21 de dezembro de 2008

Ah, o Natal.


Época de se ouvir Simone onipresente nos mercados, elevadores e estacionamentos de shoppings.


Época dos amigos secretos e suas frustrações. Esse ano o senhor meu pai foi finalmente poupado pelo destino e foi minha mãe a escolhida, para dar kits artesanais todos perfumados e atenciosos e ganhar em troca um simples panetone. Vendo-se em perspectiva é lucro, porque do Seu Cosme, que já ganhou cinto usado – até com os quebradinhos do uso do couro – e, em outro ano, perfume empoeirado encalhado há sabe-se lá quantos anos na penteadeira da pessoa, ninguém ganha. Sorte que são desses amigos secretos da correria, em que o sorteio é feito já na hora da revelação, que senão Seu Cosme começaria a duvidar de seu carisma. Mas não, por sorte é só azar.


Época das confraternizações de fim de ano, e do povo querer se encontrar pelo tempo que não conseguiu se ver durante o ano inteiro, resultando em uma média de três jantares por noite, e duas turmas diferentes por noite frustradas com sua incapacidade – cooomo isso? – em estar em dois lugares ao mesmo tempo.


E quilos que se acumulam às vésperas do verão, muito oportunos.


Tempo de shoppings lotados, supermercados intransitáveis e trânsito caótico. E da fuga em massa para o litoral. E da correria para aproveitar o – pouco – tempo pra conseguir se arrumar para a viagem de Ano Novo. Data esta que eu mesma passarei no meio, quase que literalmente, do Rio Grande amado do ilustríssimo, com sua família, na calmaria completa de cidadezinha. Fazer nada é o meu grande e esperado plano de final de ano. E pescar, comer e beber nos intervalos.


Entonces, se a gente não se ver até lá, feliz natal pra todos, com direito às esperanças todas e amoRR próprios do momento.

Machado sabe das cousas.

Esquecer é uma necessidade.
A vida é uma lousa, em que o destino,
para escrever um novo caso,
precisa apagar o caso escrito.

26 de novembro de 2008

Os gugonautas.

Termo este de lavra da Cris querida, não esqueçamos.

Tão abandonados os gugonautas, mas ainda assim, só de ver agora rapidinho, as incansáveis buscas:

peças teatrais curtas sobre o cotidiano
pessoa nervosa - this is THE place, beibe.
baixar livro o doido da garrafa - faz isso com Adrianinha não, vai. Compra lá.
triciclos aquatico para o mar

A diversidade, essa maravilha.

23 de novembro de 2008

Lindo!

10 de novembro de 2008

Foto, foto, adoro foto!

Entonces que a última remanescente dos vinte fechou a década e se encontra enfim com 30.

Que continuam legais, diga-se, mesmo após a ressaca de segunda. Como diria a Sio, que tudo seja imensamente melhor, com exceção das ressacas... que com o tempo só pioram.

Eu fico realmente perdida quando sequer consigo definir, quanto menos expressar, o sentimento do momento. E quando vejo que tudo caminha um caminho paralelo: ao lado, mas sem encontro.

Talvez essa seja a grande metáfora da vez. Ou da vida.

Por que tanta delicadeza eu me perguntava, quando eles me atropelam com um caminhão todas as vezes. Cuidaremos de cultivar o cinismo como maior e melhor arma de defesa na próxima década. Porém sabemos que não há defesa para tudo isso. Não há mesmo defesa para tanto.

Quem sabe numa outra vida, quando formos gatos.

31 de outubro de 2008

Só pra não deixar o mês inteiro passar em branco.

Tudo bem que é feio, muito feio, só copiar e colar depois de tanto tempo sem notícias, mas a coisa ta braba, pessoar. Mas sobreviveremos para contar, quando der tempo.

Por enquanto, é daqui, como sempre, que vem a salvação ao abandono.

O doido da garrafa
(Adriana Falcão)


Ele não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas as outras pessoas do mundo insistiam em dizer que ele era doido.

Depois que se apaixonou por uma garrafa de plástico de se carregar na bicicleta e passou a andar sempre com ela pendurada na cintura, virou o Doido da Garrafa.

O Doido da Garrafa fazia passarinhos de papel como ninguém, mas era especialista mesmo em construir barquinhos com palitos. Batizava cada barco com um nome de mulher e, enquanto estava trabalhando nele, morria de amores pela dona imaginária do nome. Depois ia esquecendo uma por uma, todas elas, com exceção de Olívia, uma nau antiga que levou dezessete dias para ser construída.

Batucava muito bem e vivia inventando, de improviso, músicas especialmente compostas para toda e qualquer finalidade, nos mais variados gêneros. Uai aí aquela da mulher de blusa verde atravessando a rua apressada, e o Doido da Garrafa imediatamente compunha um samba, uma valsa, um rock, um rap, um blues, dependendo da mulher de blusa verde, do atravessando, da rua e do apressada. Geralmente ficava uma obra-prima.

Gostava muito de observar as pessoas na rua, do cheiro de café, de cantar e de ouvir música. Não gostava muito do fato de ter pernas, mas acabou se acostumando com elas. De cabelo ele gostava. Em compensação, tinha verdadeiro horror a multidão, bermudão, tubarão, ladrão, camburão, bajulação, afetação, dança de salão, falta de educação e à palavra bife.

Escrevia cartas para ninguém, umas em prosa, outras em poesia, como mero exercício de estilo.

Tinha mania de dar entrevistas para o vento e já sabia a resposta de qualquer pergunta que porventura alguém pudesse lhe fazer um dia.

Ajudava o dicionário a explicar as coisas inventando palavras necessárias, como dorinfinita.

Adorava álgebra, mas tinha particular antipatia por trigonometria, pois não encontrava nenhum motivo para se pegar pedaços de triângulos e fazer contas tão difíceis com eles.

Conhecia mitologia a fundo.

Tinha angústia matinal, uma depressão no meio da tarde que ele chamava de cinco horas, porque era a hora que ela aparecia, e uma insônia crônica a quem chamava carinhosamente de Proserpina.

Sentia uma paixão azul dentro do peito, desde criança, sempre que olhava o mar e orgulhava-se muito disso.

Acreditava no amor, mas tinha vergonha da frase.

Às vezes falava sozinho. Preferia tristeza à agonia.

Todas as noites, entre oito e dez e meia, era visto andando de um lado para o outro da rua, método que tinha inventado para acabar de vez com a preocupação de fazer a volta de repente, quando achava que já tinha andado o suficiente. (Preferia que ninguém percebesse que ele não tinha para onde ir.) Enquanto andava, repetia dentro da cabeça incessantemente a palavra ecumênico sem ter a menor idéia da razão pela qual fazia isso.

Durante o dia o Doido da Garrafa trabalhava numa multinacional, era sujeito bem visto, supervisor de departamento, ganhava um bom salário e gratificações que entregava para a mulher aplicar em fundos de investimento.

No fim do ano ia trocar de carro.

Era excelente chefe de família.

Não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas sempre que ele passava as outras pessoas do mundo pensavam, lá vai o Doido da Garrafa, e assim se esqueciam das suas próprias garrafas um pouquinho.

25 de setembro de 2008

Não, e sabe que estou nesta coisa de mal parar no escritório pra fazer os prazos e mais prazos que se acumulam, o que força o trabalho em casa, que é coisa que abomino e tento evitar ao máximo mas que às vezes realmente não dá. E nesse ritmo intenso, o “às vezes” se torna praticamente tododia.

Que toda semana tem audiências e mais audiências. All the time. E daí eu que nem sou lá muito fã das audiências todas, acabo me irritando ainda mais porque além de ter que as fazer assim, duzentas e oitenta e cinco vezes mais do que eu gostaria, ainda fico muito mais tempo fora dos tais prazos, que não param de se acumular e causar os mais freqüentes trabalhos em casa até altas horas.

Mas ainda assim há surpresas.

Daí que se criou um feliz hiato entre as 5943085943 audiências de setembro – mês em que jurei que se não me mudasse pra China agora, nunca mais que ia – e as do começo de outubro, modos que entre dia 23/09 atéééééé 06/10, eu mesma só gerenciaria as cousas e mandaria pessoas fazer audiências, e eu mesma não faria nenhuma. Uma benção, praticamente, de poder ficar efetivamente dentro do escritório fazendo as duasmiltrezentasesessentaetrês peças processuais em pendência. Período em que, teoricamente, diminuiria o tão abominado trabalho em casa.

Teoricamente.

Porque sempre tem os clientes que ligam avisando no dia que precisam de alguém pra fazer coisas no mesmo dia.Tipo assim. Ninguém tem nada marcado nunca, e eu fico aqui lendo jornal mesmo, então essa coisa de avisar em cima da hora não tem problema nenhum, imagina. Sendo que por “coisas”, entendam outras audiências, ou reuniões, ou auditorias e afins.

Mãs, no caso de ontem, foi uma reunião. Com pessoa dos setores municipais do meio ambiente, às tais horas, por causa de multas indevidas, como todas são. Respirei fundo e ainda assim praguejei. Praguejei contra tudo e todos que me inventavam coisas não previstas pra fazer em dia de intenso labor programado e organizado. E assim, pra ontem.

No fim, imensa surpresa. Grandessíssima surpresa ao – depois de me perder, é claro – ver que o tal do setor do meio ambiente ficava, ele mesmo, em meio de enorme área verde de, acho eu, reserva ambiental. Nada mais propício, mas ainda assim surpreendente.

Porque vejam. Reuniões de órgãos públicos pra discutir a aplicação de multas a clientes são sempre em prédios cinza, em dias cinzentos, depois de congestionamentos, e de duas horas e meia de espera. É assim e pronto.

Mas que nada. Esse setor aí era no lugar mais lindo do mundo. Ou da cidade, pelo menos. Bosques para todos os lados. Construções de tijolinhos, sendo que cada bloco era praticamente um chalé. E pra chegar de bloco em bloco, era através de pontezinhas de madeira ou pedra, com um rio cheio de mini-quedas d’água que passava por todo o lugar. Sério gente. Imagina a minha cara de surpresa. Eu, de terno preto e pasta preta – que combina perfeitamente com os prédios cinza, asfalto e congestionamento – destoando da paisagem.

Fiquei tão admirada que esqueci de tirar uma foto com o celular, pra vocês terem uma idéia.

Mas achei aqui, muito mais ou menos, pra dar uma pequenissima noção do que realmente é a coisa toda.



Pra se ter noção, na hora da tal reunião, no gabinete da otoridade – cujas paredes (do gabinete, bem entendido) são inteiras de vidro, com visão pro bosque – eis que me passa um mico, todo faceiro, de árvore em árvore. Verdade verdadeira. Perdi totalmente o fio da meada do que estava sendo tratado e tive que comentar a passagem do mico, que não teve jeito. Fora uns tantos passarinhos diferentes. Coisa mais linda.

Isso que estava nublado e frio, então imagina com sol. Eu é que não ia trabalhar, isso é certo.

Na volta eu até tentei lançar a idéia de um eco-escritório, com rios, pontes e micos de galho em galho, mas não deu muito certo. Distração demais pra muito trabalho e pouco tempo.

Mãs, é algo a se pensar. Que eu trabalhando num lugar desses, certamente não estaria aqui na quinta-feira à noite tomando vinho e rezando pra acordar animada às seis e quinze pra acadimia. E rezando, mais ainda, pra dar conta do trabalho e não ter que trazer nenhuma lição de casa pro final de semana.

Estaria sim lá, paradona, ouvindo o barulhinho tão agradável das quedas d'água, procurando ver um mico ou um beija-flor, quem sabe. Que depois dessa, tudo é possível.

Aqueles dois.

Que já era pra eu ter feito a propaganda aqui há muito mais tempo, mas sacumé. Nem começarei a falar das correrias todas que isso já encheu o saco, eu sei. Mas ainda dá tempo, muita fé.

Pois então, foi essa A peça do Festival de Teatro deste ano. Aquele que a gente nem falou sobre em momento algum nessa vida, quando na verdade março era pra ser sempre o mês mais ilustrado e comentado por aqui pelas bandas do blog.

A melhor peça deste ano, sem dúvidas.

Em meio a várias medianas, que vou te contar. Esse ano foi meio morno, pelo que me lembro. Talvez me faltem as emoções todas do momento, caso eu fosse falar logo depois de ter visto as cousas, mas ainda assim acho que foi meio meio.

A Companhia é mineira, o que nos lembra de várias outras peças igualmente boas vindas de lá. Mais uma anotação no caderninho, ao lado de Campinas: Minas Gerais = bom.

Mas então, Luna Lunera, a Companhia. E texto de quem, quem? Caio Fernando Abreu.

Uma das adaptações mais fiéis de texto para o palco, atrevo-me a dizer cá em minha ignorância. Quatro atores se revezando em dois papéis, todos misturados e todos ao mesmo tempo agora, ora narrando, ora interpretando e assim vai. Um cenário com vários objetos que acabavam sendo usados para ambientar lugares e situações bem diversas. Livros, discos, televisão, cigarro e café.

A gente teve a sorte de ter sido no Paiol, que eu acho que caiu como uma luva pra disposição do cenário e dos atores. Como que se aproximasse mais, entrelaçasse mais, integração total com o público.

O conto está inteiro aqui, como sempre. Daí acho eu que nem preciso entrar muito no que seria a história, propriamente. E é de bom grado ler antes, como sempre. Até pra reparar quão boa é a adaptação, coisa de louco.

Confesso que, no meu preconceito adquirido ao longo de tantos festivais, fiquei deveras cabreira com a expressão corporal toda dos quatro homens que se encostavam, dançavam, coreografavam e interagiam assim, intimamente, antes do começo da peça. Ainda mais que estava eu com Merilú logo ali na primeira fileira, que na verdade era pra ser a segunda – boa visão, mas estratégica para esconder possíveis fiascos –, mas como a A era usada também pro material do cenário, a B virou A e lá ficamos nós assim, tão expostas.

Mas que nada. Lindo o texto, linda a peça. Excelente trabalho e muito bom de ser visto. Isso que fomos lá numa terça (ou seria quarta) de intenso trabalho e muita vontade de ficar em casa. Ou seja, até Moniquinha Salmaso – e não me orgulho disso – já foi alvo de bocejos em situações assim. E a peça não, em nenhum momento. O tempo passa daquele jeito bom que devia ser sempre.

Com o perigo de estragar uma surpresa na peça – então não leia as próximas linhas se quiser ver a apresentação antes sem saber de nada – até a cena de nudez é bem colocada. E olhe que nudez é outro dos meus tantos preconceitos e pés-atrás teatrais, que pra mim é dificílimo não ficar agressivo, muito pudica que sou. E quase sempre desnecessário. Mas nesta peça em específico foi até suave, se é que isso existe.

Então vão lá, que dá tempo. Sexta, sábado (a las nueve) e domingo (a las siete). Ótemo programa, altamente recomendável. E barato né, vá lá. Pelo que diz o folder, dérreal a inteira e cincão a meia. Pelamor, mais barato que o Festival e mais barato do que qualquer outra coisa do nível.

“Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra”.

4 de setembro de 2008

Mas sabe que ontem coincidentemente eu assisti aquela belezura de filme, com a mocinha Jennifer esposa (ou seria ex, que eu nunca sei) do mocinho Ben Afleck. Justamente sobre o quê, o quê?? Os TRIIINTA. Muito bem.

Sério, nunca tinha visto e nem imaginava que era, só parei pra ver porque tinha lá uma cena de festinha de porão aos anos oitenta e no fim era o tal do filme dos TRINTA.

Daí apesar da aguice com açúcar toda e do fato de como as pessoas que desejam ser grandes e realizam seus pedidos terem sempre profissões que se adaptam facilmente a qualquer idade da infância querida – ninguém é médico, contador, manobrista –, foi ali o ponto inicial das reflexões todas. Daquela coisa de como a escolha mais simples pode mudar a história da vida da pessoa por completo.

Imagina. Que eu moro aqui de um lado da cidade e acabei indo parar em uma escola láááá do outro lado do mundo para mim, por causa de uma bolsa que mamã recebeu enquanto funcionária pública de outrora. E era uma lista com três escolas, e no fim foi naquela que eu acabei. Mas SE não tivesse sido, repare. Provavelmente nunca que conheceria Merilú, já que foi no fatídico primário que tudo se iniciou. Imagiiiina,. E nem Anna e nem Juju. Daí veja que Juju não conheceria Thiaguito, amigo de faculdade de Merilú, e nem estariam de casório marcado para o final do ano. E nem Anna namoraria André que me apresentaria o amigo Daniel, com quem não estaria eu casada, convivida e amasiada. Isso sem contar que Merilú nunca conheceria nem teria trabalhado com Ferdinanda, que por sua vez foi minha amiga de faculdade, e nem Ferdinanda conheceria Rafael, que foi amigo de faculdade de Merilú. E nem Ferdinanda teria morado com Day, que foi amiga de segundo grau da minha irmã.
Ou não.

Que pode ser que todo mundo se conhecesse de alguma outra maneira né, que Curitiba é um cú mesmo e nunca se sabe.

Mas, ao que tudo indica, todo um universo paralelo se instalaria e o mundo estaria perdido. Que ESTA verdade real tal qual conhecemos é a ordem das coisas e nunca outra. Esta é a melhor de todas, o final feliz dos filmes, o certo.

Isso se eu tivesse ido pra alguma das outras duas escolas lá, em 1984.

Agora imagine se seu Cosme inventa de ficar no Rio de Janeiro e não conhece Dona Edith aqui na terrinha? Por onde não andaria yo. E assim nas respectivas famílias de cada um desses que se cruzaram pela vida. Coisa de louco. Sinal de sandice, acho.

Que eu mesma não sei bem onde isso termina.

Mas ufa que tudo são ‘se’s.

Dos TRINTA

Porque os TRINTA não passam batidos nem que a gente tente. Com todo o poder de abstração – não que seja o caso –, ainda assim é impossível se esquecer dos TRINTA. Você pode até tentar fingir que não é com você, que imagina, você é tão maior que essas coisas de idade, sabe como.

Mas não.

Os TRINTA estão aí e chegam, para todos.

E quando se vê, se está inconscientemente fazendo aqueles milhões de reflexões por minuto, de como a vida anda tão rápido e de como você achava que isso ou aquilo já iria ter acontecido aos TRINTA, e de como as perspectivas mudam radicalmente a cada ano – imagine pensando em décadas, então – e de como as reflexões de tempos atrás já não se aplicam mais.

Mais do que tudo, essas mudanças de perspectivas.

Que quando na infância doirada, nos tempos de rosada rebenta, como bem diria Thiaguito, eu mesma sempre colocava nas brincadeiras de contagem de anos e eventos que se sucederiam na vida, os 22 anos como uma ótima idade para casar. E com o apoio de dona Edith, que bem lembro, que concordava e endossava do quão boa a idade dos 22 era boa para o evento casadoiro. Mas naquela época minha profissão seria paleontóloga ou cantora, então as coisas realmente não regulavam, nem sob a mais complacente das perspectivas.

Mesmo mais tarde, nas épocas tensas de vestibular, os TRINTA eram sinônimo de estabilidade, conforto e conquistas materiais todas devidamente satisfeitas, quem sabe até com prole criada. Não, acho que nem tanto. Não especificadamente os TRINTA, já que aos dezessete não se pensa – ou não era só comigo – exatamente no que cada idade representaria e nem em chegar os TRINTA mais precisamente. Mas quem tinha TRINTA era gente adulta, senhôures e senhôuras, tenho quase certeza. Que a memória, que já era fraca, me falha por completo neste momento.

Mal sabia eu que sairia da faculdade com 22 – aqueeela idade lá, boa que só pra se casar –, com diploma e carteirinha, sem experiência nenhuma nessa vida, nem noção da gravidade de nada, e levaria este choque imenso sobre o que é realmente ser responsável pela vida dos outros, ou pelo menos pelo patrimônio alheio. Que é uma responsabilidade. Te contar. A gente acostuma, como tudo nessa vida, e acaba meio que sem perceber minimizando a preocupação constante com o tamanho da coisa, porque senão também não se trabalha. O tal do distanciamento necessário. Mas ainda assim é grande, a gente é que prefere não lembrar. Senão certamente nem aos TRINTA chegaria.

Daí que, cá estou eu, essa gente adulta. Sem a estabilidade imaginada, sem nem um décimo das tais conquistas materiais, preocupada que só com tudo e com todos nessa vida, trabalhando até não poder mais.

E se começa a perceber o tamanho do amadurecimento dos vinte aos TRINTA. Sem brincadeira, verdade verdadeira. A noção de tudo melhora, as percepções todas, a visão crítica, digamos, de toda a informação que se absorve o tempo inteiro. E principalmente a noção do quanto ainda se tem a amadurecer.

E isso é bom, muito bom. Sinceramente bom. Conscientemente bom.

Pero sin perder la ternura, é claro.

Que ao mesmo tempo se pensa no ritmo que se consegue manter, nas coisas a conhecer, no companheiro extraordinário que se tem, nos amigos tidos e mantidos e que seguem exatamente este mesmo ritmo, como que por simetria. Automática, espontânea e confortante simetria, que só se consegue assim, quando se está nos TRINTA, ou perto.

E nas possibilidades todas que se enxerga agora um pouco mais do alto, e os zilhões de oportunidades, da consciência da capacidade de ação, e no quanto ainda se vai aprender. Tomada e inundada, eu diria, pelas possibilidades, é o sentimento do dia. Com sorte, de todos os TRINTAs.

E até uma nostalgia antecipada, que algo me diz que vai ser a época melhor de se lembrar depois. A vida promete.

31 de julho de 2008

O Sistema Repetitivo de Desapegos.

Cansativo, hein?

Bastante.

20 de julho de 2008

Meet Joseph.




Nosso novo peso pra porta. Não 'novo', propriamente, que é o primeiro e único. Os vizinhos certamente agradecem.

Eu mesma que comprei ele hoje na feirinha, e eu mesma já levei dois sustos com ele ali no chão da cozinha. Saco. Que eu ando no escuro e ele tem aquele rabinho ali que realmente engana a pessoa mais desavisada. E sendo eu a desavisada mor, já vi tudo.

Ano do rato, diz-que. Ano do Joseph.

19 de julho de 2008

Só pra se ter uma idéia


Não, mas só pra se ter uma idéia mesmo, do drama.


Uma página do tal diário, assim super aleatória e randômica:


Quinta-feira, 04-07-1991:
(...) Na escola, eu tirei (na classificação geral) 3º lugar na trilha e a Jú e eu 2º lugar na peteca!


Sério. Seriíssimo. Geek total. How nerd was I. Sendo o ‘was’ por minha própria conta e risco.


Mas te digo. Não precisa de muito. Elas, as aberrações, saltam – saltitam, pululam – aos olhos.

Mas a verdade é que


Não apenas o blog aqui coitado foi abandonado, como também eu mesma nunca mais que li blog nenhum nessa vida. E o nunca mais que eu digo são dois, três meses sem ler nada de nada por aqui. Eu sou uma péssima administradora do tempo, eu sei. Uma época tinha cursos disso, de toda dinâmica da coisa e de – como é o nome mesmo? – tipo potencializar ao máximo o pouco tempo de que se dispõe. Tem um nome isso, eu acho. Mas o facto é que nunca fiz desses cursos que desde o primário eu precisaria, mãs.


E, portanto, não tenho tempo para nada. Só se trabalha nessa vida. Mas é que vocês não sabem, falando assim fica tudo muito genérico, mas a quantidade de trabalho é realmente assombrosa. Tudo na expectativa de colher os frutos num futuro incerto e não sabido. Mas a esperança, essa peste, sempre nos ronda e acaba fazendo com que essa rotina dos infernos se repita e repita indefinidamente.


Daí que a partir do momento em que se resolve atualizar o tal do blog, otomaticamente aparece aquela vontade incrível de se atualizar no mundo bloguístico como um todo, e pra variar se começa pelo primeiro da lista ali nas direitas. SÓ QUE Cris querida escreve mileduzentos posts por dia, e daí se começa a baixar as musiquinhas todas tão gentilmente compartilhadas e daí quando se vê, se está sozinhabandonada na sexta – que mata – à noite, toda animada e tomando cervejas. De 473 mililitros, que foram herança deixada do sábado passado, muito divertido, diga-se. Ocasião esta que me rendeu uma senhoura ressaca. Digníssimo espouso convivente e amigado ganhou de presente um narguile – sendo que não tenho condições e/ou vontades de procurar como diabos se escreve narguile neste momento –, sendo que desde abril constatei que ressaca de cerveja + narguile é 854983 vezes pior do que aquela usual velha amiga irmã camarada ressaquinha normal.


Perdi-me-me.


Então.


Pois as tais musiquinhas, somadas as cervejas de 473 mililililitros e à solidão total da sexta-feira, já que espouso convivente e amigado está na labuta, que trabalho por escala tem disso, acabaram por fazer que, não mais que de repente, não se sabe onde, como ou por que, surgisse em minha frente mais uma daquelas antiguidades que a gente sabe que tem, mas só a cerveja amiga ajuda a lembrar que.


Diário de 1991.


Eu tinha encontrado o famigerado quando estava de mudança, há quase dois anos, e na época tinha cogitado de escrever a respeito, como já foi feito naquela coisa do caderno de confidências. Vou ler com muita calma, mas só de revesgueio já vi coisas do tipo “não vou na festa do fulano, porque ele tem bafo de cerveja” – quem te viu, quem te vê –, ou ainda “ele disse que morava em tal lugar, mas acho que era só alugação”, e o mais rico vocabulário do tipo acavalhação, gazear e zonear. Ou seje.


Só em outra noute dessas com muita cerveja é que a leitura total será possível. Mas já aviso que 473 mililitros será pouco, muito pouco, para o que deve aparecer.

18 de julho de 2008

A gente pisca


E lá se vai uma semana, um mês, e nada do pobre aqui ser atualizado.


Sei que em algum momento nesta vida eu fiquei incumbida de falar sobre o show da Monica Salmaso, que a gente viu no mês passado, que se foi assim rápido como nunca dantes. Procurando aqui para lembrar, já que as datas me fogem todas – meus neurônios estão programados para os prazos, que se eu resolver agora querer lembrar de coisas outras como datas, nomes e rostos, seria o meu fim –, eis que o show foi na sexta-feira treze, para animar o dia.


E lindo, sabe, o show. Linda ela também, mais querida do mundo, toda simpática e humilde e agradável. Um vozeirão que deusolivre, devidamente acompanhada do Grupo Pau Brasil, que, devo dizer, desconhecia até então. Por as novidades também me fogem todas, como nunca dantes. Novidade muito boa essa, diga-se. Arranjos maravilhosos para as músicas do Chico na voz poderosa da mocinha ali. Chico, imagina. Como ela mesma bem disse, facinho facinho a gente seleciona as nossas cinqüenta preferidas do Chico, então imagine o trabalho para enxugar tudo para o show.


Beatriz foi uma coisa de louco. Aqui tem, mas ao vivo é tudo muito muito muito mais emocionante.


Daí que mesmo sendo sexta – e as sextas matam, naquele cansaço acumulado velho conhecido –, foi tudo muito empolgante e novo.


E mais novo ainda continuar a noutada na tal da Cantina do Délio, que sempre que era pra gente ir, mas nunca que dava, e no fim aquela casinha aparentemente pequenininha e toda simples, tem três andares e a decoração mais super legal de todos os tempos. Que apesar dessa coisa estilo armazém já estar mais do que batida por aqui, ali conseguiram inovar. No andar mais de cima de todos, onde ficamos, tinha até sininho pra chamar o garçom, vejam vocês. E mesas rústicas de madeira, e objetos antigos, e velas! Muito interativo tudo isso. Pena que termina cedo, independente da empolgação e da insistência de muitos. Sendo os muitos, no caso, nós mesmos, na nossa eterna sina de fecha-bar ou fecha-restaurante ou ainda fecha-cantina.


De modos que, é ilso. Chega por hoje, que eu garanto que são várias as coisas pra se contar nessas alturas, mas hoje é sexta, e sexta mata.

31 de maio de 2008

A tal da dança com facas:

29 de maio de 2008

De Gramado, Canela e Adjacências,
desta vez, por Mariana


Excursão.

Aquela coisa.

Fiquei um pouco atordoada quando percebi que a guia passaria os 4 dias seguintes, no decorrer de todos os passeios, falando e falando e falando nos nossos ouvidos. E falando no gerúndio, o que é bastante pior. Este o primeiro fenômeno peculiar da viagem: a guia somente falava no gerúndio quando fazia as explanações; nas conversas descomprometidas ela ressuscitava o bom português e falava certinho.

Aí que o grande barato da viagem foi mesmo o grupo da excursão.

Tinha de um tudo, minha gente.

Nós, as únicas xóvens solteiras, além de um outro xóvem solteiro que acompanhava o casal de velhinhos senhores seus pais, a fim de evitar que o casal se matasse; vários casais de meia-idade, alguns casais xóvens, dentre eles um em lua-de-mel e outro cujo marido era a cara do Zed do Loucademia de Polícia; uma mãe e uma filha e uma solteira de meia-idade psicanalisada (palavras dela mesma). E um metrossexual de meia-idade cantor da velha guarda.

Inevitáveis foram os acessos de riso, portanto. E os cochichos seguidos de risadinhas presas, o que gerava, Kerol sabe, aquela explosão mais ruidosa que a gargalhada propriamente. Isso tudo grande parte das vezes enquanto a guia explanava, mas todos os santos são testemunhas de que era para desviar a atenção do gerundismo todo que doía no ouvido.

Eu tenho 8 anos.

Mãs, ...não sem motivo: todos os restaurantes que íamos em que eventualmente houvesse música ao vivo, o nosso amigo cantante levantava a hipótese de dar uma palhinha até que no meio do repertório ora de canções italianas ora de música gaudéria, ele subia ao palco pra cantar “Ronda” ou “Chega de saudade”, em interpretações altamente teatrais absolutamente apaixonado por si mesmo que era. Quando desceu do palco e eu, naturalmente, cumprimentei-o-o pela apresentação, ele ficou muito admirado de eu conhecer “Ronda” (sabe cumé, sô xóvem) e mais admirado ainda de eu conhecer “Negue”. Neste mesmo embalo, disse, com toda a ausência de modéstia que lhe era peculiar, que o “Negue” dele não deixava nada a dever ao “Negue” de Maria Bethânia.

Enquanto isso, estreitávamos a relação com a nossa amiga psicanalisada que nos explicava que na nossa sociedade as mulheres ainda buscam um homem provedor e de que ela, ao contrário, não queria um homem para troféu. E que é no silêncio que escutamos a nossa alma, além de que a guia não entendia nada sobre a relação capital-trabalho, momento em que descobrimos que ela era, além de psicanalisada, socióloga, claro.

E a moça em lua-de-mel visivelmente acima do peso que nos contou quase em segredo,...como se não pudéssemos perceber..., que é gordinha, mas que o recém-marido só foi descobrir isso agora, depois do casamento, quando ela resolveu abandonar as 3 cintas que usava pra sair com ele.

E a “Garfo & Bombacha”, um show de churrascaria, onde se come e se assiste ao show em que os gaúchos provam que são realmente machos, numa dança com facões deveras impressionante.

Tiveram também os passeios.

Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Gramado, Canela e Nova Petrópolis, o tour do vinho e dos chocolates e dos couros, da comilança desgovernada e das coisas carérrimas.

Os carros páram pra não atrapalhar a sua foto.

O teleférico do Parque do Caracol e a escadaria que leva lááá embaixo da Cascata do Caracol, lindíssima, foram os meus preferidos, eu que vivo este momento lindo de integração com a natureza.


Numa definição sucinta, Gramado é européia até dizer chega, com direito a descendentes nórdicos lindíssimos desfilando pelas ruas.

Enfim, recomêindo.

Era um dia em que eu intencionava fortemente passar todo ele de mau humor.

Que era segunda, a tal da angústia matinal do doido, a força descomunal pra sair da cama, o atraso, os 40 minutos não planejados esperando o ônibus...

Ensaiando quadras antes a minha melhor cara para o início triunfal do dia de trabalho, eis que na chegada da portaria do prédio, o porteiro - aquele que já não disfarça os olhares 43 para o meu lado - pergunta-me, logo depois do bom dia, se sou romântica e se gosto de poesia e me entrega um papel que seria um texto escrito por ele mesmo, já que ele está a escrever um livro, e sabe que existem erros na escrita, mas mesmo assim gostaria que eu o lesse:


Fecham as portas do elevador, eu com o texto na mão, tendo que manter ainda 'a melhor cara' pra não ser delatada pela câmera do elevador cujas imagens são vistas em tempo real por quem, por quem?

Alguns dias depois, ele me diz que escreveu outro texto, desta vez sobre a “saudade”.

* Transcrevo, já que os html's não me axudam:

Só para Refletir.
A Felicidade
A Felicidade Para Algumas pessoas Pode Até Demorar E, As Pessoas Que Nós.....Amamos Nos Magoa E....Nada Podemos Fazer Se Não Continuarmos a Nossa Longa Caminhada Do Nosso Dia a Dia , E Claro!!! Com o Nosso Coração Machucado.
Sabe, Muitas Vezes Falta Também Amor, Esperança, Compreensão De ambas Partes.
Sabemos Que o Amor-Nos Machuca Profundamente E...A Gente Vai Recuperando Lentamente Dessas Feridas Tão Dolorosas.
Perdemos Também a Nossa Fé e....Então Descobrimos Que Precisamos Acreditar Mais! Tanto Quanto o Ar Que Respiramos; No Qual A Única Razão De Existir E Viver.
Reflita.

Ctba, 05/05/2008.

9 de maio de 2008

Mas problema sério mesmo

É fazer entrevista com pessoa embriagada. Sendo a 'entrevista' no causo sobre a possibilidade ou não de entrar com "ação judicial", como já dizia a outra, contra a empresa. E eu ali de apoio da moça bacharel que trabalha no escritório e que dá de dez a zero em muito adevogado calejado, mas isso não vem ao caso, e me perdi.

Mas estava eu de apoio moral né, só ouvindo. Ou tentando. Que a pessoa embriagada falava baixo e enrolado e baixando cada vez mais o tom de modo que realmente foi impossível. Até que, em um dado momento a pessoa dorme. Um cochilinho básico ali na frente das dotôras. Que é pra recuperar as forças né, que contar os problemas é uma coisa cansativa, eu sei. Cansou de contar que foi contratado num dia e demitido quatro dias depois e cochilou mesmo. Por uns bons segundos.

E a gente né, lá. Tipo assim. Uma olhando pra outra e outra olhando pra uma e acordamos a pessoa e 'não, realmente não tem jeito, não tem ação, não tem nada', alto, muito alto, e a pessoa agradeceu - ou coisa do tipo interpretada como tal por crença na humanidade - e foi-se.

O charme e o glamour da profissão. Belezura.

Mas ficou bom, sabe.

O brigadeirão de dois anos e meio atrás.

Nem ia servir nem nada no almoço, porque depois do episódio todo e da garrafa de vinho secada para afogar as mágoas culinárias, achei uma boa idéia deserformar a coisa e daí tudo virou um chuchu ainda maior.

Mas servi, que não tenho amor próprio. Alguém lá longe perguntou "que é isso, fígado?", mas foi tudo, tigela raspada, juro.

A falta de assunto. Um problema sério.

20 de abril de 2008

Daí que

É sábado, sendo que segunda é feriado e cá estou. Nada de viagens, nada de grandes planos para aproveitar os prolongamentos todos de dias de recessos, nada daquelas coisas pelas quais esperávamos ansiosamente nos tempos áureos de ócio. Ou de menos trabalho. Ou de trabalho normal, vá saber.

Ao contrário, cá estou na cidade mesmo, com o digníssimo marido trabalhando nas noites inteiras de sábado e domingo – um chuchuzinho – e três pocessos aqui do meu lado, que já há tanto me encaravam no escritório que os trouxe para passear. Sempre é bom tê-los por perto para um eventual ataque de ansiedade, que daí dá pra ir adiantando alguma coisa para aliviar as agonias todas.

Mãs. O facto é que – talvez na ânsia pelo novo, muito incauta – tentei me aventurar na cozinha. Sim, neste território nunca dantes explorado e desconhecido quase que inteiramente por esta que vos fala. Pra fazer uma sobremesa, nada de mais. Coisa que era pra ser muito simples, uma lata de leite condensado, uma de creme de leite, tantas colheres de açúcar, três ovos e chocolate em pó. Coisa envolvendo forno com banho maria, um desafio.

Coloca-se tudo no liquidificador e enquanto se unta a tal da forma com um buraco no meio, que tinha que ter o buraco pela receita, que todo o sabor se mudaria por completo em caso contrário. Bati tudo, experimentei – experiência adquirida de outras tentativas piores – e notei que havia esquecido o açúcar. Normal, de ciiiinco longos ingredientes, se esquecer de um. Daí que. Cadê que não há açúcar na casa. Açucareiro vazio, lavado e limpo. Não sei por quem, mas isso nem vem ao caso agora. Que fazer.

Eis que, muito sociável, fui em busca dos vizinhos, mais clichê impossível. Toca uma campainha e nada. Toca de volta, barulhos lá dentro, mas nada. Toquei a do lado, e o cachorro – ao menos – ouviu, que não parou de latir e causou um efeito em cadeia, de uns cinco ou seis cachorros latindo e uivando por todos os lados. Mas nada de alguém me atender. Saco.

Ta, fugi dos latidos todos e em casa encontrei uns adoçantes e, se não tem tu, vai tu mesmo.

Tudo muito certo, forma com furo devidamente untada e pronto, coloquei a mistura lá. O problema é que além dO furo, havia outros, modos que a coisa foi vazando. Tentei parar com o papel alumínio com o qual eu deveria cobrir a coisa pro tal do banho maria, mas nada.

Ah, e o banho maria. Antes disso eu reparei que nada havia nesse mundo em que coubesse a tal forma pra cozinhar no maledeto banho maria. Tive que tirar uma forma redonda com as carnes que vão ser cozinhadas amanhã – por quem sabe, maridón, e não eu, fiquem tranqüilos – limpar, lavar e lavar. Mas, como a coisa toda foi vazando e vazando, inclusive pelo chão, forno e pia – don’t ask – mudei tudo de lugar e foi em forma sem furo, sem untar e direto no forno. Que puta merda. Assim não pode, assim não dá.

Amanhã eu conto.

Tudo muito estressante, tenso e cansativo. Serei advogada pra sempre, que só isso. Se as leis e os problemas das pessoas acabarem, só o ponto cruz poderá salvar, que vou te contar.

Daí que cá estou quase no final da garrafa de vinho – aberta a duras penas, devo dizer (uma vergonha para a mulherRR independente que achei que era –, pra relaxar dessas tensões culinárias.

E alguém me disse que cozinhar era quase que uma terapia.

Sei.

14 de abril de 2008

E não é que no meio da loucura, descobri mulherzinha.

“Quando eu penso que escolhi a intensidade para lutar contra as coisas que são tiradas de mim com rapidez arrasadora, eu peço um pouco mais de tempo para que eu possa olhar com calma antes de tudo ir embora, até mesmo eu, que amanhã volto para minha vida e deixo a realidade do meu passado e o tempo, congelados na casa dos meus avós. Eu não dou conta de tudo.”

“Não me conformo com pouco e sempre digo que minha maldição enquanto mulher é não aceitar menos do que tudo, mas aceito de bom grado “a parte que me cabe nesse latifúndio”, mas que os meninos continuem meninos, e que Paris não esteja tão longe.”


Saudade matada daquele tempo de descobertas bloguísticas no meio das tardes intermináveis e de quando ainda rolava uma super identificação.

Eu também não dou conta de tudo, mas agora eu sei.

Consolo.

3 de abril de 2008

Eu sou uma pessoa nervosa.

Nervosa tipo ansiosa, não nervosa-brava. Antes fosse, até. Que de repente era mais saudável, vá saber. O que daria uma conversa muita grande e cheia de reflexões e tudo mais.

Enfim.

O facto é que eu, pessoa nervosa que sou, fico deveras agoniada com o abandono total do blog. Não pensem que não, que mesmo depois desse tempo todo sem dar o ar da graça, é tudo muito angustiante. Foi uma aligria de viver ter visto aqui Merilú ressurgindo e movimentando as cousas dantes tão paradas pela velha conhecida falta-de-tempo-pra-tudo-nessa-vida-quanto-mais-pra-escrever-no-blog.

E foi é coisa que aconteceu durante este silêncio, que nem sonhando vai dar pra atualizar bonito. Perdi o jeito pra coisa, eu acho, disso de transmitir os acontecimentos quase que em tempo real, com as impressões fresquinhas e sem muito enfeite.

Um belo dia hei de retornar à velha forma, muita fé.

Sei que o Festival querido chegou e foi-se, e nada foi comentado por cá.

Na vida real, fomos às peças, umas muito boas e outras, pra variar, nem tanto assim. Das minhas foram nove ao todo, as quais – talvez sendo até pessimista pelo ritmo das cousas – provavelmente não vão ser contadas assim, como antes. Mas qualquer hora sei que surgirão, mesmo que espalhadas no ano, quem sabe, que daí não falta assunto e fica aquela coisa super agradável do monotema.

Sei também que mudanças radicais foram um fator comum na vida das pessoas por aqui, boas, ruins, atropeladas, repentinas e boas de novo.

Como cá falo por mim, que senão falo demais, as mudanças todas ficaram em torno do trabalho, sempre ele. Continuo lá no mesmo, como há quase nove anos, os outros (o outro, no caso) é que saíram. Mas não sem antes fazer a nhaca do ano – século, milênio – e deixar os remanescentes juntando os caquinhos. Tudo regado a mentiras, traições & ambição, no melhor estilo telecine action possível. Sobreviveremos, como de fato já estamos sobrevivendo, mas a tranco foi grande.

Ansiolíticos, vejam vocês. Só eles salvam.

Daí que tomei vergonha na cara e fui numa doutora endócrino pras gorduras todas que só se acumulam. E descobri que funciono ainda pior sob pressão, que além de não emagrecer, eis que chegou com tudo quase um quilo em um mês. Bem no mês do ‘tratamento’, veja. Um chuchuzinho.

E é claro que as boas, boníssimas, coisas de la vie estavam sempre lá, na alegria e na tristeza.

Um vinhozinho com os amigos no domingo à noite em véspera de semana pesada; um vinhozinho que se multiplica em quatro como que num passe de mágica nesta mesma noite de domingo véspera de semana pesada; semana pesada que demooooora pra passar, só pensando no próximo vinhozinho; chopps e mais chopps tomados antes, depois e nos intervalos das peças do festival; mesas de bar cheias de lembranças e histórias; pedir Freedom e ainda For All no botequinho, o não é pra todo mundo (pra não exagerar na piada interna, foram os dois pratos pedidos na noite, que coincidentemente deu nessa combinação poética que só. agora alie isso a quatorze cervezitas e se tem um discurso sobre as nuances da liberdade no mundo desde a era mesozóica até a contemporaneidade).

E ir vendo né, como vão e voltam e abrem e fecham e puxam e esticam e a vida acaba rumando pro seu curso à normalidade, e que a normalidade não é esse monstro de tédio, não, muito pelo contrário.

Ta aí pra quem puder ver, ou quiser.

Ou são os ansiolíticos, vá saber ;)

30 de março de 2008

O Amor

(Vladimir Maiacovski)


"...Ressuscita-me
ainda que mais não seja
porque sou poeta
e ansiava o futuro
Ressuscita-me
lutando contra as misérias do quotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
quero acabar de viver o que me cabe
minha vida
para que não mais existam amores servis
..."

Por detrás de todo esse silêncio, a vida moveu-se como nunca.

E foi nova e diferente até onde pode ser, mas tem sempre um ponto que não se ultrapassa e a partir do qual a vida volta a ser aquilo que sempre foi até aqui.

E foi rápido e fulminante.

Estamos em casa novamente.

"Sonho, visão ou poesia
O menino me aparecia
Trazendo sobre seus ombros
Uma estrada

O menino era alegria
E a estrada não lhe pesava

Sonho, lucidez ou fantasia
Eu tinha diante dos olhos e da mente
O caminho da vida.


Milton Nascimento.

Lima.

Chegar ao nível do mar depois de tantos dias nas alturas não me fez bem, nem um pouco. Que gostei demais das montanhas, do ar rarefeito (cof!) e até da visão desfocada das coisas que as altas altitudes proporcionam.

Em Lima dava pra enxergar melhor as formas e as cores, mesmo com toda a insistente neblina que turvava a vista da praia durante todo o dia. Assim sendo, dava para enxergar também as sobrancelhas crescidas, os cabelos queimados pelo sol, a pele escurecida, seca e descascada e os pêlos todos que cresceram sem serem percebidos até então.

Antes de bater perna pelas ruas, iniciemos a depilação então, ora pois.

Nos hospedamos em Miraflores, o bairro nobre de Lima onde as pessoas passeiam pela avenida beira-mar no fim de tarde e vêem o sol se pôr no Pacífico sentados no banquinho da praça, com a Rosa Náutica ao lado, ou o Farol ou a escultura “El Beso” que enfeita a Praça del Amor, cercada ainda de mosaicos coloridos cheios de frases escritas pelos namorados. Eu já sonhei com isso uma vez, as palavrinhas perdidas montando frases...



E o Larcomar, o novo shopping construído encima das rochas, de frente para o mar que tem pedrinhas em tons de azul e lilás no lugar da areia, e onde se passeia sentindo a brisa fria, ouvindo jazz e vendo o jogo de luzes da orla quando escurece.



O bairro charmoso dos bem-nascidos que acordam com o mar na janela me lembrou o Rio. Já as avenidas largas que percorrem Miraflores, os prédios modernosos e a rica rua dos cassinos remeteram-me à pomposa Avenida Paulista. Mas aí caminhei pelo centro histórico, pelas plazas e pela rua só dos pedestres e antecipei lembranças da própria terrinha...tudo era muito parecido com Curitiba.



Mas tinha calor, o que ficou definitivamente marcado na memória quando ao caminhar pelas ruas à noite, seguindo a música e o movimento de pessoas que se aglomeravam numa praça, encontramos sem saber e sem esperar, uma Peña, festa típica em que as pessoas dançam ao som da música também típica tocada por uma pequena orquestra em plena praça, como um anfiteatro ao ar livre.

Inevitável foi nesse momento bancarmos naturalmente e sem nenhum pudor os típicos turistas deslumbrados que se sentem totalmente à vontade em terras estrangeiras ao fazer a sua primeira descoberta da cidade:

Aí concluí que Lima, de todas as cidades percorridas, era a que mais fortemente mesclava as características de todos os lugares de lá e também daqui, e provavelmente de toda a parte, sem, contudo, perder a sua marca, que assume forma ainda mais especial por não se deixar perceber de imediato.

6 de março de 2008

Pero chegou!

24 de fevereiro de 2008

Machu Picchu vista de Wayna Picchu

"E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!"
Eduardo Galeano, em O Livro dos Abraços

Andei por uma cidade invisível, encoberta pelas nuvens andinas 8 horas da manhã; andei por uma cidade de pedras e degraus, descidas, subidas e fôlegos profundos; andei por uma cidade sem igrejas, a única livre do pecado dos deuses e dos homens, que escondida entre a constante neblina passou sem ser notada pelo desatento conquistador branco; andei por uma cidade de orquídeas e lhamas, uma cidade sagrada onde turistas se acotovelavam entre ridículos chapéus e capas de chuva coloridas; andei por uma cidade monocromática assustada com flashes de câmeras japonesas, uma cidade de templos e lendas misteriosas, de ruelas estreitas e corredores esquecidos; andei por uma cidade fantasma, uma vila em ruínas, até que finalmente deitei na grama e ali fiquei, enquanto uma lhama amiga comia raminhos verdes nos meus pés, e olhando o céu entendi como rapidamente um carneiro se converte em gato que depois em caranguejo até se dispersar no vento. E então voltei e mais uma vez andei. Andei olhando a silhueta dos morros onde um homem de nariz grande descansava sorrindo; andei com os vaga-lumes na noite descendo um caminho recortado no meio da selva peruana, cutucando o chão com um pedaço de pau como um cego, vendo vultos em formas de monstros como uma criança que inventa imagens no quarto escuro.
Quem caminha por Machupicchu, cidade encontrada, sente a urgência de ver, como se fosse preciso tirar o atraso e a poeira dessa cidade tantos anos perdida. Por isso andei esperando que brotasse na cara uma dúzia mais de olhos. Inutilmente, é claro. Os olhos, nestes casos, são grandes atrapalhos, já que Machupicchu melhor se mira com mãos, pés, ouvidos, narizes e uma alma não tão pequena.

Texto de Mari Sanchez, 2005.

Cusco

*Suspiro longo*



*Suspiro longuíssimo*


Amor sublime amoRR.

Sobre Cusco, desde sempre, só ouvi coisas boas e, ainda assim, não só consegui me surpreender positivamente como passei a fazer parte da massa de visitantes que sai por aí recomendando às pessoas de todo mundo que não passem a existência sem conhecer Cusco.

Cidadezinha européia, com direito a frio congelante, céu cinza e chuva, arquitetura antiqüíssima e cercada de História por todos os lados.



Com a grande e calorosa diferença de estar na América Latina, onde se podem reconhecer todas as nossas características sociais e humanas. Detalhe este que pode ser tão bom quanto ruim.

O guia do city tour que fizemos pela cidade bem lembrou de que Cusco é a cara bonita do Peru, atrás da qual fica bem escondida a sua pobreza. Este mesmo guia ao nos mostrar as ruínas incas em volta da cidade não deixava de destacar o quanto a dominação dos espanhóis aniquilou a cultura do seu povo em nome da religião católica, o que mais tarde foi ingenuamente e em vão justificado com um: “naquele momento, a religião não estava em boas mãos”. “Pero, la religion nunca está em buenas manos”, disse ele.

Nas cidades anteriores, a constante abordagem nas ruas e pontos turísticos de vendedores ambulantes e crianças oferecendo coisas não foi tão intensa e incômoda quanto em Cusco, onde é bem mais acentuada em razão do maior turismo, além da pobreza geral evidente. Onde quer que fôssemos surgia sempre uma leva de mulheres e crianças vestidas com roupas típicas vendendo bonequinhos, gorros, mantas, souvenirs, etc, etc, o que nos obrigava a repetir incessantemente “no, gracias”, “no, gracias”...

Porém, tática realmente eficiente, e sedutora na mesma medida, eram das crianças peruanas vestidas como bonecas que apareciam sorrindo e perguntando se não gostaríamos de sacar una foto, o que custava normalmente 2 soles.

Teve uma que carregava uma alpaca bebê enrolada numa manta colorida que elas usualmente levam nas costas. Não houve como não sucumbir...

Algumas abordagens, no entanto, eram espirituosas:

City tour? No, gracias.

Passeio pelas Islas Flotantes? Já conoci.

Copacabana? Já fuimos.

La Paz? También.

Entonces, ...massage?

...

Chegou um momento em que não ter recebido pelas ruas a oferta da “massage” começou a gerar um tipo de mágoa x baixa estima.

Outro atrativo de Cusco é a noite. A boate sensação de Cusco, onde “ustede descobre que estás vivo”, o Mama África é um lugar de astral especialmente único, onde se fala todas as línguas e se encontra gente de todo o mundo e, também, onde a oferta é igualmente farta e, no caso, bem outra - se é que vocês me entendem.





Ir embora de Cusco é de cortar o coração.

9 de fevereiro de 2008

Espetáculo da vida, parte I:

Chuquito, localidade de Puno – Peru.

Chegamos em Chuquito de micro-ônibus junto com os nativos da região, depois de um tour que incluiu um trecho de bicicleta-táxi e outro de moto- táxi. Tudo muito integrativo, digamos.

Devíamos ser os únicos turistas no lugar, já que é uma festa típica da região que acontece no primeiro dia do ano. Cheguei a sentir um certo constrangimento em não estar vestida de saia rodada, xale nas costas e com o chapeuzinho de chola na cabeça.

Na nossa concepção, é um tipo de carnaval, em que várias bandas, cada uma de uma cor, instaladas numa arquibancada ao ar livre, tocam cada uma a sua música, uma do lado da outra, o que resulta numa grande balbúrdia musical. Abaixo, ficam os integrantes de cada 'escola', fantasiados, dançando ciranda e tomando todas. Aliás, todos, sem qualquer distinção de sexo ou idade, bebem todas - outra coisa que me fez associar a festa ao nosso carnaval.

Junto à festa existia uma feira, onde se vendiam os favoritos pollo frito e chorizo, dentre outras comidas típicas.

Ao final, é feita a premiação da melhor banda.

Chances como esta, de conhecer algo que acontece num lugar cuja existência até então era de todo desconhecida e que, por um lance de sorte, estamos presentes no momento em que acontece - o que ocorre uma única vez no ano -, algo tão característico, tão próprio, tão cheio de beleza, são coisas pelas quais a gente se sente alguém realmente privilegiado na vida.

8 de fevereiro de 2008

Daí que necessito desta outra pausa, nem pra falar do carnaval, já que estranhamente a pessoa escreve um post sobre o seu ano novo quando estamos de volta do carnaval - que foi bom, muito bom, na medida do possível quando se trata de carnaval, o feriado com o poder sem igual de tornar todos os lugares terríveis – mas para espalhar a boa nova de que a Cris está com o seu blog novamente de portas abertas às pessoas de toda a parte. Talvez ela me odeie por esta publicidade, mas é que a emoçã é incontida.

Perdoa!

"É como quando o seu namorado diz que vai voltar pra ex, entende? Aquela que quase destruiu a vida dele. Que acabou o namoro e ele perdeu 20 quilos e ficou desnutrido, deprimido e descrente do amoRRR. Aí você tava passando ali com a sua carrocinha, né, porque é isso que você faz vida afora, e recolheu o sem-amor. Deu casa, comida, roupa lavada, amor, carinho, compreensão, all that etc bullshit, belo dia ele chega e te diz que a ex quer voltar. Você tinha dado um voto de confiança à humanidade, abriu sua casa, sua conchinha secreta que te protege do mundo, abriu seu coração, abriu sua vida pra pessoa entrar, enfim.

E a pessoa vai embora sem mais.

E você fica na merda."

Por essas e outras que necessito.

\o/

7 de fevereiro de 2008

O Ano Novo passamos debaixo de muita chuva e muito frio em Copacabana, na beira do Lago Titicaca.

Copacabana tinha rendido muitas expectativas por conta especialmente da Isla del Sol, lugar pelo qual me encantei desde a primeira descrição.

O passeio de um dia pela Ilha possibilita conhecer a parte norte, mais distante, onde estão as paisagens mais lindas, misturando o terreno árido e montanhoso e a água cristalina do lago, as poucas casas bastante rústicas e as mulheres em seus trajes típicos vendendo tecidos e artesanatos pelo caminho.



Lá conhecemos o Pedro, carioca queridíssimo que viajava sozinho desde a Venezuela, descendo o continente, e seu amigo Uri, um israelense de 71 anos que encarava os passeios com total disposição e jovialidade carregando por toda a parte a sua mochila deveras grande e pesada.

Se, por um lado, foram fascinantes a paisagem, a oportunidade de conhecer o lago mais alto do mundo e de confirmar as informações de ser Copacabana uma cidade povoada de gringos e jovens hippies, cheia de mercearias e lugarezinhos simpáticos, por outro lado, o mau atendimento prestado aos turistas, a precariedade dos serviços nas hospedagens, o horário precoce de fechamento dos restaurantes e bares e a escassez de comida e água (ambas acabavam depois das 22 horas) causaram uma certa decepção, inevitável até mesmo aos viajantes mais simplórios e pouco exigentes.

A esta altura, continuava eu resistindo bem aos sintomas do mal de altitude, mas, em compensação, meu intestino não funcionava, meu rosto descascava em partes e nascia uma íngua no meu pescoço. No entanto, tudo estava muito bem. Nada poderia afetar afinal alguém abençoada pelo espírito inca em ritual praticamente sacro-santo acontecido às margens do Titicaca, com direito a banho de espumante boliviano no momento dA Virada.

A benção incluía um ai-ái-ah ao final da oração, o que imagino eu servia para melhor emanar as energias positivas que hão de vigorar por todo o ano!

Ai-ái-ah para ustedes tambien!!

1 de fevereiro de 2008

Por conta dos mais de 3.800 metros de altitude que nos aguardavam em La Paz, metade dos viajantes ficaram baqueados já no aeroporto. Falta de ar, dores de cabeça, sensação de cansaço, para alguns, diarréia e náuseas.

A outra metade permaneceu firme e forte, só sucumbindo à cerveja quente e espumante que era servida nos lugares. Eu mesma senti nada não. Aliás, acabei constatando que nasci mesmo foi pra viver nas alturas que, puxando pela memória, desde criança, sintomas de mal estar físico e ‘baixura’ sempre senti foi na praia, no nível 0.

Nada, entretanto, que uns dias de adaptação, chá e folhas de coca não pudessem resolver. E dá-lhe um e outro. Coisas estas com as quais não me adaptei já que na bem dizer única vez em que tomei o chá botando fé de que ficaria preparadíssima pra subir os 100m que faltavam até o Pico de 5.400m de altitude do Chacaltaya, consegui somente uma taquicardia e precipitações gastro-intestinais. Esta parte eu não precisava contar, é verdade, mas sinto uma necessidade de mim para migo mesma de justificar o fato de não ter chegado aos 5.400m, mas somente aos 5.350.

O Chacaltaya, por sinal, foi uma das maiores atrações de La Paz, passeio espetacular, com direito a no mesmo dia calor & frio em seus extremos, pânico tanto no caminho, dentro da van, da onde não se enxergava o chão da estrada, mas somente o precipício ao lado, quanto na caminhada até o Pico, com os raios e trovões que não cessavam. E a neve que presenteou os tupiniquins tropicalientes em pleno janeiro.




Aí me pergunto, e o gosto pela aventura e perigo, surgiu quando mesmo?

La Paz é um prato cheio. A cidade mais particularmente chocante e espantosa de todo o caminho. Lembrou-me “Blade Runner” ou o recente “Filhos da Esperança”. Quando o mundo estiver perto do fim, todas as cidades parecerão La Paz. E, paradoxalmente, em La Paz há muita vida. Vida que se mantém a despeito de todas as condições desumanas, a completa ausência de preocupação ecológica, o lixo, a miséria, o caos.



Nenhuma palavra melhor define La Paz do que caos, o que se evidencia em primeiro lugar, e de forma bastante impactante, no trânsito, que funciona na base da buzina, com os carros sucateados se atravessando uns sobre os outros, e também sobre os pedestres, estes um mero detalhe no meio de tudo; na imensidão de casas sem pintura e sem reboco amontoadas encima das montanhas e no povo que parece estar todo vendendo pequenezas no meio das ruas. Não só pequenezas, mas também laranja descascada, "chorizo", “pollo” frito, carne crua, pães em pilhas e pipocas.



Em La Paz conhecemos pessoas ótimas, dentre eles os mineiros Mariana, Isabela e o João, mais conhecido como “O Paceña”, já que após as explanações dos guias, quando seria normalmente o momento das dúvidas e perguntas dos turistas, ele levantava o braço e perguntava se lá onde íamos tinha paceña, uma cerveza boliviana, pra vender.
Descobri com eles e mais outro grupo de mineiros que andavam em sete meninos e uma única menina e que encontramos em todos os lugares por onde passamos, - a menina em todas as ocasiões abanando e sorrindo para nós como que pedindo desesperadamente por uma amizade feminina - que os mineiros são as pessoas mais amáveis, sociáveis e gentis de que já se ouviu falar. E eles ainda nos diziam com o jeitinho típico minêr: “acho tão lindo o sotaque ducêis”.

29 de janeiro de 2008

Charlie Gil (lê-se Guil), taxista em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia.

Segundo ele, primo do apresentador Raul Gil (o pai dele seria primo em primeiro grau).

Identificado brasileiro ao dizer: “si, si, o aeropuerto és meio longinho”.

Entre um ponto e outro da cidade que nos apresentou, ia contando piadas machistas, cortando os carros no trânsito, subindo as calçadas nas curvas, acelerando nas rodovias, até quase nos matar ao se virar todo para trás, pra fazer funcionar o vidro elétrico da janela de um carro cujos bancos eram no chão, enquanto mantinha o pé fundo no acelerador.

Pelo que foi possível perceber, fora do carro representava tanto perigo quanto dentro, já que ao avistar suposto pivete que supostamente importunaria os seus clientes, ameaçou bater nele com a garrafa de cerveja, a mesma que bebíamos em confraternização, comendo comidinhas típicas.

Na despedida, cobrou o dobro do combinado pela corrida.

Primeira grande lição:

A relação aparentemente amistosa firmada com pessoas a quem você está pagando não deve ser considerada amistosa de fato. O “Fator Gente Boa” estará neutralizado sempre que:
a) vc estiver pagando
b) vc for estrangeiro
c) vc for turista
d) todas as alternativas acima existirem conjuntamente.

Comecemos por partes...

Na tentativa de não esquecer de nenhum dos causos, de nenhuma das impressões e, principalmente, de nenhuma das pessoas que cruzaram o nosso caminho na viagem.

Mãs, tenhais paciência com esta que vos fala, que a pressa sempre foi inimiga da perfeição. Neste caso, a pressa significaria a morte matada dos fatos mais pitorescos e das sensações ainda a depurar.

Entonces, vamos lá:

De como é linda Corumbá,

onde chegamos depois de viajar a noite toda no melhor ônibus de todos os tempos, cheio de funcionalidades, com um espaço gigantesco entre as poltronas, que já eram mais largas que o normal, encosto para as pernas e, naturalmente, ar condicionado. Tudo isso me causando efusiva alegria.

Passávamos, sem saber, pelo primeiro extremo climático da viagem, que começou na sala vip da viação Andorinha, onde esperamos o ônibus por horas, assistindo ao especial do Rei na TV, abafados num calor que o mais potente ar condicionado não venceria, e terminou em tempo recorde, dando vez logo em seguida ao extremo climático inverso.

E a cidade que era para ser somente nuvem passageira e onde as circunstâncias felizmente nos obrigaram a ficar além do planejado, acabou sendo a primeira e grande boa surpresa, com os seus sobrados antigos de muros baixos, portas estreitas e mosaicos nas janelas, as árvores da rua cheias das luzes de Natal, o calor inacreditável, o nosso albergue chiquérrimo com piscina de água naturalmente morna.

Do passeio de chalana pelo Rio Paraguai, que nos proporcionou as primeiras fotos/cartão postal da viagem, o primeiro jacaré visto de perto e os bichos todos do Pantanal.



Da peixaria do Lulu e do primeiro peixe de rio; do Ney, taxista paranaense que salvou a viagem da Sio; das primeiras amizades; do primeiro desacerto.

O contraste estampado já na porta de entrada para os ‘bovilianos’ e a primeira sensação de que como o Brasil não há.

E eu que não tenho grandes simpatias por lugares quentes, me rendi ao calor de 40º à sombra e à luz do dia que faz os olhos doerem, e nem liguei pra o que não deu certo porque na verdade estava começando do modo mais acertado.

23 de janeiro de 2008

Xente xente...uma pausa para o seguinte comunicado:

De nossa querida amiga Sina (pseudônimo), notícias - acompanhadas de notas explicativas - sobre a possibilidade de celebrarmos um contrato de locação de imóvel de veraneio no próximo feriado:

"Pessoas,

Estou verificando a possibilidade de uma casa em Ingleses aproximadamente 700m da praia com 3 dormitórios pelo valor de R$250,00 por dia - R$1250,00 o período de carnaval (9 pessoas = R$ 139,00 por pessoa). Mas calma!!! Essa casa é particular, sendo assim não tem no site pra olhar. Pedi que fossem tiradas fotos e enviadas para mim. Estou aguardando o envio das mesmas.

Caso a casa seja horrível (Vamos torcer para que não!!), o Sr. Amaro informou que está sem apartamentos de 3 dormitórios para alugar. Ele ofereceu um de 2 dormitórios com 2 camas de casal e 1 de solteiro para 9 pessoas!! Achei apertado demais...colocar 9 pessoas onde deveriam ficar 5 é pedir demais!! Nesse caso a opção seria alugarmos 2 apartamentos de 2 dormitórios caso a casa não se concretize. Nesse caso cada apartamento ficaria R$1000,00 pelo período. (9 pessoas = R$222,22 por pessoa). Parece que esses apartamentos ficam na mesma região que a casa em questão.

É claro que deve ter ainda a taxa de limpeza para ambos os casos.

Vamos torcer para que a casa seja excelente, e não vamos nos decepcionar caso não seja e tenhamos que alugar os 2 apartartamentos. Lembrem-se que inicialmente estávamos prevendo 5 pessoas em 1 apartamento... o que seria R$ 200,00 por pessoa e estávamos achando ótimo. Agora poderá ficar só R$22,22 mais caro. Ou ainda pode ir mais alguém e ficar do mesmo jeito de antes só q com muito mais gente.

Beijos."

Tô boba.

21 de janeiro de 2008

O fim é belo e ...certo

Não que se queira falar de fins em período de inícios, de (re)começos e de grandes esperanças nascidas ou reforçadas pelo révelon. Mas o meu primeiro fim aconteceu já neste primeiro mês de 2008, com o fim da grande viagem aventureira que marcará os “inte”. Para os “inta” pensarei em algo tão ou mais grandioso. Porém, enquanto o seu lobo não vem, fico cá revirando as fotos, contando e lembrando causos, rindo sozinha e compartilhando as alegrias e surpresas tidas nesta viagem, absolutamente anestesiada pela realização de um plano tão aguardado e desejado.

Decretei meu período sabático de processamento das informações até que enfim estejam ordenadas as idéias. Assim, faço de conta que tamanho luxo é possível e que não há o trabalho, as obrigações, o retorno da rotina e o início brusco da engrenagem. E nem a curiosidade de Kerol e a minha auto-cobrança de colocar todas as sensações no papel.

Mas, antes disso tudo:

18 de janeiro de 2008

Fora de hora.

Daí que antes que mis amigas e compañeras queridas tragam as mileuma novidades da viagem mais super legal do século, cheias de impressões, ilustrações e comentários, deixa eu aqui postar um post (ouquei…) que já estava meio caminho pronto há duzentos e vinte e oito anos. Fora de hora, totalmente.

Mãs.

Em algum momento de novembro, fui pra Foz. Já tinha ido há dezenove alguns anos, mas realmente não me lembrava da grandeza da coisa toda. Que é grande. Deveras. E, de verdade, de tirar o fôlego. Anda-se, anda-se, anda-se, em todos os passeios e caminhos.

Com a parada anterior providencial no Paragua velho de guerra, para comprar câmera pequenina que só, então agüentem.



Águas por todos os lados, como não poderia deixar de ser.


E o Parque das Aves, que em princípio chega a dar uma agonia sem fim de ver pássaros grande e pequenos engaiolados, mas daí você chega nos viveiros mais ou menos abertos, e os animales todos passando bem ao seu lado, e tudo fica lindo.




Inclusive o pavão, que é um bicho grande que só. Muitos medos na hora que essa enormidade passa do seu (meu) lado, corajosa que sou com as cousas da natureza. Mas ele se abriu todo, vejam, e foi o melhor de tudo. Ainda mais porque com a devida distância de mi persona.

Cuja foto ficarei devendo, que achei que estava por aqui pelo escritório, mas não não.

Mas vai outro tucano então, bem lindo e desfocado, pra compensar.




Então ta, devidamente ilustrado tudo, vou fechar tudo mais cedo e vou ali na praia e já volto. Inté mais.

4 de janeiro de 2008

As salas de espera da vida acabam trazendo gratas leituras de quando em vez, como diria minha mãe.

Essa Veja rolou por todos os lados lá em casa, e só lembrei por causa da capa, do leão que teria virado papai noel com o fim da CPMF e coisa e tal.

Mãs, texto bom, muito bom. Ainda mais para os começos de ano e suas esperanças todas tão próprias e salvadoras.

Da Lya, a Luft.

As coisas boas

Recebo e-mail de um jovem de 16 anos reclamando, num texto lúcido e bem escrito, de que sou pessimista. Pois escrevi na última coluna que "ninguém faz nada", quando, segundo ele, eu deveria dar uma mensagem esperançosa a quem quer "mudar o mundo". De alguma forma, isso me comoveu. Quase todos queremos melhorar o mundo na juventude, e é bom querer não ficar rançoso, amargo ou queixoso na idade adulta. Pior ainda, chato na velhice. Sou esperançosa e otimista, por isso mesmo não posso escrever apenas sobre coisas amenas, e infelizmente não tenho mensagem nem receita para o mundo melhorar. Pois eu sou apenas mais uma pessoa que de um lado se alegra, de outro se aflige. O número espantoso de leitores desta revista me dá uma sensação de comprometimento com a não-alienação. Escondendo a realidade é que não se vai poder mudar ou melhorar coisa nenhuma.

Acho nosso momento tristíssimo. Até jornais estrangeiros importantes, que em geral não nos dão bola, registram os fatos que andam ocorrendo no Senado e em outras instâncias solenes como "coroamento da corrupção brasileira". A impressão que se tem, que eu tenho, é que ninguém anda fazendo grande coisa, ou pouca gente faz alguma coisa para melhorar. Escrever que "ninguém faz nada" é uma hipérbole literária, é como dizer, sem realmente querer dizer isso, "morri de ódio". Acho, sim, que muitos responsáveis não fazem nada, ou fazem o mal: desviam ou aplicam de maneira irresponsável dinheiro destinado aos pobres, desprezam a educação e a cultura, cospem na saúde, enganam uma montanha (não, um verdadeiro Everest...) de gente que merecia coisa melhor.

Mas também vejo muita gente fazendo muita coisa positiva, gente querendo acertar, jovens ou velhos com esperança, pessoas espalhando o bem. Cada vez que um de nós é leal com alguém, faz uma coisa boa; cada vez que respeitamos o outro com suas diferenças, seus dramas e necessidades, fazemos uma coisa boa. Cada vez que somos decentes em vez de perversos, cada vez que cultivamos compreensão e respeito em lugar de rancor, cada vez que somos carinhosos, alegres, solidários, fazemos coisas muito boas.

Cada vez que um jovem estuda, trabalha, e se constrói como pessoa produtiva e positiva, faz algo muito bom. Cada vez que um pai presta atenção no filho, cada vez que uma mãe é dedicada sem depois cobrar isso, fazem uma coisa boa. Cada vez que alguém fuma seu último cigarro, bebe seu copo derradeiro, cheira sua ultimíssima carreirinha e dá o primeiro passo numa nova vida, faz uma coisa maravilhosa. Sempre que alguém recusa uma baforada de maconha, negando-se a homenagear os traficantes que amanhã vão matar seu filho ou trucidar seu amigo, está fazendo uma coisa muito boa.

Quando olhamos uma árvore na beira da estrada, a luz do sol num gramado, a chuva na vidraça, a criança observando um besouro, um bebê dormindo, um velho rodeado pelos filhos, estamos fazendo uma coisa muito boa; cada professor mal pago que atende com dedicação seus alunos, cada médico de uma saúde pública apodrecida que cuida com humanidade de seus doentes faz uma coisa muito boa. Sempre que uma mulher aproxima os filhos do pai mostrando que ele é um ser humano, está fazendo uma coisa boa; cada filho que abraça o pai que já não o pode sustentar faz uma coisa boa. O político que rema contra a correnteza permanecendo honrado faz uma coisa muito boa.

Fazem-se muitas coisas boas neste mundo, e por isso ainda não nos matamos. Por isso ainda estamos abertos ao belo, ao bom e ao outro. Por isso vale a pena viver. Mas, sinto muito, o ser humano é um animal predador: o desejo de destruir e arruinar coexiste em todos nós com a bondade, a decência, a dignidade. Que fazer? Somos assim. Se pudermos estar do lado do bem, querendo melhorar o mundo, viva! As coisas não estarão perdidas, a amargura não vai nos dominar, a sombra acabará fugindo da claridade, e continuaremos sendo, mais que feras, humanos. Mesmo quando alguém escreve sobre as realidades menos bonitas, elas não precisam prevalecer. E muita gente continuará fazendo muita coisa boa, aos 16 anos, aos 68 ou aos 86.

1 de janeiro de 2008

Inícios.

Na verdade fiquei eu encarregada de deixar uma pequenina mensagem de final de ano, com os desejos todos de uma vida próspera, feliz e contente para todos, já que mis amadas compañeras encontram-se agora pela América Latina afora, se não me falha a memória em La Paz, onde passariam as festas das entradas.

O que significa que, muito em breve, o blog estará cheio de novidades mis e atualizações constantes, que imagino o que as duas não estão aprontando pela terra de nuestros hermanos. A história será re-escrita, aguardem.

Mãs. O facto é que, cá às voltas com sogra e sogro e cunhada e cunhado, acabei falhando miseravelmente em minha incumbência de mensagem de final de ano, ó vida.

Daí que, por conta disso, cá estou para ao menos deixar um alou de COMEÇO de ano, o que, vejam, é muito mais super legal e oportuno. Tudo friamente premeditado, na verdade.

E nada melhor do que, depois de vinte e cinco anos e meio de blog, fazer as devidas apresentações para o mundo virtual e real, desta vez devidamente ilustradas. Mesmo que sem autorização, que afinal eu estou aqui sozinhabandonada enquanto vocês desbravam terras desconhecidas por triiiinta dias! Mas EU tenho internet! Hahahaha! A vingança do pipoqueiro.

Brincadeira. Fé, que ninguém se zangará.

Prazer: Ferdi Maria, Merilú e yo.


E, é claro, todos os melhores desejos de um ano realmente alegre e contente, como não poderia deixar de ser, com ótemas experiências para todos, e com contentamentos tão grandes quanto ao de Merilú ali em cima, depois de receber presentes e mais presentes. Uma boa analogia esta, até. Agarrem os seus (presentes) com toda a empolgação e não soltem nunca mais, e que os frutos sejam sempre os melhores possíveis.