar. Variavelmente ruim.

E também pra falar que ainda há esperança, e que a vida já não está assim tão corrida, tão atropelada, tão rápida e louca. Mãs. Essa parte não muda, tem jeito não. E mentir também não é o caso. Ou é?

E, por conta disso, eis que não há tempo. Ou não se consegue arranjar. Ou não se quer arranjar, vá saber.

Daí que, são meses de abandono do pobre do blog. Meses e mais meses. E quando se chega, se tem uma quantidade tamanha de comentários anônimos viróticos que a alusão à poeira acumulada chega a ser perfeita.

Mãs.

Em todo caso, estoy logo ali, que é o que tem dado.

Não perdamos a ternura jamás, que vai que volta.

17 de fevereiro de 2010

"Um velhinho abriu a janela e festejou o silêncio.
Um marido e uma mulher, deitados na cama, decidiram que era 'melhor não falar mais sobre isso', e cada um se virou para um lado.
Uma mocinha se lembrou mais uma vez dos detalhes daquele beijo, para que ficassem guardados para sempre em sua memória, e só então pegou no sono.
As Quartas-feiras de Cinzas carregam muita responsabilidade".


Sonho de uma noite de verão, da Adriana Falcão, pela Objetiva, 2007.

16 de janeiro de 2010

Mas sério,

É impressionante como o tempo não passa no hospital.

Coisa de louco, foram quatro dias que valeram por duas semanas. Tanto que quando cheguei em casa, foi a mesma sensação que eu tinha nos áureos tempos em que eu passava os meses de férias todos na praia. Aquela coisa de desacostumar com a própria casa. E foram quatro dias.

Daí que eu tinha uma companheira de quarto, uma senhorinha de setenta e três anos, que foi para um exame e também não tinha idéia de que precisaria ficar. Toda forte e ativa e com a família toda em volta, mesmo não sendo ela aqui de Curitiba. As filhas e filhos se viraram em vinte pra sempre ter alguém junto. E a familiagem toda tão simpática e boa de conversa quanto a matriarca doentinha.

Chegou um dia em que estava ela, com uma filha e eu com mamã querida, e mais pareceu um chá entre amigas do que internamento, único dia em que o tempo passou rápido que só.

O caso da senhorinha era bem mais grave, de longe. Ela foi fazer uma biópsia e o resultado ainda nem tinha saído e o médico, segundo a experiência dele, achou melhor começar o quanto antes com a quimio. Tudo isso sem ela saber, mas cá imagino que a essas alturas ela já saiba, tanto pelos efeitos, como também porque a desconfiança ali já era grande, que de boba a senhorinha não tinha nada.

E ela não queria por nada que eu tivesse alta, vejam. Tão sincera que era e nem disfarçava a alegria quando o médico vinha dizer para "dar uma segurada" mais um dia, que nem brava dava pra ficar. Uma tristezinha na despedida.

Peguei telefone da filha e liguei ontem. Ela tinha sido transferida para outro hospital em que o remédio (caríssimo) para a quimio era conveniado, e daí ficou mais difícil de disfarçar a real doença. Mas diz que ela estava reagindo bem, bem.

E de todas as restrições que ela tinha desde uma pancreatite recente (a velhinha é duro na queda, como diria Dona Edith), disse que do que mais sentia falta era de dirigir, tomar cerveja e comer carne de porco.

Com a exceção à carne de porco, que não faço questão nenhuma, não admira a afinidade quase que imediata entre as duas familiagens.

Mesmo eu variando entre a dor e a dopagem toda dos remédios fortes, estamos aqui na torcida pela Dona Marly, amorzinha.

Maus começos, bons fins.

Sempre disse Dona Edith, minha mãe.

E é nisso que estou me fiando neste querido 2010, que já começou com direito a internação por enxaqueca longa e inexplicável e o tempo parado dentro do hospital.

No final das contas e depois de todos os exames possíveis, eis que era o quê? O quê?? Três chances.

Sim! Tensão nervosa!

Agora conte uma novidade.

Daí aqueles velhos conselhos de "desligar-se do trabalho", "procurar fazer alguma outra atividade" e afins, finalmente serão levados a sério, que outra dessa eu sinceramente não espero passar.

Já tinham me falado que se eu não arranjasse tempo para parar um pouco, o corpo uma hora ia forçar essa parada. Mas a gente (leia-se eu) sempre força até o limite, não tem jeito. Daí dá nisso.

Não sei como, nem quando e nem onde, mas esse ano será de mudança de hábitos, tudo muito difícil. Mas não impossível, né mesmo?

E se depender do dito de Dona Edith, o final do ano promete alegrias mis, que te contar.

29 de dezembro de 2009

Voltamos do Rio Grande ontem, numa viagem - agora sim - calma e tranquila, de menos de dez horas. Nada daquela loucurada que foi a ida, a mais cansativa de todas.

Lá nos pampas, aquele calor descomunal de sempre. Trinta e cinco, trinta e seis graus, quase sem vento. E a gente procurando lugar para ir para pegar a menor brisinha que passasse.

Noite de Natal passada botando os bofes para fora, por conta da mistura de comidinhas leves e o clima ameno (chegada com "salsichão" - linguiça, para o resto do país -, dia seguinte com carne, pastel e cerveja, e mais os tais trinta e tantos graus). De modos que nem oi pude dar para a familiagem que se acumulava.

Sem muitos problemas, pois no dia seguinte o almoço de Natal é um repeteco da noite. Em meio às 94359033 perguntas de "melhoraste?", eis que de fato melhorei e foi tudo festa dali pra frente.

Hoje dormi, menos do que planejado, e vim para o escritório agora à tarde.

Mas só para descobrir que o telefone nem o interfone tocam, o calor ainda é grande, e as coisas por fazer, todas tão planejadas durante a folga de Natal, vão mesmo ficar para o ano que vem, que a paciência se esgotou, o ânimo não exisste e, afinal, isso não é vida.

A idéia era não deixar tudo acumulado para a primeira semana de janeiro, quando as coisas voltam ao seu normal, mas não há meios, porque trabalhar já vamos mesmo de qualquer maneira, e o ritmo aqui essa semana está lento que só. Daí que, decretei-me feriado até ano que vem, com pausa para um protocolozinho amanhã de manhã. Mas só.

A revolta da pipoqueira.

Que de correria eu entendo bem e vou deixar pra amanhã o que podia fazer hoje. Sem dor na consciência e com a maior e mais bem vinda preguiça dos últimos tempos. Afinal, uma das metas de 2010 e do resto da vida, é trabalhar esta ansiedade fiadamãe que me consome os pacová.

Modos que, feliz anonovo pra todos os milhares de vocês aí, e inté janeiro!

24 de dezembro de 2009

Ao invés de dez horas de viagem (já fizemos em nove horas e meia até), eis que demoramos mais de onze horas pra chegar aos pampas.

Muito movimento, chuva, neblina e caminhões por todos os lados.

Daí o que já era cansativo, virou esgotante mesmo.

Mas então chega-se ao destino, descarrega-se o carro, acomoda-se um pouco. Já não está aquele calorão típico da época, mas justamente por causa da chuva, o clima é o mais ameno possível. Agradabilíssimo, diria. E já se prepara para anoitecer, perto das nove da noite, tão diferente de Curitiba.

E se dá de cara com isso.



E se esquece de todo o cansaço (ou boa parte dele) e se lembra do quanto vale à pena vir reencontrar as pessoas, descansar o corpo e o espírito.

Porque isso aí em cima não é nenhuma novidade aqui não, é coisa corriqueira. A cada vinda a gente volta com pelo menos uma dúzia de fotos iguais a essa, tiradas aqui do quintal mesmo. Sem efeitos e sem nada, que não precisa.

21 de dezembro de 2009

Viagem à vista depois de amanhã.

E a maior preguiça do mundo de arrumar as coisas.

Nessas alturas eu juro que achei que não ia estar trabalhando assim tão intensamente. Até de calça jeans eu fui hoje pro escritório. E sapato baixinho, toda esporte.

Mas não adiantou.

Enganei todo mundo, menos os prazos.

Daí que amanhã começo o dia, cedo, em Colombo.

E depois volto pra fazer outras cousas de trabalho muito mais sério do que eu desejava. Pelo menos nessas alturas.

Natal no Rio Grande e Ano Novo em Curitiba, sem intervalo de tempo suficiente pra ir pra praia ou qualquer outro canto do mundo para a virada.

Não que eu fosse, que a preguiça – sempre ela – é grande.

Mãs.

É sempre bom ter a ilusão das opções abertas.

5 de dezembro de 2009

Das surpresas boas.

Algumas coisas acontecem pra dar aquele ânimo, aquele incentivo e pra recobrar aquela velha – porém cansável – fé nas pessoas. E na justiça dos homens, digamos.

Foi o caso de uma ação assim tão urgente que acabou mobilizando todo o escritório, de uma menina com caso sério sério de câncer, e que teve negado do plano de saúde um dos medicamentos pra sua quimioterapia. E que piorou drasticamente e precisava de tudo para ontem. E faz ação à noite, pra distribuir no outro dia, e corre daqui e corre dali, e fala com um e com outro. E a coisa faz efeito, e sensibiliza as pessoas, e corre tudo bem. Que é bom variar um pouco de tanta desgraça.

Quatro horas depois da distribuição, liminar deferida, mandado expedido na mesma hora, oficial de justiça que sai correndo e ligação no final da tarde de funcionário do próprio plano de saúde, dizendo que as guias já estavam todas liberadas.

E a alegre ligação pra mãe da menina, que, muito cansada, ainda consegue agradecer.

E daí se respira. E se consegue e se permite sentir o cansaço acumulado de todo o esforço de tudo que se faz nessa vida, que se tentou nessa e em outras causas, com ou sem resultado bom.

Que a vida tem disso, de surpreender. Pro bem também.

É bom pra lembrar e pra retomar o fôlego nessas alturas.

29 de novembro de 2009

Depois de um final de semana chuvoso, eis que agora, aos quarenta e quatro do segundo tempo, faz um domingo de sol, muito sol.

E tentando muito muito fugir do monotema do cansaço extremo e do trabalho que suga as poucas energias que se tem. E só se consegue poupá-las um pouco deixando de fazer a lição de casa que tinha que se feita, mãs. Compensa pra descansar, mas já já pago com juros com a ansiedade do cão que vem junto com a noite do domingo, e com a musiquinha do Fantástico.

Sei que o Inter aqui jogando e o digníssimo perdendo a paciência. É um que tem que perder, outro não pode ganhar e outro que também não pode de jeito nenhum. E ele que tem que ganhar. E tudo isso ao mesmo tempo agora. Apesar do nó na cabeça das milequinhentas mudanças de canal, ainda assim é melhor, que não fica essa coisa de futebol o dia inteiro sem parar. Não que eu não goste, mas quando se descobre que é possível ver futebol todo santo dia da semana nos mais diversos continentes deste nosso mundo, sem contar o diacho do winning eleven, vai-se pegando um pouco de birra. Um pouco só. Da cor verde e de barulho de torcida. Síncopes.

Esta é a vista neste exato momento. Que ilustrar sempre é bom, todo um contexto.



De vez em quando a gente fica invisível. Faz e acontece e ninguém percebe. Fato este especialmente notório quando em jogo do Inter, de verdade. O que não é ruim, não mesmo. Muito interessante, diria.

Na tevê, chove no jogo do Atlético, que é aqui em Curitiba. Aqui, tão perto, ainda não. Mas já vai.

28 de novembro de 2009

Hermann Hesse, amigo.

“Assim como agora me visto e saio, vou visitar o professor e troco com ele algumas frases amáveis, mais ou menos falsas, tudo isso contra a minha vontade, assim procede a maioria dos homens que vivem e negociam todos os dias, todas as horas, forçadamente e sem na realidade querê-lo; fazem visitas, mantêm conversações, sentam-se durante horas inteiras em seus escritórios e fábricas, tudo à força, mecanicamente, sem vontade; tudo poderia ser realizado com a mesma perfeição por máquinas ou não se realizar; e essa mecânica eternamente continuada é o que lhes impede, assim como a mim, de exercer a crítica de sua própria vida, reconhecer e sentir sua estupidez e superficialidade, sua desesperada tristeza e solidão. E tem razão, muitíssima razão, os homens que assim vivem, que se divertem com seus brinquedinhos, que correm atrás de seus assuntos, em vez de se oporem à mecânica aflitiva e olharem desesperados o vazio, como faço eu, homem marginalizado que sou. Se às vezes desprezo e até me burlo dos homens nestas páginas, não será por isso que os culpe de minha indigência pessoal! Mas eu, que cheguei tão longe e estou à margem da vida, de onde se tomba à escuridão sem fundo, cometo uma injustiça e minto, se pretendo enganar-me e enganar os outros, como se funcionasse também para mim àquela mecânica, como se continuasse a pertencer àquele mundo nobre e infantil do eterno jogo!”

(O Lobo da Estepe.)

20 de novembro de 2009

O do Rubem querido, que ficou faltando.

A ansiedade é o buraco deixado pelo desejo esquecido, o buraco de um coração que não mais existe: grito desesperado pedindo que o desejo e o coração voltem, para que se possa de novo gozar a beleza da copa do ipê contra o céu azul. Tão terrível é esse vazio que vários rituais foram criados para exorcizar os demônios que moram nele. Um deles é a minha agenda – e a agenda de todo mundo. Quando a ansiedade chega, basta ler as ordens que estão escritas, o buraco se enche de comandos, e se fica com a ilusão de que tudo está bem. E não é por isso que se trabalha tanto – da vassoura das donas de casa à bolsa de valores dos empresários? São todos iguais: lutam contra o mesmo medo do vazio.
“E vós, para em a vida é trabalho e inquietação furiosos – não estais por demais cansados de viver? Não estais prontos para a pregação da morte? Todos vós para que o trabalho furioso é coisa querida – e também tudo o que seja rápido, novo e diferente – vós achais por demais pesado suportar a vós mesmos; vossa atividade é uma fuga, um desejo de vos esquecerdes de vós mesmos. Não tendes contudo suficiente em vós mesmos para esperar – e nem mesmo para o ócio” (Nietzsche).
Por isso ligamos as televisões, para encher o vazio; por isso passamos os domingos lendo os jornais (mesmo quanto nossos filhos brincam no balanço do parquinho), para encher o vazio; por isso não suportamos a idéia de um fim de semana ocioso, sem fazer nada (já na segunda-feira se pergunta: “E no próximo fim de semana, que é que vamos fazer?”); por isso até a praia se enche de atividade frenética, pois temos medo dos pensamentos que poderiam nos visitar na calma contemplação da eternidade do mar, que não se cansa nunca de fazer a mesma coisa.
Certos estão os taoístas: a felicidade suprema é o Wu-Wein, fazer nada. Porque só podem se entregar Às delícias da contemplação aqueles que fizeram as pazes com a vida e não se esqueceram dos próprios desejos.


Esse é d’As melhores crônicas de Rubem Alves, da Editora Papirus.

No final das contas não tinha assim tão a ver com o que eu ia dizendo, mas é sempre bom.

E não devo mais nada também.

Já que o tempo passou

E provavelmente ninguém mais se aprochega a este espaço perdido entre tantos outros milhares de novos espaços surgidos de lá pra cá, peço licença para um diálogo público com a capanheira Mariana, amiga de todas as horas e co-proprietária desta bodega.

Merilú, que fazer.

Que depois de muito mais de seis meses sem nem abrir a coitada desta página, e depois da idéia de bar de de repente inaugurar outra página para mudar de ares e ver se a coisa re-engrena (que eu nunca deixarei de usar hífen e trema), agora que cá vim, tenho eu as minhas dúvidas.

Que a gente se apega aos filhos, né mesmo?

E lendo as escritas de outrora, concordo contigo em tudo: ó, a espontaneidade. E pergunto aqui logo em seguida: para onde diabos ela foi?

Eu mesma nem reconheço a capacidade e a criatividade dos textos escritos, lá no falecido outro blog. Mesmo nas épocas róseas, a coisa ia ao menos livremente, sem pensar e sem precisar ter tempo.

Agora não se tem tempo, não se cria tempo, e no pouquíssimo que se tem, as coisas não fluem. Não se tem idéias, nada vem e só se quer descansar. Descansar do trabalho, dos prazos, dos clientes, do trânsito e da semana que se vai com uma rapidez desesperadora. De ligar a televisão, pois nem pro silêncio se tem mais paciência. Sobre isso tem alguma coisa num texto do Rubem Alves, que eu estou lendo, mas não está aqui. Fico devendo.

E daí que a gente perde o fio da meada, de tanto desacostume.

Mas o facto é que não escrevemos, Márê. E precisamos. Que bem lembro que as coisas eram mais leves dantes. E pode ser, não se sabe, que tenha alguma coisa a ver com isso, de escrever. E com todo o desprendimento que vinha com a escrita. E da falta de compromisso com qualquer coisa ou pessoa. Até nomes completos, lugares e profissões a gente, muito desavisadamente, deixava ali, para quem quisesse ver ou pesquisar. Não precisamos ir tão longe na regressão, que bem sabemos que a responsabilidade está aqui e não se pode fugir tanto.

E daí, voltamos?

Vamos ou ficamos?

Esse lugar ainda dá um caldo?

Pois começo a achar que sim.

Ou não.

Que bem podemos ir pra outro lugar e começar tudo de novo em novos ares.

Ou recomeçamos de onde paramos?

De qualquer maneira, recomeçar é preciso.

Que achas?

4 de novembro de 2009


“Quando um óvulo é fecundado por um espermatozóide, ele logo começa a se dividir. A primeira célula vira duas, essas duas viram quatro, as quatro viram oito e por aí vai. Até atingir o número aproximado de trinta e duas, o que leva uns três ou quatro dias, essas células são chamadas de células-tronco totipotentes. Isso significa que cada uma delas é um ser humano em potencial. Podem desdobrar-se não apenas em qualquer tecido do corpo, mas também na placenta e em outras estruturas extra-embrionárias essenciais para o desenvolvimento do feto no útero. Depois as células começam a se especializar. Surgem as pluripotentes, que podem se transformar em qualquer tecido, e as multipotentes, que podem se diferenciar nas células de determinado tecido ou órgão. As células ganham empregos e adultas. Apesar de ainda guardar a informação genética completa, elas esquecem de como usá-la. Sofrem lavagem cerebral para ser apenas fígado, neurônio ou glândula pituitária. Tem todas as pecinhas, mas só uma página do manual de montagem. No entanto, está tudo ali, adormecido. Esse potencial de ser qualquer coisa. A visão do todo necessária para gerar um novo ser. Comecei a me informar obsessivamente sobre essas coisas ainda em São Paulo, ainda com Danilo, mas só agora, enfim grávida, afundando as botas na neve por uma trilha que me levaria ao cume de uma montanha, me ocorria que devia haver um paralelo entre as vicissitudes do embrião e a angústia humana de ter de se contentar com a limitação do que somos. Como se o corpo e a mente carregassem do nascimento à morte a nostalgia daquela totipotência. Simplesmente não nos conformamos. Ninguém nos ouviu. Não fomos consultados pelas forças que nos deram forma e nos reduziram a algo tão menor e mais específico do que...do quê? Não sabemos, nunca recordaremos por completo, mas não importa, porque o intuímos em toda a sua imensidão. Montanhas e oceanos nos fazem pensar nesse tipo de coisa.”

Galera, Daniel. “Cordilheira”.

1 de outubro de 2009

"Eu nunca sei se quero descansar porque estou realmente cansada, ou se quero descansar para desistir."

Clarice Lispector.

10 de fevereiro de 2009

"O sentimento de desespero nunca é súbito, não é um desabamento – é o fim de uma escalada mental que vai queimando todos os cartuchos da razão até, aparentemente, não sobrar nenhum, e então a idéia de solidão deixa de ter o charme confortável de uma idéia e ocupa inteira a nossa alma, em que não caberá mais nada, exceto, quem sabe, a coisa-em-si que ele parece procurar tanto: o sentimento do abismo. (Não se mova, que dói.)"

Tezza. Cristovão. O Filho Eterno.

4 de fevereiro de 2009

E a pessoa ama ainda mais ter 30 anos quando vê que, não bastassem tooodas as demais vantagens, ter 30 anos é tão emblemático que também impede vc de deixar de fazer coisas por conta de acessos repentinos de infantilidade, chiliques de insegurança e afins. Porque né, vc tem 30 anos, o que te dá toda a autoridade pra agir como tal.

É realmente o máximo.