16 de janeiro de 2010

Mas sério,

É impressionante como o tempo não passa no hospital.

Coisa de louco, foram quatro dias que valeram por duas semanas. Tanto que quando cheguei em casa, foi a mesma sensação que eu tinha nos áureos tempos em que eu passava os meses de férias todos na praia. Aquela coisa de desacostumar com a própria casa. E foram quatro dias.

Daí que eu tinha uma companheira de quarto, uma senhorinha de setenta e três anos, que foi para um exame e também não tinha idéia de que precisaria ficar. Toda forte e ativa e com a família toda em volta, mesmo não sendo ela aqui de Curitiba. As filhas e filhos se viraram em vinte pra sempre ter alguém junto. E a familiagem toda tão simpática e boa de conversa quanto a matriarca doentinha.

Chegou um dia em que estava ela, com uma filha e eu com mamã querida, e mais pareceu um chá entre amigas do que internamento, único dia em que o tempo passou rápido que só.

O caso da senhorinha era bem mais grave, de longe. Ela foi fazer uma biópsia e o resultado ainda nem tinha saído e o médico, segundo a experiência dele, achou melhor começar o quanto antes com a quimio. Tudo isso sem ela saber, mas cá imagino que a essas alturas ela já saiba, tanto pelos efeitos, como também porque a desconfiança ali já era grande, que de boba a senhorinha não tinha nada.

E ela não queria por nada que eu tivesse alta, vejam. Tão sincera que era e nem disfarçava a alegria quando o médico vinha dizer para "dar uma segurada" mais um dia, que nem brava dava pra ficar. Uma tristezinha na despedida.

Peguei telefone da filha e liguei ontem. Ela tinha sido transferida para outro hospital em que o remédio (caríssimo) para a quimio era conveniado, e daí ficou mais difícil de disfarçar a real doença. Mas diz que ela estava reagindo bem, bem.

E de todas as restrições que ela tinha desde uma pancreatite recente (a velhinha é duro na queda, como diria Dona Edith), disse que do que mais sentia falta era de dirigir, tomar cerveja e comer carne de porco.

Com a exceção à carne de porco, que não faço questão nenhuma, não admira a afinidade quase que imediata entre as duas familiagens.

Mesmo eu variando entre a dor e a dopagem toda dos remédios fortes, estamos aqui na torcida pela Dona Marly, amorzinha.

Maus começos, bons fins.

Sempre disse Dona Edith, minha mãe.

E é nisso que estou me fiando neste querido 2010, que já começou com direito a internação por enxaqueca longa e inexplicável e o tempo parado dentro do hospital.

No final das contas e depois de todos os exames possíveis, eis que era o quê? O quê?? Três chances.

Sim! Tensão nervosa!

Agora conte uma novidade.

Daí aqueles velhos conselhos de "desligar-se do trabalho", "procurar fazer alguma outra atividade" e afins, finalmente serão levados a sério, que outra dessa eu sinceramente não espero passar.

Já tinham me falado que se eu não arranjasse tempo para parar um pouco, o corpo uma hora ia forçar essa parada. Mas a gente (leia-se eu) sempre força até o limite, não tem jeito. Daí dá nisso.

Não sei como, nem quando e nem onde, mas esse ano será de mudança de hábitos, tudo muito difícil. Mas não impossível, né mesmo?

E se depender do dito de Dona Edith, o final do ano promete alegrias mis, que te contar.