6 de maio de 2010

Daí que.

Era pra eu vir falar das peças do festival lááá de março. Nove, ao todo. Quase todas boas. Quase. Sempre o quase. Que senão não era o festival. Era pra vir falar de como eu gostei tanto tanto do Nosso estranho amor. E de como violinos de trilha sonora são uma covardia para as emoções todas. De Minas, pra variar. Sempre bom. Invariavelmente bom. Até agora, ao menos. E de como não suportei a total falta de noção d'A Falta. Curitiba, pra variar. Variavelmente ruim.

E também pra falar que ainda há esperança, e que a vida já não está assim tão corrida, tão atropelada, tão rápida e louca. Mãs. Essa parte não muda, tem jeito não. E mentir também não é o caso. Ou é?

E, por conta disso, eis que não há tempo. Ou não se consegue arranjar. Ou não se quer arranjar, vá saber.

Daí que, são meses de abandono do pobre do blog. Meses e mais meses. E quando se chega, se tem uma quantidade tamanha de comentários anônimos viróticos que a alusão à poeira acumulada chega a ser perfeita.

Mãs.

Em todo caso, estoy logo ali, que é o que tem dado.

Não perdamos a ternura jamás, que vai que volta.

17 de fevereiro de 2010

"Um velhinho abriu a janela e festejou o silêncio.
Um marido e uma mulher, deitados na cama, decidiram que era 'melhor não falar mais sobre isso', e cada um se virou para um lado.
Uma mocinha se lembrou mais uma vez dos detalhes daquele beijo, para que ficassem guardados para sempre em sua memória, e só então pegou no sono.
As Quartas-feiras de Cinzas carregam muita responsabilidade".


Sonho de uma noite de verão, da Adriana Falcão, pela Objetiva, 2007.

16 de janeiro de 2010

Mas sério,

É impressionante como o tempo não passa no hospital.

Coisa de louco, foram quatro dias que valeram por duas semanas. Tanto que quando cheguei em casa, foi a mesma sensação que eu tinha nos áureos tempos em que eu passava os meses de férias todos na praia. Aquela coisa de desacostumar com a própria casa. E foram quatro dias.

Daí que eu tinha uma companheira de quarto, uma senhorinha de setenta e três anos, que foi para um exame e também não tinha idéia de que precisaria ficar. Toda forte e ativa e com a família toda em volta, mesmo não sendo ela aqui de Curitiba. As filhas e filhos se viraram em vinte pra sempre ter alguém junto. E a familiagem toda tão simpática e boa de conversa quanto a matriarca doentinha.

Chegou um dia em que estava ela, com uma filha e eu com mamã querida, e mais pareceu um chá entre amigas do que internamento, único dia em que o tempo passou rápido que só.

O caso da senhorinha era bem mais grave, de longe. Ela foi fazer uma biópsia e o resultado ainda nem tinha saído e o médico, segundo a experiência dele, achou melhor começar o quanto antes com a quimio. Tudo isso sem ela saber, mas cá imagino que a essas alturas ela já saiba, tanto pelos efeitos, como também porque a desconfiança ali já era grande, que de boba a senhorinha não tinha nada.

E ela não queria por nada que eu tivesse alta, vejam. Tão sincera que era e nem disfarçava a alegria quando o médico vinha dizer para "dar uma segurada" mais um dia, que nem brava dava pra ficar. Uma tristezinha na despedida.

Peguei telefone da filha e liguei ontem. Ela tinha sido transferida para outro hospital em que o remédio (caríssimo) para a quimio era conveniado, e daí ficou mais difícil de disfarçar a real doença. Mas diz que ela estava reagindo bem, bem.

E de todas as restrições que ela tinha desde uma pancreatite recente (a velhinha é duro na queda, como diria Dona Edith), disse que do que mais sentia falta era de dirigir, tomar cerveja e comer carne de porco.

Com a exceção à carne de porco, que não faço questão nenhuma, não admira a afinidade quase que imediata entre as duas familiagens.

Mesmo eu variando entre a dor e a dopagem toda dos remédios fortes, estamos aqui na torcida pela Dona Marly, amorzinha.

Maus começos, bons fins.

Sempre disse Dona Edith, minha mãe.

E é nisso que estou me fiando neste querido 2010, que já começou com direito a internação por enxaqueca longa e inexplicável e o tempo parado dentro do hospital.

No final das contas e depois de todos os exames possíveis, eis que era o quê? O quê?? Três chances.

Sim! Tensão nervosa!

Agora conte uma novidade.

Daí aqueles velhos conselhos de "desligar-se do trabalho", "procurar fazer alguma outra atividade" e afins, finalmente serão levados a sério, que outra dessa eu sinceramente não espero passar.

Já tinham me falado que se eu não arranjasse tempo para parar um pouco, o corpo uma hora ia forçar essa parada. Mas a gente (leia-se eu) sempre força até o limite, não tem jeito. Daí dá nisso.

Não sei como, nem quando e nem onde, mas esse ano será de mudança de hábitos, tudo muito difícil. Mas não impossível, né mesmo?

E se depender do dito de Dona Edith, o final do ano promete alegrias mis, que te contar.