Coisas incríveis mantidas em segredo até então.
Pensamentos, desejos, manias, medos, sentimentos, realidade e fantasia. O universo de duas mulheres que pensam e agem de maneira distinta, mas que também possuem diversas semelhanças e mostram um pouco do que confessamos apenas para o espelho, ou nem mesmo para ele.
Duas amigas se encontram em uma mesa de bar – uma, enquanto esperava o atual namorado chegar, e outra, encomendando as suas trufas e o expresso, como fazia todos os dias – depois de, ao que tudo indica, anos sem notícia uma da outra. Foram muito unidas algum dia, e a separação deu-se por conta de uma briga que, mais tarde, iriam notar que nem se lembravam o motivo.
A peça foi escrita pelas próprias atrizes, Larissa Crocetti e Márcia Maggi, sendo adaptada pela diretora Fábia Guimarães, e trata basicamente disso, das lembranças guardadas e das perdidas, do resgate da cumplicidade, de observações e percepções particulares das personagens sobre a mesma situação. Tudo isso numa noite qualquer, regada a vinho e a divagações mis.
As duas personagens são diametralmente opostas: uma que não se fixa em relacionamento algum, sempre terminando antes que terminem com ela, todo o medo de ficar sozinha e de não ser lembrada; a outra, que é separada e voltou a morar com a tia, não sabendo porque tudo havia terminado, quando na verdade a culpa foi essencialmente dela, sem que ela supostamente reparasse. Sendo que uma é vista pela outra com admiração e, quem sabe, inveja, justamente pela complementação toda entre as duas.
Sei que tudo isso com tiradas muito engraçadas, variando entre um humor às vezes sutil e às vezes escancarado. Por exemplo, o shampoo para cabelos normais. "Você usa shampoo para cabelos normais?? Quem você pensa que é?? Entre todos os shampoos do mundo, para cabelos danificados, secos, ressacados, oleosos, sujeitos à ação do tempo, com pontas duplas, muito crespos e afins, você tem a petulância de achar que pode usar shampoo para cabelos normaaais??".
E o fato de se guardar sempre lembranças inúteis na memória, achando que um dia pode precisar delas, ocupando o espaço das coisas realmente úteis. E de não querer mais processar informação alguma, já que isso implicaria em se desfazer de alguma daquelas sem utilidade que você guarda há tanto tempo por comodismo.
Tudo isso entre tantas outras.
Ah sim, e são distribuídos na entrada do teatro pacotes de pipoca, daqueles cor-de-rosa, de pipoca doce. Nem vou dizer do quão milagroso e providencial foi o tal pacotinho, uma vez que a peça foi às 20:00 de uma sexta-feira, e nem eu e nem Merilú tivemos tempo de comer nada desde o serviço, mais precisamente, desde o almoço. Então imagina a festa. E peguei justamente o último pacote do saco mor, o que, segundo a mocinha da produção, significa sorte e que 'ele vai ser meu'. Agüente, agüente.
No final da peça é que os pacotes todos vão fazer sentido, e a metáfora foi das melhores:
A vida é como esse pacote de pipoca, a gente come e são todas amargas, nem sei porque continuamos comendo. Mas aí a gente acha uma doce, e é tão bom que a gente não quer mais parar de comer só para achar outras tão docinhas. E tudo com muito cuidado para não deixar que, num descuido, caiam pipocas e mais pipocas no chão, porque se pode, nesta única desatenção, perder a única pipoca doce do pacote inteiro.
2 comentários:
Super bonitinha essa peça, não Kerol? O bom de ler o que a gente escreve é que a gente acaba relembrando momentos da peça que já tinham se perdido na memória. E o bom de escrever sobre as peças é a oportunidade de repensar as várias nuances do texto, da encenação.
O texto tem tiradas geniais, na verdade. As meninas são boas atrizes e boas autoras, para a nossa grata surpresa. Pensamentos tipicamente femininos e os medos todos tão estampados em tantos comportamentos pouco compreensíveis, e, muitas vezes, injustificáveis.
E a novidade da vez foi ter um fim assim bem delineado, com moral da história e tudo, veja que beleza. E ainda ganhamos pipoca! E a pipoca ainda teve a sua participação com nexo! Véri, véri good!
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