19 de dezembro de 2007

O Teatro Mágico - Entrada para Raros



Tudo muito lindo realmente. Com música, com poesia, com as pessoas declamando junto, com performances teatrais, decoração e figurino circense, pirofagia, malabares e coreografia aérea no tecido vermelho.

Quando eu crescer quero ser bailarina de tecido.

Acabo de constatar que de um jeito ou de outro eu sempre quis ser bailarina, só que as variações menos convencionais do ballet. Na infância era bailarina aquática, que inclusive dava como resposta à perguntinha de sempre do ‘o que quer ser quando crescer’ dos cadernos de confidência. Em segundo lugar, lá na lanterninha, professora daí.

Mas acho que eu sempre quis foi ser bailarina de tecido mesmo. De tecido vermelho. E rodopiar pendurada no teto do Master Hall, bem no meio da platéia.

So beautiful.

Mas, voltando, pude perceber uma certa euforia do público semelhante à que acontecia outrora com Los Hermanos. O que se justifica até, já que há essa profusão de qualidades artísticas acontecendo ao mesmo tempo e agora, tudo muito encantador e cativante. Os arranjos com violinos e instrumentos de sopro, o jogo de palavras nas letras das músicas (o teu afeto me afetou é fato, agora faça me o favor / Ana e o Mar, Mar i Ana - o "i" é por minha conta, naturalmente), os palhaços e as bonecas de trapo, o lema lançado “Os opostos se distraem e os dispostos se atraem” e outras tantas características próprias firmaram sem dúvida o nascimento de uma idéia muito original e ousada. E de muito talento.

Capítulo à parte foi Dayana Kelly, cheia de opiniões, que quase me maaata de vergonha com os seus comentários sobre as figurinhas atípicas (ou bem típicas) que curtiam o show do nosso lado. Primeiro um japa tiete altamente empolgado que dava pulos de 2m, tendo ele mesmo de altura total por volta de meio metro e que falava alto, mas bem mais alto que todos, a parte declamada das canções, ao que Day incitava, batia palmas e dizia: “é isso aee, é muito fácil ser rebelde quando se tem dinheiro!”

A outra figurinha era feia por demais. Pobrezinho, mas bem feinho mesmo e foi a Day se aperceber da presença do rapaz pra dizer que ele era tão feio que ele deveria ir embora.

Tsctsctsc...

Porém, contudo, o cartaz já dizia que a entrada era para raros!

E agora, como assídua usuária dos táxis do ponto do supermercado próximo da minha casa, recebo tão doce e gentil cartão que vos passo abaixo, porque, desta vez, existiu um scanner em tempo quase real (\o/):



Acompanhado de uma caixa de chocolates e entregue via fusca na porta da minha casa pelos "meus amigos do Táxi Extra".

Que mimo!

17 de dezembro de 2007

De episódio mais recente, já na era digital, mas que ainda assim não pôde ser registrado, teve o recadinho, quase um haicai, que deixamos no caderno de lembranças do Pico do Itapiroca, o qual alcançamos depois de mais de três horas de escalada no meio da floresta e perseguidas por dezenas de moscas mutantes gigantes cujo zumzumzum só não nos enlouqueceu porque graças a ele fizemos aquela trilha em disparada, praticamente sem descansos.

Moscas

Moscas

Moscas

Muitas moscas

No mais, a vista é bem bonita.


Porque as moscas, naturalmente, nos acompanharam até o topo.

Impressionante.

Ao final da trilha achei que não fosse capaz de andar por vários dias. Certo é que qualquer movimento que lembrasse um degrau me causava arrepios, mas ao final de 2 dias tudo se normalizou, graças.

Todo o meu ouro por um scanner.

Quantas cousas não passaram em branco aqui pela falta de um, cês nem imaginam.

Como, por exemplo, as Dicas para uma Boa Convivência, livremente criadas pela Anna e imediatamente coladas na porta da geladeira do apartamento que alugamos para passar o carnaval na praia em 7 meninas. Carnaval de 2003.

Lembro de ter pisado na cozinha pela primeira vez e de já estarem lá os curiosos escritos pendurados na geladeira. E da Anna ter ficado muito ofendida quando começamos a rir daquilo, fato que nos impediu à época de tornar esta pérola pública. Mãs, porém, contudo, não me impediu de tirar uma foto às pressas, suando frio e em pânico de que ela me visse fazendo aquilo, com a intenção de algum dia trazer à tona momento tão único.

Dentre as orientações que incluíam os infalíveis, sujou, lave, tirou do lugar, guarde, houve uma que mereceu especial atenção já que tinha esse intuito nobre de promover a conciliação dos povos. Atenções para o item de número 6*:


*Caso alguém seja deselegante c/ vc, converse com jeito, diretamente c/ a pessoa.

A escala de limpeza vinha acompanhando as dicas. E ainda trazia o que competia à limpeza.

Dessa nem eu lembrava.

14 de dezembro de 2007


HOUVE AUMENTO NO VALOR DA MENSALIDADE DECORRENTE DE MUDANÇA NA FAIXA ETÁRIA.

Óóóóódio.

11 de dezembro de 2007

Sobrevivemos sim, Mary.

Aos trancos e barrancos, como sempre, mas sim.

Até que os trancos e os barrancos fiquem maiores e mais difíceis, ou até que se crie milagrosamente as coragens ou as vontades de mudar de verdade, ao que tudo indica assim prosseguiremos.

Não que isso seja lá uma previsão negativa, que de tudo há aprendizados novos. Acho eu.

Pra mim que foi um ano – ou talvez O ano – de total comprometimento com o trabalho. Ano de decidir de uma vez e se posicionar de acordo. Tanto que, também milagrosamente, as tais crises duvidosas de fim de ano quase que não tiveram espaço dessa vez, o que não deixa de ser um alívio. Sensação de caminho certo.

O problema é quando esse comprometimento acaba por comprometer propriamente cousas a mais do que a dedicação laboral, digamos, e vão-se todos para as saúdes da pessoa.

E problema maior, de verdade verdadeira, é quando se começa a ter um início de retorno de todo este comprometimento e a esperança de retornos maiores, que daí se vê o quanto vai ficando mais difícil se largar de vez tudo e viver de amor e pesca, como sempre foi o plano b. E que nunca passou e passará disso, um plano b, cada vez mais longe do a, que reina absoluto na vida real.

Daí que só fica aquela coisa mal resolvida dos sonhos não concretizados, e aquela nostalgia precoce e uma senilidade fora de hora.

Das viagens que não vão ser; dos exílios que não há mais tempo; dos longos períodos de despreocupação que não voltarão; e da demora em se acostumar com tudo isso; e da falta de vontade de se acostumar com tudo isso e da certeza de que ninguém jamais deve se acostumar com isso.

Tudo é questão de adaptação, acho. Mas às vezes se adaptar muito facilmente com as coisas é mais comodismo do que qualquer outra qualidade mais nobre.

Ou seja, confusão total.

De repente nem sobrevivemos, Mary. Só queremos achar que.

Questão de sobrevivência, sabe como.

Fim de ano

Sobrevivemos?


Aparentemente sim.


Mas só aparentemente.

Trabalho demais para pessoas que só desejaram um trabalho. E não é preciso sofrer tanto só pra trabalhar, é?

Ano bastante conturbado, cheio de segundas vezes banais, cheio de pressa, de pulsações descompassadas, de coração sufocado, de cerveja além da conta, de viagens tétricas, de casamentos dos outros, de sonhos por se realizarem, de sonhos muito longe de serem realizados, de esperanças desfeitas, de quase ter uma nova vida, de vinho verde e sopa de ervilhas, de solidão, de lembrar de como eu era num passado que já é distante, de fins de semana com os amigos, de amizades confirmadas, de descobertas felizes, de correr na praça, de inventar moda, de limpeza geral, de decisões difíceis, de testar as resistências, de querer muito mais e de sair da janela e ir pra rua.

7 de dezembro de 2007

Que é, afinal, que eles queriam? Eles não sabiam, e usavam-se como quem se agarra em rochas menores até poder sozinho galgar a maior, a difícil e a impossível; usavam-se para se exercitarem na iniciação; usavam-se impacientes, ensaiando um com o outro o modo de bater asas para que enfim – cada um sozinho e liberto - pudesse dar o grande vôo solitário que também significaria o adeus um do outro. Era isso?

Clarice Lispector. A Legião Estrangeira.

30 de novembro de 2007

Caracas ou Só me f*, Brasil

Mariana diz:
maaaaaaari
M. Urban diz:
mari do ceu
M. Urban diz:
nao to conseguindo parar de rir
Mariana diz:
por que razão?
M. Urban diz:
o diálogo da minha vó com vc está gravdo na secretaria eletronica
M. Urban diz:
hahahahahahahahahaha
Mariana diz:
hahahahahahahahaha
M. Urban diz:
alo
M. Urban diz:
alo
M. Urban diz:
alo
M. Urban diz:
alo
M. Urban diz:
fale mais alto
M. Urban diz:
por favor a mariana
M. Urban diz:
alo
M. Urban diz:
alo
Mariana diz:
hahahahahahahaha
M. Urban diz:
ah! nao to ouvindo nada...tchau
M. Urban diz:
hahahahahahahahaha
Mariana diz:
é, foi bem interessante mesmo
M. Urban diz:
li teu mail
M. Urban diz:
mari....o que sao os nomes dos nossos coléguas que eventualmente seriam interessantes?
M. Urban diz:
adauto
Mariana diz:
uilson
Mariana diz:
edcliff
M. Urban diz:
hahahahahahahhaha
M. Urban diz:
a gente só se fode, é impressionante
Mariana diz:
eu tive a pachorra de contar
Mariana diz:
são 63 mulheres para 38 homens
M. Urban diz:
pqp
M. Urban diz:
e um deles ainda é o rafael
Mariana diz:
sendo que desses 38, 22 devem ser casados, 5 gays e o restante nasceu em 1985
M. Urban diz:
hahahhahahahahaha
Mariana diz:
viu que tem um rafael de araújo nascido em 1985?
M. Urban diz:
pra variar, vai sobrar a gente ficar amiga das meninas
M. Urban diz:
nao vi
Mariana diz:
hahahahahaha
Mariana diz:
te contar
Mariana diz:
tem um chamado jamer, mari
M. Urban diz:
jamer????
M. Urban diz:
puta merda
Mariana diz:
tem uns nomes que eu não consegui definir se são homem ou mulher
Mariana diz:
na dúvida, chutei mulher, o que é sempre mais provável
M. Urban diz:
ainda mais na hora da apresentação....vai ser fuerte
M. Urban diz:
vamos inventar pseudonimos tb?!
Mariana diz:
vamos
Mariana diz:
eu posso ser sandra rosa madalena
Mariana diz:
que além de tudo tem o maior tipo de socióloga
M. Urban diz:
hahahahhahha
Mariana diz:
e vc a heloisa helena, mari
M. Urban diz:
fechou
Mariana diz:
ainda rimam, veja só
M. Urban diz:
ou heleninha roittmann
M. Urban diz:
pra dar uma desestruturada
Mariana diz:
certo beibe

28 de novembro de 2007

E daí que a audiência de sábado foi daquelas comunitárias, alguma coisa como “ação social”, com milhões e milhões de pessoas esperando se empilhando umas por sobre as outras pra fazer RG, CPF, Carteira de Trabalho e afins.

Soube até que às cinco teria um casamento comunitário.

E eu lá, às nove, pra um divórcio. Rá.

E a fila era realmente enorme, eu mesma quis sacar de mi maquininha para tirar fotos e mais fotos para dar bem a noção da situation aqui para todos, mas fiquei tímida. Afinal, apesar de pelo jeito só eu saber que era sábado, não sei bem se tamanha informalidade caberia ali, eu de dotôra e tudo mais.

Mãs.

Distribuíram lexotan grátis pros funcionários todos, só pode. Que nem todo o entusiasmo e a abstração deste mundo poderia causar tamanho efeito de simpatia, alegria e boa vontade em pleno sábado de manhã. Ao menos não ao ver a fiiila que dobrava de tamanho de minuto a minuto.

Mas tudo certo, achei a cliente em meio à multidão, foi tudo muito amigável e tranqüilo e, mais ainda, o que muito me fez enxergar que as coisas poderiam ser tão piores foi que o colega adevogado da outra parte tinha nada menos que cinco (CINCO!) audiências naquele mesmo dia, todas espalhadas, sendo a primeira às nove e a última às três. Na região metropolitana. Ou seja.

Cala-te e agradece, ingrata.

Pra não chorar.

Manchete no correio d'O Globo in line de hoje:

Senadores terão que trabalhar segundas e sextas para aprovar CPMF.

Né.

Falei das audiências nos sábados?

*Longo suspiro*

23 de novembro de 2007

Eu tento.

Pois olhem, eu juro que tento arranjar tempo pra escrever e contar as novidades todas. Da viagem pra Foz, no casamento do ano, dos malamados da receita que engoliram meu rico denhenhinho em impostos na aduana pela tabela abessúrda deles mesmos e das beleuzas todas da flora e da fauna local.

E de como a vida ainda anda mais corrida do que nunca e sem previsão para melhoras.

E de como as festas de final de ano se aproximam.

E essas coisas.

Mãs.

Só o que consigo pensar no momento é que nem mesmo os finais de semana estão salvos na vida da pessoa, nunca mais.

Que não contentes em não ter mais férias forenses, e de todos os prazos e audiências continuarem acontecendo sem cessar por todos os dias do ano – a exceção de míseros recessos que jamais são suficientes para colocar a casa em ordem (sendo a casa, no caso, o escritório e suas pilhas de processo que se acumulam uns sobre os outros) – e, tudo mais que agora me perdi e não sei mais o resto do raciocínio.

Mas, não contentes, esses pulhas resolveram marcar audiências nos sábados. Nos sábados. No dia sagrado de descanso e de dormir um pouco que seja até mais tarde. Mas nãããão. Não há descanso. Nunca nunquinha. Que isso é para os fracos.

Porque agora as audiências são nos sábados. Sendo que eu mesma tenho uma amanhã às nove da matina na parte da região metropolitana que menos me apetece e mais far far away da civilização, sem placas, sem direção e com o fórum recém tendo se mudado. Sendo que, por conta disso e da minha total ausência de noção de tempo e espaço, terei eu que sair de casa umas seisemeia para dar conta da coisa. No sábado, repita-se.

E, não bastasse, tenho outra, de outro assunto totalmente diferente, na capitar mesmo, que o mocinho cartorário vem me intimar por telefone, coisa que adouro. Sendo sarcástica, é claro, que neste momento as distinções são mais difíceis, que eu sei.

Daí o mocinho cartorário falou que tinha sido adiantada a audiência, que estava marcada lá por abril do ano que vem, e que como ia me intimar por telefone, ele ia ler o despacho na íntegra.

Começou com o “blábláblá blábláblá blábláblá a conciliação fica designada para o dia tal de tal às novemeia”. Daí ainda deu aquela pausa sarcástica, o fiodamãe, e continuou: “ciente as partes de que esta data é um sábado”. E o silêncio premeditado para a reação do outro lado, no caso, moi.

A diversão né. A diversão dos mocinhos cartorários em ligar pros adevogados e dar as boas novas. Vingança do pipoqueiro, como diria minha mãe.

E eu aqui, oficialmente com menos tempo do que nunca.

Mas em breve, com muita fé, mais notícias. Com mais fé ainda, boas. Prometo.

18 de novembro de 2007

Idade da presunção: O autêntico período de presunção, nos homens de talento, está entre os vinte e seis e os trinta anos de idade; é o tempo da primeira maturação, com um forte resto de acidez. Com base no que sentem dentro de si, exigem respeito e humildade de pessoas que pouco ou nada percebem deles e, faltando isso num primeiro momento, vingam-se com aquele olhar, aquele gesto presunçoso, aquele tom de voz que um ouvido e um olho sutis reconhecem em todas as produções dessa idade, sejam poemas ou filosofias, pinturas ou composições. Homens mais velhos e mais experientes sorriem diante disso, e comovidos se recordam dessa bela idade da vida, na qual nos irritamos com a vicissitude de ser tanto e parecer tão pouco. Depois parecemos mais, é verdade – mas perdemos a boa crença de sermos muita coisa: que continuemos a ser, por toda a vida, incorrigíveis tolos vaidosos.


NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. Um livro para espíritos livres.

10 de novembro de 2007

Rímini entrou, fechou a porta com duas voltas na chave, pôs o rádio no último volume, como se quisesse ensurdecer um exército de microfones clandestinos, meteu-se na cama vestido e só então, coberto até o queixo, atreveu-se a olhar novamente a foto, a virá-la e ler o que haviam escrito do outro lado: Não quero falar com o culpado que confunde viver com fugir, esconder-se, "proteger-se" do que ama (e do que o ama). Quero falar (porque o conheço, porque me comove, porque vem antes de tudo) com o inocente que aos sete anos (você aí tinha sete, não?) iluminava as tardes com sua curiosidade e cobria os sapatos de pó. Se ainda está vivo, se ainda está em algum lugar (e eu acho que sim, que está), que bata três vezes nesta foto, e eu vou lhe abrir a porta.

O Passado, Alan Pauls

9 de novembro de 2007



Uma música* para Mary, nesse dia tão especial

Tranqüilo

Tranqüilo

Levo a vida tranqüilo

Não tenho medo do mundo

Não vou me preocupar

Tranqüilo

Levo a vida tranqüilo

Não tenho medo da morte

Não vou me preocupar

Que passe por mim a doença

Que passe por mim a pobreza

Que passe por mim a maldade, a mentira e a falta de crença

Que passe por mim olho grande

Que passe por mim a má sorte

Que passe por mim a inveja, a discórdia e a ignorância

Tranqüilo

Levo a vida tranqüilo

Que me passe

A doença que me passe

A pobreza que me passe

A maldade que me passe

Que me passe

Olho grande que me passe

A má sorte que me passe

A inveja que me passe

A tristeza da guerra

Tranqüilo

Levo a vida tão tranqüila

Não tenho medo da morte

Não vou me preocupar

*pra ouvir na voz da Bebel Gilberto

3 de novembro de 2007


Chuva.

Deixei o cabelo secar no vento. De pijama o dia todo. Lavei roupa. Saí de chinelo. Cheguei atrasada. Revi gente não vista há muito tempo. Me espantei com as diferenças. Vi o mesmo filme até de madrugada. Dormi mal. Dormi muito. Pesadelo. Chuva. Dias arrastados. Confusão. Más notícias. Roupa pendurada no varal há dois dias. Troquei as roupas do varal interno para o externo e vice-versa. Almocei sorvete às quatro da tarde. Brinquei com o cachorro na terra molhada. Faxina. Tirei o pó dos móveis. Mudei o lugar das coisas. Cheiro de cachorro molhado. Encontrei uns disquetes de 2000. Disquetes. Abri pra ler. Texto de 03 de novembro de 2000. Eu era outra pessoa. Essa outra pessoa se sentia amada. Tive saudades. Fiz as pazes. Dancei sozinha. Protelei. Chuva.

31 de outubro de 2007

"A verdadeira beleza vem da personalidade e nada tem a ver com a forma das sobrancelhas." (Charles Bukowski)

Bem podia eu ilustrar a frase com uma foto minha aos 12 anos, retrato fiel do que a forma das sobrancelhas pode avacalhar uma pessoa.

Muitos traumas de infância me renderam as sobrancelhas.

Já falei, né, que elas não paravam no lugar. Coisa que se poderia ter resolvido com bastante facilidade, mas minha mãe devia ser meio naturalista e achar que eu devia ser também.

Por isso, não posso dizer que concordo, sendo assim bem tongolina e limitando os sentidos poéticos da frase unicamente ao sentido literal das palavras, que, para mim, que as sobrancelhas domadas contam um bocado, se não na beleza, no bem-estar da pessoa, e este há de refletir conseqüentemente na harmonia das formas.

Mas tu podes, querido Buk, tu podes dizer qualquer coisa que eu me recolho.

29 de outubro de 2007

Tudo foi brincadeira, tudo o que falamos, tudo o que imaginamos, tudo o que faríamos se não fosse uma brincadeira. Quando eu disse que podia, quando eu disse que queria, quando eu disse o que sentia por você. Foi brincadeira seus braços estendidos como se fossem fechar em mim, minha doação de pernas pela sua linguagem, quando avisei que os pássaros morreram no mesmo dia nas gaiolas da janela e que o silêncio era agora insuportável, porque o silêncio lembrava o que ele substituiu. Tudo foi brincadeira, um homem aceita que é brincadeira, mente que é brincadeira, porque a mulher perguntou se ele estava falando sério, a mulher desacreditou dele no exato momento em que ele mais acreditava, no momento em que ele treinava o sopro, no momento em que iria expor que a amava, no momento em que ele reaprendia a confiar. Antes de levar o fora, o homem dá o fora em si. Tudo foi brincadeira, o homem vai esclarecer, o homem vai se arrepender, o homem vai disfarçar para se proteger, para não se diminuir, fechará a mão com o alpiste dentro, com a carta latejando dentro e ninguém mais decifrará a sua letra. Fracassará mais uma vez em sua esperança. Ficará mais uma vez com sua reputação. Ele aceitará o riso a contragosto, voltará atrás como quem é flagrado roubando a mãe. Ela dirá: ainda bem. Ele dirá: não tinha como ser verdade. Ela vai confessar que levou um susto. Ele pedirá desculpa pelo mal-entendido. Ela vai suspirar de alívio com o engano. Ele vai fingir que não pensava diferente. Ela vai afirmar que só o enxerga como amigo. Isso vai doer nele, vai doer nele não ser o homem certo para ela e tentará não mostrar que está sangrando. Seguirá caminhando com a cabeça erguida até o fim da cicatriz, até que o joelho de sua boca canse de sangrar o mesmo sangue. Tudo foi brincadeira porque ela zombou da possibilidade do amor e ele se acovardou e calçou novamente os sapatos e se viu nu enquanto ela ia e recolheu os cabelos que cresciam de seus cílios. Tudo foi brincadeira, o pescoço de hortelã, as infâncias sentadas no portão de ferro controlando a cor dos carros, a fome esquecida para ficar mais tempo juntos. Tudo foi brincadeira, as confissões, a cumplicidade, a intimidade. O período em que fiavam seus segredos, que se confessaram como nunca antes, que se planejaram como noivos, que se abriram como amantes. Tudo foi brincadeira, tudo será sempre uma brincadeira sádica, uma brincadeira cruel, quando apenas um dos dois estiver amando.

Fabricio Carpinejar

Dúvida:

O BOPE do "Tropa de Elite" é o mesmo do "Ônibus 174"?

26 de outubro de 2007

E Paulinho da Viola, que amo de todo o meu coração:

Coração Vulgar

Morre mais um amor num coração vulgar
deixa desilusão a quem não sabe amar.

E quem não sabe amar há de sofrer
porque não poderá compreender
que o amor que morre é uma ilusão,
e uma ilusão deve morrer

um verdadeiro amor nunca penece
que pouca gente ainda o conhece
meu bem, se o seu amor morrer,
é porque ninguém o entendeu
deixa o teu coração viver em paz
o teu pecado é querer amar demais.

Da Tati, que eu leio com tanto amoRR e que está se despedindo do mundo bloguístico.

Com mil pedidos de licença:

"O amor que morre é uma ilusão

minha porção amélia tá em alfa. to com saudade do meu amor. vontade de ser gueixa quando ele voltar. deixei os cachos. lavei roupa. esperei telefonema. acreditei quando ele disse que me ama. nem aí de ser ou não corna. coisa que nem passa pela cabeça quando a gente confia. sem espaço na minha porção amélia carente cantando. tô mulher até dizer chega. sua mulher. exibindo minha coleira. nem aí pras feministas, pros sutiãs queimados, pra fogueira. to louca. repartida. acho que você me carrega junto. enamoradamente iludida. apaixonada. brega. cega. amélia de você.

(e uma ilusão tem que morrer. Paulinho da Viola)"

25 de outubro de 2007

Descobri a América ou O que a yoga pode fazer por vc.

Fala-se em 'eu fundamental' e em papéis.

Para praticar yoga, vc, preferencialmente, deve deixar os papéis que desempenha em sua vida de lado e se concentrar na respiração, observar a sua mente, como um ser consciente, etecétera, etecétera...

A ‘prática’, inclusive, tem o condão de te trazer para o momento presente, já que se concentrar em tantas coisas ao mesmo tempo, coisas normalmente ignoradas, impede a mente de ir por outros caminhos.

Como quando a minha lombar parou de doer numa posição lá pelo simples fato de eu respirar direito, seguindo os 5 passos, primeiro o ar acima da linha do umbigo, costas atrás, costas laterais, costas encima e peito, ou qualquer coisa do gênero (jamais decoro). O pranayama. Adouro as palavras.

Quando vc deixa os papéis de lado, as ansiedades devem ficar de lado igualmente, porque as ansiedades pertencem aos papéis.

A vida inteira eu achando que as ansiedades eram minhas. Mas não, são dos papéis. E o meu eu fundamental, a minha verdadeira natureza, é livre, é tranqüila e é feliz.

\o/

22 de outubro de 2007


Wagner Moura, eu tô te querendo.

Muito mesmo.

Já estava sem assunto nas rodas, mas resisti bravamente e só assisti "Tropa de Elite" no cinema. Também porque meu aparelho de dvd não funciona com cópias, é verdade. Mãs, ainda assim, por nada neste mundo que perderia de ver pela primeira e, por isso, inesquecível vez o "filme-fenômeno" na grande tela.

É realmente um filme-fenômeno.

E Wagner Moura, eu realmente quero casar com vc. Quanto talento, quanta entrega, quanta verve, não?

E quanto besteirol dessas pessoas taxando o filme de fascista. Não não. Por um lado, bom, que a polêmica abriu de fato um canal de discussão sobre a violência urbana e o tráfico de drogas, coisa que futuro marido meu percebeu muito bem e comentou neste artigo aqui.

Achei até lúdico o filme, que me fez lembrar a velha infância em que brincava de Kate Mahoney e achava que ser puliça era o máximo da aventura e do orgulho de viver. Em épocas em que somente os vilões são admirados e gostados, nada mal ter um anti-herói balançando o coreto.

Para conhecimento:

"Anti-herói é o termo que se emprega para alguém que protagoniza atitudes referentes às do herói clássico, mas que não possui vocação heróica...São personagens não inerentemente maus e que, às vezes, até praticam atos moralmente aprováveis.

Contudo, algumas vezes é difícil traçar a linha que separa o anti-herói do vilão; no entanto, note-se que o anti-herói, diferente do vilão, sempre obtém aprovação, seja através de seu carisma, seja por meio de seus objetivos muitas vezes justos ou ao menos compreensíveis, o que jamais os torna lícitos.

Há mais de um tipo de anti-herói.

(...)

Ainda há o tipo de anti-herói que é bem próximo do herói, mas segue a filosofia de que “o fim justifica os meios”. Esse último é bem popular nos quadrinhos, dentre os quais pode-se citar Wolverine, Justiceiro, ..."

Acho que é quase isso.

E, puliça de toda a parte, fiquem contentes com o filme, que ele contribui para as pessoas pensarem na profissão de vcs com uma certa ternura, agradecendo a Deus que ainda existam pessoas que topem este tipo de coisa, sem muitos porquês compreensíveis neste mundo do cada um por si.

E a classe média hein? Alguém já disse que a classe média é fascista. E, ironia, é a classe que faz o bonde andar.

Perigoso falar sobre este filme, que parece que cada mínimo comentário a respeito pode transformar o opinante em algum tipo de monstro insensível e horroroso. Mas todos pagarão o preço que, ao mesmo tempo, ninguém vai querer ficar fora dessa.

21 de outubro de 2007

You give a little love

and it all comes back to you.

17 de outubro de 2007

Daí que eu sou uma das remanescentes do orkut.

Não sei bem até quando, mas vou indo.

Que agora a pessoa me ‘add’ porque temos nomes ‘praticamente iguais’, segundo ela. Sendo o sobrenome o mesmo e o nome dela, Krol.

Krol, vejam bem. K-rol, eu acho. Presumo. Assim, na minha ignorância.

Todo um esforço para não ler Cróu.

E daí pela quase que identidade de nomes a pessoa acha que rola toda uma identificação pessoal, sabe como. Incrível isso.

Vejam que a Cróu gosta de jogar vôlei e tomar tererê. Ela lê Poliana Moça e o Mistério da Casa Verde. Juro.

E escuta Nx Zero, Marjorie Estiano, Pitty, Pimentas do Reino (não perguntem), Papas na Língua, Wanessa Camargo, Ivete Sangalo, Victor e Léo (idem). Verdade verdadeira. E assiste Pânico na TV.

Ou seje.

A gente demora duzentos e vinte e cinco anos para entrar neste mundo bizarro, e quando entra, lembra logo de cara porque ficou tanto tempo longe.

Mas eu continuo, não saio, que eu gostcho. Só pode.

21 de setembro de 2007


Maluco beleza


Com tubos de PVC colados ao corpo com fita adesiva, um relógio digital, fios de eletricidade, usando uma peruca loira e óculos de sol e vestindo uma jaqueta feminina, o jardineiro Antônio Marcos dos Santos, 22 anos, ameaçou causar uma explosão. Ele invadiu a casa de uma de suas clientes, na Rua Manoel Bonifácio, Costeira, em Paranaguá, às 6h45 de ontem, e assustou a mulher, de 55 anos.
Marcos limpou o quintal da mulher esta semana e foi pago pelo serviço. Para tentar conseguir mais dinheiro, ele se fantasiou de mulher e foi procurar a cliente. Ao ser atendido, abriu a jaqueta e mostrou a “bomba”, exigindo dinheiro. Sem imaginar que era seu jardineiro, a mulher passou mal. Mesmo assim, conseguiu telefonar para a Polícia Militar.
O capitão Marcelo Figueiredo, do 9.º Batalhão da PM, disse que quando os policiais chegaram, cercaram o rapaz e apontaram armas. Assustado, Marcos urinou na calça, ergueu os braços e avisou que a bomba não era verdadeira. Foi lavrado termo circunstanciado por ameaça e Marcos foi liberado.

No interior do Zaire é assim, tem até homem bomba...

19 de setembro de 2007


Show da Madeleine amada em Sumpaulo ontem.

Te contar.

E ela veio pra cá, em 2005, quando eu não fazia idéia do desbunde e já tinha gastado todo o meu dinheiro pra ver Eddie na Pedreira.

Seria muito sonhar com o dia em que poderemos desmarcar compromissos profissionais, gritar em alto e bom som “as audiências que se explodam”, pegar um avião numa terça-feira, ir pra Sumpaulo assistir Madeleine e voltar no mesmo dia, sem que isso signifique ainda um rombo nos orçamentos financeiros dos próximos meses?

13 de setembro de 2007

Coisas de papai



Ele faz dessas e até esquece, deve ter ficado uns dias ali, e eu só vi hoje de manhã.

Isso que ele é um homem ocupado, vejam.

Mas o causo é que a gente foi pegar não lembro o que de uma caixa, e veio junto esse Papai Noel, que na verdade é um enfeite de árvore de Natal. Daí ficou dando bobeira por lá e foi o que bastou para a mente fértil de seu Cosme.

É a genética me dizendo que não, não há salvação.

* Pra quem não enxergar ou não entender os hieróglifos: "Onde estou?! O que aconteceu? Quem acelerou o maldito trenó? ... 'Tá tudo muito estranho... ou... será que eu cheguei muito cedo?".

12 de setembro de 2007

Edward Hooper. "Excursion into Philosophy"

"E estavam em Amsterdã. Abriu os braços. Tão oco. Leve. Poderia sair voando pelo jardim, pela cidade. Só o coração pesando - não era estranho? De onde vinha esse peso? Das lembranças? Pior do que a ausência do amor, a memória do amor."

(Lygia Fagundes Telles, em "Lua Crescente em Amsterdã")

8 de setembro de 2007

Razões & Balanços

Pois dando seqüência à série “Abandono total do blog: a justificativa”, eis que finalmente re-apareço, depois de inacreditáveis e aceleradíssimos três meses e onze dias de sumiço virtual.

A vida, como muito bem disse Merilú, está mais dura do que nunca.

Não só pela correria de sempre com a falta de dinheiro usual, mas principalmente pelo acúmulo de anos da junção desses dois ‘fatores’, que faz a pessoa quase ter um peripaque no auge de seus recém completados vinte e nove anos.

Hora de pensar se vai ser o caso de se passar o resto da vida resolvendo os problemas alheios mesmo. Ou se finalmente vai ser colocado em prática o Plano B, de fugir para a praia e viver de amor & pesca.

Não acredito que chegue a este extremo, mas uma saída alternativa é a solução única que surge, brilhante e piscante, no fim desse túnel praticamente infindo em que nós mesmos nos colocamos. Solução única, bem entendendo, caso se queira chegar saudável aos quarenta. Se isso não for preocupação, o estilo de vida atual pode prosseguir.

Mas, no meu caso, é.

E todas essas reflexões são feitas, somadas à crise da qual inocentemente achei que estava alheia – a da chegada dos inta –, sem que a pessoa tome a decisão de uma mudança radical, porque algo por demais tradicionalista e extremamente careta ainda a prende em seguir a profissão para a qual foi preparada por cinco anos de faculdade, e seis outros de experiência prática.

E não que eu não goste, veja bem, que eu não sou assim tão louca. Há coisas que eu gosto, e muito. Tirando os atendimentos pessoais, os prazos curtos e sucessivos e todo aquele trabalho político de bastidores, eu gosto da coisa toda. Mesmo. Só que tirando tudo isso, sobra uma profissão bem diferente da atual, eis o problema.

Mãs.

Chega da rabugice.

Os vinte e nove me foram muitíssimo generosos e o balanço, no final das contas, é berrantemente positivo. Graças.

Amizades verdadeiras e duradouras. Daquelas que tanta gente passa a vida toda procurando ou tentando se convencer que tem, mas que não sabe nem de longe a felicidade de realmente tê-las. Um alívio, um alento. Ar fresco para se respirar nas turbulências. Né, filhas? E filhos também. Obrigada a vocês então, do fundo do coracebo, por essa coisa toda de a gente se fazer cada vez melhor uns aos outros.

Um amor tranqüilo, sem sabor de fruta mordida, mas daqueles que dão a força que nos falta, que nos faz imaginar como é que passaria por tudo isso sem ele, e agradecer por esta sorte imensa de ter as diarices mais banais acompanhadas de perto por alguém tão afim, sabe como. E de encontrar um companheiro fiel e incansável para se passar por esta existência às vezes tão ingrata. Né, cara de boi?

E a familiagem de ouro, por assim dizer. Criam, alimentam, educam, e depois ainda mantêm as bases e não cansam de receber e entender. O tal do amor incondicional. Acho que também não são todos os que passam por aqui contando com mais esta certeza, esta segurança, não importa como e nem porquê. Então, agradecidas a vocês por primeiro e também, família buscapé.

Duzentos e vinte e cinco assuntos misturados, vinte e nove anos mais confusos e agitados do que nunca, e eis que o balanço positivo surge, pra gente parar de se lamentar por pouco ou quase nada, perto da grandeza das cousas outras.

5 de setembro de 2007

Ouquei. Abandono total do blog.

Mas há razões. Inúmeras.

Jamais trabalhei tanto em toda-minha-vida, e também passo por período de reclusão quase que total, não fossem os festejos comuns por virem, como o casamento da Anna no sábado, e chá de panela na sexta, e níver de Kerol na quinta e níver da Day no sábado e Mi mudando de cidade na próxima semana, tudo ao mesmo tempo e agora.

Aliás, parabéns e mis felicidades para as aniversariantes e para os nouvos!!

Agitadíííssimo será o feriado da pátria. Nos anteriores em que tentei ir para a praia, caíram raios e trovões, agora que o feriado necessariamente será na terrinha, o sol se abre para nós e é possível usar sandália em Curitiba.

A vida é tão irônica...

E estamos em setembro. E mais um pouco veremos anúncios de Natal.

2007 era previsivelmente o ano das agitações e assim se confirmou, que a vida nunca foi tão dura, minha gente.

Vi um filme lindo, ao menos. Há meses atrás, e me ensaiei algumas vezes pra falar dele aqui, mas...

Baseado no livro “O Véu Pintado” de W. Somerset Maugham, no cinema virou “O Despertar de Uma Paixão”, com Edward Norton e Naomi Watts.



O nome não vai pegar nunca, mas o filme é lindo, a história é linda, e é um respiro no meio do tédio cinematográfico dos últimos tempos.

É isso, então.

A idéia é voltar logo na seqüência!

7 de agosto de 2007

Prosseguindo com o monotema...

Santiago, que já chegou lá, explica-nos o processo:

"Verdade que em dias como hoje não sei se estou com frio, se estou com fome, se é só gula, carência ou sono. Carência que faz ter frio. Ou frio que faz ter fome. Gula pela carência. Frio que me faz querer...

Continuando com a crise de meia-idade, fiquei pensando que não se pode mesmo confiar em ninguém com mais de 30. Essas pessoas nem sabem se têm frio, se têm fome, se estão só carentes, com sono ou recalcadas.


A verdade, é que depois da "passagem" a gente acredita que tem de ficar mais adulto... ou mais sofisticado. Ou a gente fica com preguiça do esforço, do ímpeto e da transgressão, e acaba se conformando com tanta coisa que a gente nem acredita.

Tenho me pegado tanto analisando meus valores. Acho que estou me tornando uma pessoa pior. Acho que meus valores são discutíveis. Mas então, encontro as pessoas que estudaram comigo, as pessoas da minha idade, as pessoas mais velhas, dos mesmos círculos, e elas estão todas assentindo e reafirmando os maiores absurdos que eu pratico, mas não concordo. Elas estão reafirmando valores em que eu penso, mas não admiro. Elas se permitem indulgências, deslizes, futilidades e as elevam para categoria de qualidade.

(...)

Por isso eu digo: faça enquanto é tempo. Faça cedo. Busque logo para você os rótulos de revelação, promessa, prodígio. Tudo o que você conquistar depois não terá graça, não terá validade, será apenas sua obrigação. E cada comemoração na sua vida virá acompanhada de uma dor nas costas."

Pombas.

Rolou assim uma identificação faraônica com a descrição toda.

Abster-me-ei de comentários, que muito provavelmente só repetisse as mesmas palavras.

Mas, ...é por aí.

É muito por aí.

6 de agosto de 2007

Eu tenho 12 anos

Esses dias vi na tv a chamada de um filminho cuja história era a de uma menina de 13 anos que teve atendido o seu desejo de acordar o dia seguinte com 30 anos.

Mas ela passou a ter 30 anos e um corpo de mulher e continuou tão inábil e envergonhada como são as meninas de 13 anos.

No meu caso, eu tenho 12 anos, a situação é inversa e isso não é, propriamente, um desejo meu.

Doze porque além de doze ser mais sonoro, meus 12 anos foram o momento mais crítico da minha existência, graças desde às minhas sobrancelhas que não paravam no lugar e à minha mãe nunca ter aprendido a fazer escova no meu cabelo até o meu sublime e eterno amor colegial não correspondido, razões todas que me levavam a querer desesperadamente pular a fase crítica e acordar adulta. 30 anos era uma boa pedida.

Mas o que eu não podia contar é que em tendo quase 30 eu voltasse a ter as mesmas reações debilóides que me acometiam aos 12 anos, do tipo ter ataques de riso porque o rapazinho mais-ou-menos-interessante (que também está na faixa dos 30, se não mais) surgiu do outro lado da rua, e, pra disfarçar tamanho sem graça, fingir procurar coisas inexistentes dentro do porta-malas do carro; ou, pior, sequer conseguir olhar para o moço apontado pela amiga (que é interesse dela, veja bem) sem ser flagrada e sem conseguir conter os espasmos aqueles que antecedem os ataques de riso, com direito a se esconder atrás da primeira pilastra, com a intenção vã de não ser vista.

Não dá.

Não dá mêischmo.

Pra completar, ainda escrevo diarinho na internet contando a situaçã.

Será uma reação natural à passagem da idade? Digo isso porque ao menos tenho a felicidade, se é que dá pra considerar assim, de não passar por micos do gênero desacompanhada, já que minhas amigas, igualmente balzaquianas, estão juntinho à mim nesta regressão e não auxiliam, absolutamente, na incorporação do jogo de sedução que era no mínimo uma obrigação aos quase 30 saber usar.

Um pouco menos mal.

...

Ou não.

30 de julho de 2007

Modigliani

26 de julho de 2007

Eu escolho a Fal!

Sai Pires e entra Jobim? Sério? É essa a solução do Lulalelé pra crise? Não, sério mesmo, tipo, é sério? Eu perdi algum capítulo, foi isso? O mundo acabou, vcs não me avisaram e a vida é assim mess? Então vão por quem na presidência da Infraero? A Soninha? O Sérgio Malandro? Eu? Escolhe eu tio, Tio Jobim, eu, eu, eu!

25 de julho de 2007

Só a yoga salva


A yoga foi decidamente a melhor coisa que inventei nos últimos anos. Aquela frase lá do “viver é reinventar a vida a cada novo dia”, eu tenho levado ao pé da letra, de maneira que minha vida tem se resumido a invenções de toda a ordem.

Fazia tempo que eu não me sentia assim, com essa sensação de primeiro dia do resto de nossas vidas. De acordar para o dia em que as coisas podiam ter sido, mas não foram.

Viver na mornidão tem suas vantagens, mas, em contrapartida, tudo se torna tão mais avassalador quando acontece. E quando não acontece também.

Lendo isto, o Thi lembraria imediatamente da frase bíblica que diz: “Seja quente ou seja frio. Não seja morno que eu te vomito”.

Mas, aí, a gente vai pra yoga, completa uma dúzia de posições e reaprende a respirar usando toda a capacidade respiratória.

É consolador.

Da nossa Rainha:

Apetece-me

Apetece-me tomar-te de assalto e fazer-te refém das minhas vontades.
Do meu afecto.
Apetece-me que te apeteça também.
Apetece-me ser crescida e poder ter destes apetites.
Apetece-me dar mais de 21 gramas a uma alma magra de alegrias.
Apetece-me não me enganar.
Apetece-me que não me enganes.
Apetece-me guardar o passado e aguardar o futuro.
Apetece-me que os afectos tenham uma existência concreta.
Apeteces-me. Sem aditivos. Sem corantes. Mas com conservantes.

9 de julho de 2007

Hoje, como era de se esperar, presenciei minha primeira experiência de rebelião da plebe rude contra a trilha sonora que embala a todos nós, proletários, a caminho do trabalho, no transporte coletivo.

Alguém trouxe um rádio e ligou um reggae bem alto, enquanto ao fundo, 'As Rosas não Falam', instrumental, tentava acalmar as pessoas usuárias do ônibus, numa segunda-feira cedo.

Veja que são músicas de classe. A música escocesa não é ruim não, pelo contrário, e ‘As Rosas não Falam’, bom, ...essa menos ainda. Mas as pessoas curtem o barulho, não adianta. Quanto mais ruído e mais volume, melhor. Não basta o horror no que o transporte coletivo pode se transformar em determinadas horas do dia, as pessoas gostam mesmo é de piorar o que já é ruim.

É uma tendência mundial? Porque eu não faço parte. Eu não faço parte de nenhum grupo de maioria, na verdade, mas, ainda assim, imaginava eu, seguindo o bom senso coletivo, que a musiquinha instrumental colaborava para a pacificação das massas.

As pessoas devem se irritar por alguém estar tentando acalmá-las, deve ser. Ovelhas insubordinadas. Uma pena que não se insubordinem pelas razões devidas.

3 de julho de 2007

A gente vê que ficou pra titia quando a nossa chefe passa a comentar de todo e qualquer cliente, remanescente solteiro mais ou menos apresentável, com os olhos brilhando e o ar de quem sugere, no melhor estilo da querida e saudosa Cris: TUA CHANCE, Mariana!!

As pessoas se incomodam com os solteiros não?

Sempre partem do pressuposto de que se não tem, está procurando, e, se não está procurando, é uma dissimulada da pior espécie. Bom, devo ser uma dissimulada da pior espécie, mas não por outra razão, além da de manter comigo a absoluta convicção de que certas coisas não se procuram, ...apenas se encontram, graças a alguma conjunção astral favorável.

E acredito piamente de que nada, mas nada mesmo que vc faça com o intuito de fará alguma diferença no andar da carruagem.

Falamos de 'encontro', bem entendido. Após o encontro, existem aquelas outras cento e cinqüenta mil variantes/determinantes que fatalmente levarão ao fim, com poucas e cada vez mais raras exceções honestas.

Mããs, a variante “total inabilidade para a conversação com qualquer ser do sexo masculino desconhecido mais ou menos apresentável” deve ter algum peso na manutenção do statu quo solteiro, passo a ponderar.

Sim.

...

Certamente que sim.

No ônibus, música instrumental escocesa, ou, algum outro álbum que bem poderia ser a trilha sonora de "Coração Valente" e ter um clip em que Mel Gibson corre pelas montanhas do Reino Unido de saia xadrez pregueada;

Andarilha vestida de quimono preto florido e com um coque no alto da cabeça que estende um tapete (que costuma carregar nas costas) na grama da praça e começa a dançar sozinha e a girar com os braços abertos;

Casinha branca bucólica escondida no Alto da XV ocupada por pessoas vegetarianas que usam nomes zen, cantam mantras indianos e tocam pianinho com fole.

Às vezes a vida se parece demais com alguma coisa que não existe.

1 de julho de 2007

Essa idéia de que o amor para ser completo deve incluir o momento da separação já foi tema de um dos textos do Jamil Snege, com o qual, apesar de me agradar a poesia, jamais concordei, o que me deixava naquela posição desconfortável de discordar de alguém que se admira e a quem, até então, eu somente lia assentindo positivamente com a cabeça. Tinha a impressão de que a intenção era apenas a de criar polêmica, mas vejo que a idéia é antiga e até bastante propagada.

Passei a estranhar menos, no entanto, depois de ler a uma entrevista em que ele falava sobre o assunto e explicava o seu ponto de vista à entrevistadora:

"Sim, os grandes amores sempre se acabam. Todos nós precisamos de um grande amor finito, interrompido, para continuarmos a crer na infinitude do amor. (...)

Lembrei-me então de um conto de Graham Greene, que li há muito tempo, chamado "Visita a Moritz". Um sujeito muito rico tem uma doença crônica aparentemente incurável. Depois de percorrer os grandes centros médicos do mundo, informam-lhe que vive em Moritz um obscuro doutor em cujo histórico clínico registram-se casos de cura da rara doença. O homem viaja a Moritz e hospeda-se num hotel. No dia seguinte, pela manhã, sai a caminhar pela pequena cidade e logo localiza o endereço do médico. Uma rua aprazível, um chalé com um belo pé de tília no jardim. Aquela atmosfera acolhedora anima-lhe a visita. Mas ele não chama pelo doutor. Não entra. Limita-se a contemplar a casa, a modesta placa de madeira que a brisa matinal balança. Retorna ao hotel e na mesma noite inicia a viagem de volta.

Minha entrevistadora sorri. A fita acabou finalmente. Desnecessário explicar-lhe o óbvio. Conservar viva uma esperança, mesmo que para isso tenhamos de renunciar ao objeto de nossa busca."

O amor é um lugar estranho.

Temos que aceitar (e suportar) que, sobretudo entre apaixonados, a comunicação é basicamente equívoco, mal-entendido, erro de interpretação, e que tudo o que os amantes podem inventar juntos sempre inventarão sobre as ruínas da comunicação, não sobre seus êxitos.

Alan Pauls, escritor argentino, em entrevista sobre o seu mais novo e badaladíssimo livro "O Passado".

25 de junho de 2007

Deixemos as mulheres apenas bonitas para os homens sem imaginação.

Marcel Proust

22 de junho de 2007

O abandono do blog querido.

É que a coisa tá preta, minha gente. Preta mêischmo. A tendinite no pulso já denunciava o stress percorrendo o corpo da pessoa, além da mente que já não descansa, né, não tem jeito. Agora os efeitos do esgotamento estão se generalizando, ao ponto da pessoa só estar no aguardo de pifar, mas pifar assim miseravelmente, numa coisa muito óbvia e básica do desenvolvimento das atividades profissionais.

E a academia, meu deus!!!

E os exercícios físicos, sem os quais a pessoa não conseguia viver sem por muito tempo?

O horror do sedentarismo, a ausência de vontade para toda e qualquer atividade saudável e geradora de energia.

Vejam, reparem só, o início, o prenúncio do que está por vir:

Fernanda diz:
bonjour mary
Fernanda diz:
viu o email daquele cretino?
Mariana diz:
oi fer
Mariana diz:
acabei de ler
Mariana diz:
tô bufando
Fernanda diz:
é uma piada né
Mariana diz:
vou responder o email desse pulha


(...)

Mariana diz:
fer, acabei de mandar email pra ele
Mariana diz:
já chegou aí pra vc?
Fernanda diz:
chegou
Fernanda diz:
ótimo mari
Fernanda diz:
apesar de q eu acho q não vai surtir efeito nenhum
Mariana diz:
sim,
Fernanda diz:
esse idiota vai continuar tirando o corpo fora
Mariana diz:
mas que falta de tudo viu
Fernanda diz:
e mandando a gente se virar
Mariana diz:
mas vê se tem cabimento a gente simplesmente se atravessar
Mariana diz:
o professor não sabe nem de que buraco a gente saiu

Fernanda diz:
sim, bem isso
Fernanda diz:
qdo eu acho q eles já fizeram de tudo
Fernanda diz:
me vem esse pateta lavando as mãos
Mariana diz:
fer, eu tô escrevendo um email aqui pro blublublu
Mariana diz:
queimando um pouco a minha cara
Mariana diz:
um pouco mais, melhor dizendo
Fernanda diz:
aproveita pra queimar a cara da bliblibli
Fernanda diz:
diz q pedimos pro xxxx q intermediasse o contado
Fernanda diz:
mas q não obtivemos qualquer resposta
Fernanda diz:
e q estamos abandonadas a propria sorte

(...)

Mariana diz:
viu a resposta do cara?
Mariana diz:
conseguiu falar e não dizer nada
Mariana diz:
perguntei objetivamente como devemos proceder
Mariana diz:
vc entendeu o que é pra gente fazer agora?
Fernanda diz:
eu acho q ele só deve ter encaminhado o nosso email pro cara agora
Fernanda diz:
e mandou a gente se virar
Fernanda diz:
simples assim
Fernanda diz:
note q ele nunca está errado e sempre faz o q tem q ser feito
Mariana diz:
síndrome de bom moço


(...)

Mariana diz:
viu essa?
Mariana diz:
mandou agora o email pro blublublu
Mariana diz:
te contar viu
Fernanda diz:
eu disse, só depois da tua cutucada é q ele se coçou
Fernanda diz:
ahhhhhhhhhhh
Fernanda diz:
q vontade de avançar nesse mané
Mariana diz:
ave
Mariana diz:
viu isso?
Mariana diz:
agora ele desatou a escrever pros professores
Fernanda diz:
pois é



(...)

(...)

Mariana diz:
fer
Mariana diz:
fer fer fer
Mariana diz:
meu deus
Mariana diz:
diga que eu não fiz isso
Mariana diz:
diga que eu não fis
Mariana diz:
fizzzzzzzzz
Mariana diz:
isso é hora pra erros de portugues
Fernanda diz:
hã?
Fernanda diz:
do q vc tá falando?
Mariana diz:
fer de deus
Mariana diz:
eu respondi o teu email para o xxxxx menina
Mariana diz:
aquele em que vc disse que ele não teve a decência de enviar o email pro professor
Fernanda diz:
como assim?
Mariana diz:
eu não acredito
Mariana diz:
eu preciso de férias realmente
Fernanda diz:
meu deeeeeeeeeeeuuuuuussssssss
Fernanda diz:
eu te mato
Mariana diz:
olha o que eu tô fazendo
Fernanda diz:
orra, orra, orra
Mariana diz:
duas vezes ainda
Mariana diz:
não fer
Mariana diz:
mil perdões
Mariana diz:
eu quero morrer
Fernanda diz:
eu tacando a boca no cara
Mariana diz:
jesus maria josé
Mariana diz:
me desculpe
Fernanda diz:
bom, eu falei a verdade né
Fernanda diz:
ele não tinha passado email nenhum até então
Mariana diz:
sim
Mariana diz:
brincadeira isso
Mariana diz:
eu sou um perigo
Fernanda diz:
é mesmo!
Mariana diz:
eu represento perigo para os demais seres humanos
Mariana diz:
eu tenho que tirar uma licença
Mariana diz:
licença saúde
Mariana diz:
não, ...ele vai achar que eu realmente quis passar o email com o teu comentário porque foram duas vezes
Fernanda diz:
duas???????????
Fernanda diz:
ai deuso
Fernanda diz:
ai deuso
Fernanda diz:
mariana do céu
Fernanda diz:
tu me mata
Mariana diz:
eu preciso ser afastada, tô falando
Mariana diz:
eu mandei um último email agradecendo a atenção, depois que ele mandou a enxurrada de emails dele
Mariana diz:
bom, ao menos, (eu sei que não melhora muito), mas ao menos, os últimos emails foram educados
Mariana diz:
eu vou me desculpar até o fim da minha vida, viu fer
Mariana diz:
e vou ajoelhar no milho hoje
Fernanda diz:
hahahahahahaha
Fernanda diz:
eu até fui polida com ele
Fernanda diz:
pelo menos não chamei de pateta
Mariana diz:
sim, graças
Mariana diz:
graças ao bom Deus
Mariana diz:
e do jeito que ele é confuso, não vai saber quem escreveu pra quem
Mariana diz:
pode ter sido eu mesma

11 de junho de 2007

Dois ou três almoços, uns silêncios.
Fragmentos disso que chamamos de "minha vida".

Caio Fernando Abreu

Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos. Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas. Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece. De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia. Era isso - aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

8 de junho de 2007

"O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança."

Do Gabriel, o Garcia Márquez, em "Memórias de minhas putas tristes".

6 de junho de 2007

Diálogo construtivo...

Rafael diz:
e ae
Rafael diz:
vamos?
Mariana diz:
vamos
Mariana diz:
depois de mais de uma semana
Rafael diz:
deixei de ir no meu pai pra falar com vcs
Mariana diz:
muito bem!
Rafael diz:
pq estou com muita, mas muita saudades mesmo
Mariana diz:
5 estrelinhas para ti
Mariana diz:
hahahahahahahaha
Mariana diz:
siiim, mas faz mais de uma semaaana menino
Mariana diz:
trouxe teu cachecol todos os dias
Mariana diz:
e não pude entregar
Rafael diz:
hahahahah
Rafael diz:
eu pensei que nunca mais veria esse cachecol
Rafael diz:
ja tava dando ele como extraviado
Mariana diz:
nossa
Rafael diz:
hahahahaha
Mariana diz:
estando comigo jamais dê nada por perdido, mon ami
Rafael diz:
ainda bem, ainda bem
Mariana diz:
eu cuido muito bem do que não é meu e devolvo nas mesmas condições
Mariana diz:
don't worry!
Mariana diz:
be happy!
Mariana diz:
:D
Rafael diz:
I believe in you
Rafael diz:
e o feriadovisk?
Mariana diz:
trabalharei, naturalmente
Mariana diz:
e amanhã quero dormir 24 horas seguidas
Mariana diz:
e quero fazer compras no sábado
Mariana diz:
e quero férias de 30 dias agora mesmo
Rafael diz:
nossa
Rafael diz:
eu pensei em sair hj
Rafael diz:
tomar todas
Rafael diz:
amanhã, tomar todas
Rafael diz:
sexta, trabalharei tb
Rafael diz:
mas quero ver se vou no mercado municipal comprar uns vinhotes
Rafael diz:
sexta a noite, beber todas
Rafael diz:
e pegar umas muiés
Rafael diz:
sabado, idem
Mariana diz:
hahahahahahahaha
Rafael diz:
hahahahahah
Mariana diz:
uau hein
Mariana diz:
que super programação
Mariana diz:
e eu, na minha infinita ingenuidade, só queria dormir e fazer compras
Rafael diz:
pois é
Rafael diz:
mari, estou apaixonado
Mariana diz:
enquanto podia estar aí bebendo todas e pegando uns hômi
Mariana diz:
ai
Rafael diz:
essa miss brasil que ficou em vice no miss universo é demais
Mariana diz:
hahahahahahaha
Mariana diz:
é mesmo
Rafael diz:
to vendo umas fotos dela no jornal agora
Mariana diz:
excrusive, comprado aquele concursinho de meia tigela hein
Rafael diz:
diz que os seios dela sao naturais
Mariana diz:
nem a japa acreditou que ela tinha ganhado da brasileira
Rafael diz:
nao, as fotos da japa aqui mostam o como ela é feia
Rafael diz:
ela era a pior de todas
Rafael diz:
até a coreana era mais gata que ela
Mariana diz:
é, mas decerto que eles viram a beleza interioRR
Mariana diz:
e a inteligência dela
Mariana diz:
donald trump considera essas coisas tbém, ouvi falar
Rafael diz:
pelo amor de deus
Rafael diz:
miss= beleza
Rafael diz:
missa (não necessariamente) = inteligencia
Mariana diz:
pois é
Mariana diz:

faz sentido mesmo

Fátima Guedes, fofurinha


A última vez que ela veio para cá, salvo engano, foi em 2002. Show no Paiol com Zé Luiz Mazzioti.

Foi a primeira e única vez que eu fui a um show sozinha e tive uma experiência muito feliz. Obviamente que o tipo de show e o tipo de teatro ajudaram em tudo, já que a atmosfera era naturalmente introspectiva e intimista.

Lembro que na minha cadeira e nas cadeiras em volta estavam umas meninas que não haviam conseguido lugar juntas e eu disse que elas podiam ficar com a minha cadeira, sem problema, que eu trocava de lugar, ao que elas me perguntaram muito solidárias: mas vc tá soziiinhaa??

No fim, foi melhor trocar de lugar, porque aí fiquei no espaço mais alto e mais escuro do Paiol, o que (quero crer) evitou um pouco do vexame, pois eu chorava soluçado durante todo o show.

Aliás, 2002 foi o ano dos shows emocionantes e de chorar soluçado. E 2007 tem sido o ano do retorno destes artistas, com shows que infelizmente não puderam superar o impacto que os anteriores tiveram para mim. Mas é que né, ...nem poderiam.

A intensidade das coisas vividas pela primeira vez é particular e única, apenas para dizer o óbvio ululante. O tempo depois se encarrega de acrescentar a dose de nostalgia e temos cá mais um momento em nossas vidas idealizado pela saudade. Pela saudade e pela inocência. De alguma coisa tinham que servir as primeiras experiências e a inocência, afinal.

Mãs o show deste fim de semana, mais uma vez, foi emocionante, com composições do Tom de antes da bossa nova, todas músicas desconhecidas do grande público, portanto. Meus irmãos fariam um à parte aqui para dizer que sou esquisita, já que não gosto de nada do que todo mundo gosta. “Porque todo o mundo gosta” e “ninguém nunca ouviu falar dessas coisas que vc gosta”. São as frases-mãe de todo o diálogo que travo com eles sobre gostos pessoais. Eles odeiam todos os meus cds e os livros e tudo o mais do que eu goste. Diria que é um indício do meu bom gosto isso. Onde já se viu “maioria” ser pressuposto de qualidade. A maioria escolheu o Lula, não esqueçamos - só para usar o exemplo mais chocante.

Mas tá, depois do show, imbuídas de enorme boa-vontade e abertura para o mundo, fomos eu e Ferdi Maria encarar uma boate alternativa, com gente esquisita. Aí percebo que sou convencional por demais, assim, externamente, e não orno em lugares com gente esquisita, embora o lugar, a decoração, a música e mesmo o figurino do pessoal me agrade muitíssimo. Ó, o conflito lá, arrojo versus blábláblá, sempre companheiro.

É que não resisto. Pra ter uma idéia, tem até uma passagem secreta no banheiro masculino - que é uma atração por si só, já que o vaso fica um degrau acima, tipo altar, e o teto rente à cabeça, a la o meio-andar de Charlie Kaufman. Dayana Kelly mostra pra vcs - a passagem secreta, bem entendido, que fotografar o vaso não passou pela nossa cabeça na hora:


E eis o outro lado:


Que era o bar detrás, onde havia um caminho de pedras, uma bananeira de canto cheia de luzinhas e Sin City refletido no paredão.

Só aligriiia.

28 de maio de 2007

“Quem tem tique não pode jogar”.

Tudo vai bem.

Até que, nesses atendimentos mis em escala industrial, a gente atende uma pessoa com tique.

Sendo que o tique da pessoa era levantar as sobrancelhas e arregalar os olhos assim, meio que umas cinco vezes sucessivas, à medida que ia se concentrando nas perguntas e explicações todas.

Uma beleza.

E, mais ainda, de ficar como que apontando com a cabeça para o seu lado esquerdo, e meu direito. E eu olhei né, porque realmente parecia que ele estava querendo me mostrar alguma coisa praqueles lados. E olhei mais de uma vez, porque a coisa é involuntária, tanto quanto os tiques todos.

Que situaçã, pessoar, que situaçã.

Mas fui forte.

Até porque os atendimentos são sozinhos né, não há ninguém mais na sala, just the two of us, ninguém para dividir a atenção. O que, neste caso foi até bom. Porque né, as reações em massa sobre a mesma situação podem ser desastrosas.

Ainda bem também que o procedimento todo já faz parte de toda uma vida da pessoa, que a gente liga o piloto automático e vai. Sem pensar no amanhã.

E só lembrando das reações em situaçãs análogas em que Merilú estava presente e houve estragos. ‘Jisuis, se Merilú estivesse aqui!’. Como da vez do Elétrica, num dos festivais de teatro da vida, da época do blog roseroxo, ocasião em que eu estava certa que nos iam expulsar do teatro, só estava esperando o momento, e ocasião em que se iniciaram minhas aulas sobre como tapar a boca durante um ataque de riso definitivamente não é a melhor opção, pelo efeito muito mais chamativo da explosão que ocorre quando não se agüenta de jeito nenhum e aquela coisa abafada que se mistura com a risada e tudo mais. E enfim.

Entre outras menos publicáveis.

E da juventude doirada de invernos na praia em que as cousas invariavelmente se descambavam para passar as noites jogando Detetive (não o de tabuleiro, o das cartas, sabem? que tem as vítimas, o assassino e a polícia? tem isso em todo canto será?), e os ‘castigos’ todos de virar alguma coisa alcoólica garganta abaixo, e as conseqüências adolescentes todas desta tão valiosa experiência pela casa das pessoas afora.

Mãs.

Sendo que quem fosse o ‘assassino’ da vez, matava suas vítimas o mais discretamente possível, piscando para elas. Foi aí que se descobriu que uma das pessoas na mesa tinha o tal tique. Esse de piscar. Mais do que o normal, eu digo, e em seqüências mais longas, digamos. Daí que a coisa foi impossível, que essa mesma pessoa ‘matava’ todo mundo sem nem sentir, inclusive o próprio assassino, o que foi deveras confuso, somado às cousas alcoólicas garganta abaixo. E foi aí que a antológica frase aí em riba surgiu, a do título, com o perdão da piadinha interna, é claro, a qual possivelmente nem seja assim tão super engraçada, mas por essas bandas, continua fazendo o maior sucesso.

Os caminhos da mente, né. Eu em Guaratuba nos anos noventa e o atendimento rolando. Numa coisa meio sem olhar direito pra pessoa, o constrangimento todo de um e outro e aquela coisa. Mas é o máximo de controle que se consegue, porque a gente tenta, mas sem abuso.

25 de maio de 2007

Humilhação: tropeçar na escada do trabalho e fazer um barulhão capaz de fazer as pessoas levantarem da cadeira pra vir perguntar se está tudo bem.

Humilhação suprema: seu chefe no alto da escada se agilizando pra te catar do chão.

E hj eu tô sem salto!!!!

23 de maio de 2007

Trabalhe com um barulho desses

Aqui ao lado do escritório tem uma escolinha com berçário.
Faz duas semanas que um bebê chora ininterruptamente o dia todo.
Descobrimos que é uma menininha de três meses que foi acostumada a ficar no colo o tempo todo e que agora passa o dia no berçário.
Como as professoras querem desabituá-la do colo, ela protesta se esgoelando o tempo inteiro, eu disse o tempo INTEIRO.

Concentração amiga, cadê você???

16 de maio de 2007

Tipo assim.

Estou viva, passo bem e tudo mais ou menos sob controle. Sei que as rugas de preocupação da multidão de fiéis leitores desfizeram-se neste momento, mãs.

E atendendo mais pessoas ao mesmo tempo do que eu mesma jamais imaginava que era possível para qualquer pessoa neste mundo afora. Logo eu, que sempre always e forever disse que se coisa houvesse, uma única, que um dia eu pudesse escolher para nunca mais fazer nesta nossa profissão da peste, seria, sem titubear, atender clientes. A ironia, ela sempre.

No entanto e porém, eis que esta experiência praticamente diária na região metropolitana de nossa capitar ecológica serviu ao menos para, de uma vez por todas – e se não fosse agora, não sei mais na vida quando diabos haveria de ser – se desenvolver toda uma paciência voluntária e não forçada em momento algum com as pessoas atendidas, tanto que a coisa deixou de ser um suplício, para ser um sofrimento mais leve um pouco. Um pouco, mas ainda assim. Nessas alturas, já é super.

O problema é o padrão das perguntas, todas iguais, por estarem todos nesta mesma situação jurídica, no caso. Sendo que por ‘todas’, eu quero dizer algumas centenas de. Para serem atendidas, uma a uma. Por moi. E por outro advogado que reveza comigo, mas isso não vem ao caso. Porque eu eu eu eu. E o padrão das dúvidas, as mesmas sempre. E as minhas respostas, as mesmas sempre. Até as piadinhas. Que eu faço piadinhas, pessoa tão descolada que sou. Sabe aqueles professores de cursinho que todo santo ano fazem as mesmas brincadeiras sobre os mesmos assuntos, para alunos que são diferentes? Então. Finalmente entendo o drama.

Mãs, tudo muito construtivo, não fossem os prazos se acumulando na mesa que fica lááá no escritório, esquecido pelas tardes na região metropolitana. Mas isso é outro detalhe não muito agradável que fica pra depois.

Sei que as forças e energias, como disse eu aí num comentário tardio aos posts todos que foram acontecendo so far away from me, vão-se todas consumidas pela ansiedade, o mal maior. Não sei se do século, mas meu eu garanto. O diacho do frio na barriga e do organismo todo em alerta alimentam-se das energias da pessoa. Bem podiam alimentar-se da gordura toda da pessoa, mas nãããão. Estas estão aí, firmes e fortes. Aliás, nada firmes, mas sempre fortes e crescentes.

Tudo assim muito muito vago, a la noche, só pra dizer que sim, I’ll survive e um belo dia eu voltarei! Fé, muita fé.

E o cliente, então, que te dá carona até a esquina do escritório e se despede dizendo: "não vá se perder hein!"

Ps: Percebam que estou respeitando a ordem cronológica dos acontecimentos. E ainda faltam 2 horas e meia até o fim do expediente...

E o que pretende o velho que se aproxima do amigo pra cochichar alguma coisa em pleno elevador, quando no elevador estão somente eles e eu?

+_+

Güente.

14 de maio de 2007

POR UM ACASO

Poderia ter acontecido.
Teve que acontecer.
Aconteceu antes. Depois. Mais perto. Mais longe.
Aconteceu, mas não com você.
Você foi salvo pois foi o primeiro.
Você foi salvo pois foi o último.
Porque estava sozinho. Com outros. Na direita. Na esquerda.
Porque chovia. Por causa da sombra.
Por causa do sol.
Você teve sorte, havia uma floresta.
Você teve sorte, não havia árvores.
Você teve sorte, um trilho, um gancho, uma trave, um freio,
um batente, uma curva, um milímetro, um instante.
Você teve sorte, o camelo passou pelo olho da agulha.
Em conseqüência, porque, no entanto, porém.
O que teria acontecido se uma mão, um pé,
a um passo, por um fio de uma coincidência.
Então você está aí? A salvo, por enquanto, das tormentas em curso?
Um só buraco na rede e você escapou?
Fiquei mudo de surpresa.
Escuta, como seu coração dispara em mim.

WISLAWA SZYMBORSKA

9 de maio de 2007

Meu tempo é quando – parte II

Esse post tem mais ou menos um ano de atraso, porque na época, não achei que havia algo do que falar que não fosse causar forte indignação. Para a minha pessoa no caso. E para a psicologia enquanto estudo do comportamento.

Ocorre que à algumas coisas falta tanto critério e à algumas pessoas falta tanta percepção, que só nos resta rir da ironia da cousa toda.

“Inventário de Atitude do Trabalho” ou, como apelidado pelo Rafa, “Inventário mother fucker psicográfico”.

Consiste numas 48645 perguntas sobre comportamento profissional, a fim de traçar o perfil profissional da pessoa. Sim, porque hoje não se fala mais em 'talentos para determinadas áreas do conhecimento', mas sim em 'perfis para determinadas funções'. Aliás, não se fala mais em "talentos", estes foram substituídos pelas palavrinhas nada simpáticas “habilidades vendáveis”.

Pois sim. Para todas as perguntas deve ser marcada uma resposta, obrigatoriamente, ainda que nenhuma das respostas corresponda àquela que seria dada por vc. Não bastasse, as perguntas se repetem inúmeras vezes pelo teste afora, com respostas diferentes e, por vezes, opostas àquelas outras da pergunta anterior. Mais ou menos assim: numa pergunta vc assinala, contrariada, a alternativa “a”, porque na verdade ela não teria resposta pra vc, mas vc tem que responder. Mais à frente, surge a mesma pergunta, com outras respostas, opostas àquela da anterior, sendo que deve ser assinalada a que mais tem a ver com vc; em não havendo, qualquer uma, que, por isso, vai ser absolutamente oposta a alternativa “a” antes assinalada, que já tinha muito pouco a ver com vc. E assim vai.

Aí que chegou o dia da “orientação individual”, que seria a análise do resultado deste teste cujo resultado alimenta um programa que forma um gráfico. Este é o gráfico dos seus pontos fortes e fracos. São analisadas várias características divididas em grupos de “administrativas”, "interpessoais’ e “intrapessoais”.

Daí que o meu gráfico é de uma pessoa problemática, por assim dizer.

Segundo a psicóloga que aplicou o teste e depois me entregou o resultado, devidamente comentado, nas palavras da própria: existe uma "porra-lôca" dentro de mim querendo se liberar e sendo impedida pela minha ‘dificuldade em tomar decisões’, esta, por sua vez, decorrente do ‘medo da perda’.

E mais um bocado de outras coisas na mesma linha, só que mais pra baixo.

Para finalizar, sofro de um conflito existencial entre o meu ímpeto pelo arrojo e o meu conservadorismo. Trocando em miúdos, preciso de ajuda profissional. Sabe cumé, pra resolver esse "dilema interno" que está me impedindo de escolher entre um e outro.

No entanto, analisando superficialmente o meu gráfico eu mesma pude perceber que as colunas vistas assim, de maneira global, e, considerando os grupos de características, denunciavam uma série de contrariedades. Qualquer um poderia por ex. olhar o gráfico e, sem titubear, encontrar ali um conflito entre a minha vontade de ousar ou de abraçar o certo ao invés do duvidoso. Qualquer um, menos, talvez, a psicóloga.

Certo que há este conflito. Sempre houve e sempre haverá, e, até onde entendo, graças ao Senhor Jesus, que não quero mesmo optar por uma das coisas e com esta permanecer para todo o sempre. No entanto, isto não significa em absoluto todas as outras conclusões que o gráfico dela tirou por si só, consciente e sensível que não foi à pessoa que se sentou à frente dela e que disse coisas que deveriam ter sido avaliadas, quando menos, em conjunto.

Numa dessas que as pessoas menos esclarecidas entram em desajuste com as demais e caem no dilema aquele do ‘ó, como sou incompreendido’, como se houvesse compreensão no mundo e isso não fosse um falso problema, seguido de uma falsa crise.

Contudo, hoje relendo o texto e lembrando do quanto fiquei atônita e considerando o tempo que passou e as novas idéias que surgiram, devo dizer que o conflito persiste e todo o resto deve ser jogado fora, exatamente como há um ano atrás, com a diferença de que agora convivo melhor com a contradição, a minha e a dos outros.

Na minha ânsia por coerência e congruência, perdi todas as vezes em que tentei compreender o que não se compreende e justificar o que não se justifica, e ainda assim teimei nesta tarefa ingrata. Ainda teimo, na verdade, mas dou a isso menos importância, o que suavizou deveras uma porção de coisas.

E, claro, prossigo naquela do arrojo x conservadorismo, passeando pelos dois lados e tentando sair o menos chamuscada possível.

4 de maio de 2007

"Ah, meu deus, e eu ainda ensinei ela a rebater...."

Juju pegou o buquê. Ou parte dele, mas ainda assim veio certeira a florzinha vermelha diretamente para as mãos de Juju. Thi, um tanto preocupado depois de ouvir a massa gritando o seu nome, solta-me esta pérola de ainda a ter ensinado a rebater...

Nesse momento, já alterada das idéias, não pude evitar enxergar Juju tomando impulso entre as demais e rebatendo a flor que vinha em sua direção. Fato incrível este que, apesar de peculiar, seria bastante possível, já que Juju em tempos remotos, foi campeã de peteca no colégio, juntamente com Kerol, sua dupla. E a peteca que sempre me pareceu um esporte pouco útil (perdoem-me meninas) vem surpreender desta maneira mais de década depois.

Esbaldei-me de champanha e saí da festa, aliás, saímos todos, somente depois de ver os “hômi” pendurados nos lustres pra retirar as flores da decoração. Percebi que era o fim também depois do laquê me boicotar e meus cabelos começarem a desabar, dando uma aparência um tanto decadente ao visual. Afora os fios puxados do vestido graças ao contato com a minha pulseira nova que, contrariamente ao estrago, tinha o objetivo de ser a peça mais brilhante da produção.

Graças que houve este feriado de terça pra pessoa ao menos tentar se recuperar do baque, que os anos de má postura começam a pesar a esta altura da vida e minha coluna num güenta mais 10 horas seguidas de salto 15 fino.

Tem sempre aquele momento né, introspectivo, que ocorre mesmo depois de todo o álcool, em que a pessoa pára concentrada pra olhar em volta e gravar a cena e constatar com emoção que todos se encontram na mesma situação, exultantes de aligriiia. Prova disso foram as declarações de amizade e amoR que todos sentimos um pelo outro all together now que nem sempre levaram em conta as pessoas desconhecidas que eram abraçadas em conjunto.

Eu e Day, transgressoras que somos, atravessamos a área restrita ao casório e subimos as escadas do Castelo pra dar uma olhadinha nos cômodos de cima. Uma coisa realmente.

Ninguém caiu na pista, que me lembre. Vi Marcinho querido apenas se desequilibrar um minuto e quase cair pra trás, mas foi tão linda a recuperação, com a pessoa emendando um passinho em seguida e saltitando no ritmo da música até estar de pé de novo, que não se pode considerar isso uma gafe, de reito nium.

Foi o primeiro casamento da turma. Ao menos o primeiro comemorado tradicionalmente com igreja e festa. Sei não se os nouvos aproveitaram na mesma medida, mas os convidados posso garantir que sim, diante do desbunde de cores e brilhos e dos reencontros e da confraternização geral de turmas, o que tornou tudo véri véri funny.

* up date: mas veja só que orguuuulho que só agora me apercebo desta maravilha de dois dos citados no texto poderem ser linkados para os seus respectivos blogues!! Ó a evolução dos tempos!

3 de maio de 2007

Cortázar, Julio

Entre a Maga e mim cresce um canavial de palavras, estamos separados só por algumas horas e alguns quarteirões e já a minha pena se chama pena, meu amor se chama amor...Irei sentindo cada vez menos e recordando cada vez mais, mas o que é a recordação, afinal, senão o idioma dos sentimentos, um dicionário de rostos e dias e perfumes que voltam como os verbos e os adjetivos no discurso, adiantando-se disfarçados, à coisa em si, ao presente puro, entristecendo-nos ou lecionando-nos vicariamente até que o próprio ser se torna vicário, o rosto que olha para trás abre muito os olhos, o verdadeiro rosto se mancha pouco a pouco como nas velhas fotografias e Jano, de repente, é igual a qualquer um de nós. Vou dizendo isso tudo a Crevel, mas é com a Maga que estou falando, agora que estamos tão longe um do outro. E não lhe falo com as palavras que só serviriam para que não nos entendêssemos, agora que já é tarde começo a escolher outras, as dela, as envoltas naquilo que ela compreende e não tem nome, auras e tensões que crispam o ar entre dois corpos ou enchem de ouro em pó um quarto ou um verso. Mas não vivemos assim o tempo todo, lacerando-nos docemente? Não, não vivemos assim, ela quis, porém uma vez mais voltei a instalar a falsa ordem que estimula o caos, a fingir que me entregava a uma vida profunda da qual só tocava a terrível água com a ponta do pé. Existem rios metafísicos, ela nada por eles como aquela andorinha está nadando pelo ar, girando alucinada, em torno do campanário, deixando-se cair para melhor levantar com o impulso. Eu descrevo e defino e desejo esse rios; ela nada por eles. Eu os procuro, os encontro, olho-os da ponte, e ela nada por eles. E, sem o saber, igualzinha à andorinha. Não precisa saber, como eu; pode viver na desordem sem que nenhuma consciência de ordem a retenha. Essa desordem é a sua ordem misteriosa, essa boêmia do corpo e da alma que lhe abre de par em par as verdadeiras portas. A sua vida não é desordem, a não ser para mim, enterrado em preconceitos que eu desprezo e respeito ao mesmo tempo. Eu, condenado a ser absolvido irremediavelmente pela Maga, que me julga sem saber. Ah, deixa-me entrar, deixa-me ver algum dia da mesma forma como vêem os teus olhos.

24 de abril de 2007

"Ser tolo, egoísta e ter boa saúde, eis as três condições para a felicidade. Mas, se falta a primeira, tudo está perdido."

Jose Ingenieros, em "O Homem Medíocre".

Um livro para se reler.

20 de abril de 2007

Tão pequena....é?

Eu sou só um você que você não quis
E querer é coisa tão pequena
Que só não sou você por um triz

Marcelo Camelo

19 de abril de 2007

A Peleja do Vaqueiro Benedito contra o Capitão João Redondo e a Cobra Madalena

Espetáculo discute as relações entre as classes sociais a partir da linguagem popular do mamulengo, utilizando-se de cirandas, cantigas de roda e grandes compositores brasileiros, enquanto bonecos/ atores e atores/ bonecos contam a história de Benedito, vaqueiro brincante que luta para defender seu Boizinho Pequi das garras do Capitão João Redondo, fazendeiro ambicioso que pensa dominar e comprar tudo o que vê e deseja.

Õmmnn
Só o título já diz tudo.

Fofurinha né?

Constava como voltada para o público 'infanto-juvenil', informação esta que me passou totalmente despercebida. Mas, tudo bem, porque era mentira. Aliás, as coisas com qualidade fazem as classificações e categorizações perderem o sentido, podendo nos trazer profundidade e boas surpresas seja como for, sem preconceitos.

E o mámulêngo, o que é?

“O mamulengo é um dos mais tradicionais formatos de teatro de bonecos no Brasil. Nesse tipo de peça, é usado um palco, e atrás dele ficam os manipuladores, ou seja, as pessoas que dão voz e movimentos aos bonecos. Durante o espetáculo, a participação da platéia é essencial, pois os atores improvisam algumas cenas de acordo com as reações do público.”

Pra começar, os 3 atores/manipuladores chegaram pela porta da frente do teatro cantando e tocando tambor, pandeiro e triângulo, vestidos de uma mistura de sertanejos/artistas de rua, chamando todos a cantarem nas paradas das musiquinhas os “uuuhh!”, “eeehh!” junto com eles. Adouro. A gente se sente tão participativa, tão dentro.

O Espaço Falec tem dessas. Em outra peça que vimos lá, também uma atriz veio nos receber no corredor e foi nos acompanhando até dentro do teatro.

Atrás do palquinho armado no meio do palco real ficavam 2 dos atores/manipuladores e fora, inserindo a história e fazendo o intercâmbio entre a platéia e os bonecos, ficava outra atriz que ainda cantava e tocava pandeiro, sempre chamando o público a cantar junto e a reagir diante dos acontecimentos.

A história propriamente é muito simples: o vaqueiro Benedito, nosso herói, tentando lutar contra o poderio do capitão João Redondo, boneco este que era praticamente só barriga e que quando caía passava o maior trabalho pra se levantar, devido à sua forma arredondada.

Benedito é dono do boizinho Pequi e isto atrai a cobiça do Capitão que manda o seu capanga que manda o policial da cidade confiscar o boizinho de Benedito. Tendo Benedito se livrado com êxito de todas as tentativas de lhe tirarem o boizinho, o Capitão envia enfim a cobra Madalena, serpente monstruosa (vide foto), contra a qual Benedito não teria chances. Será?

Ao final, os atores do Grupo Roupa de Ensaio, de Brasília, se apresentaram, contaram um pouco da formação do grupo e da tradição do mamulengo, responderam perguntas e curiosidades e passaram os bonecos para que a platéia pudesse tocá-los e brincar um pouco de mámulêngo.

Tudo muito interativo e interessante, como costumam ser as manifestações tipicamente populares e regionais.