24 de abril de 2007

"Ser tolo, egoísta e ter boa saúde, eis as três condições para a felicidade. Mas, se falta a primeira, tudo está perdido."

Jose Ingenieros, em "O Homem Medíocre".

Um livro para se reler.

20 de abril de 2007

Tão pequena....é?

Eu sou só um você que você não quis
E querer é coisa tão pequena
Que só não sou você por um triz

Marcelo Camelo

19 de abril de 2007

A Peleja do Vaqueiro Benedito contra o Capitão João Redondo e a Cobra Madalena

Espetáculo discute as relações entre as classes sociais a partir da linguagem popular do mamulengo, utilizando-se de cirandas, cantigas de roda e grandes compositores brasileiros, enquanto bonecos/ atores e atores/ bonecos contam a história de Benedito, vaqueiro brincante que luta para defender seu Boizinho Pequi das garras do Capitão João Redondo, fazendeiro ambicioso que pensa dominar e comprar tudo o que vê e deseja.

Õmmnn
Só o título já diz tudo.

Fofurinha né?

Constava como voltada para o público 'infanto-juvenil', informação esta que me passou totalmente despercebida. Mas, tudo bem, porque era mentira. Aliás, as coisas com qualidade fazem as classificações e categorizações perderem o sentido, podendo nos trazer profundidade e boas surpresas seja como for, sem preconceitos.

E o mámulêngo, o que é?

“O mamulengo é um dos mais tradicionais formatos de teatro de bonecos no Brasil. Nesse tipo de peça, é usado um palco, e atrás dele ficam os manipuladores, ou seja, as pessoas que dão voz e movimentos aos bonecos. Durante o espetáculo, a participação da platéia é essencial, pois os atores improvisam algumas cenas de acordo com as reações do público.”

Pra começar, os 3 atores/manipuladores chegaram pela porta da frente do teatro cantando e tocando tambor, pandeiro e triângulo, vestidos de uma mistura de sertanejos/artistas de rua, chamando todos a cantarem nas paradas das musiquinhas os “uuuhh!”, “eeehh!” junto com eles. Adouro. A gente se sente tão participativa, tão dentro.

O Espaço Falec tem dessas. Em outra peça que vimos lá, também uma atriz veio nos receber no corredor e foi nos acompanhando até dentro do teatro.

Atrás do palquinho armado no meio do palco real ficavam 2 dos atores/manipuladores e fora, inserindo a história e fazendo o intercâmbio entre a platéia e os bonecos, ficava outra atriz que ainda cantava e tocava pandeiro, sempre chamando o público a cantar junto e a reagir diante dos acontecimentos.

A história propriamente é muito simples: o vaqueiro Benedito, nosso herói, tentando lutar contra o poderio do capitão João Redondo, boneco este que era praticamente só barriga e que quando caía passava o maior trabalho pra se levantar, devido à sua forma arredondada.

Benedito é dono do boizinho Pequi e isto atrai a cobiça do Capitão que manda o seu capanga que manda o policial da cidade confiscar o boizinho de Benedito. Tendo Benedito se livrado com êxito de todas as tentativas de lhe tirarem o boizinho, o Capitão envia enfim a cobra Madalena, serpente monstruosa (vide foto), contra a qual Benedito não teria chances. Será?

Ao final, os atores do Grupo Roupa de Ensaio, de Brasília, se apresentaram, contaram um pouco da formação do grupo e da tradição do mamulengo, responderam perguntas e curiosidades e passaram os bonecos para que a platéia pudesse tocá-los e brincar um pouco de mámulêngo.

Tudo muito interativo e interessante, como costumam ser as manifestações tipicamente populares e regionais.

Ói nóis aqui travêis.

Deixem-me aproveitar esta brecha que Merilú deu, ao falar mais uma vez de teatro, pra continuar a saga praticamente interminável das peças do Festival. Eu sei, eu sei, monotema total. Mas a coisa não ta fácil aqui não, capanheros, que senão eu juro que escrevia tudo assim de uma só vez all together now. Mas não dá, que alguém tem que alimentar as crianças nessa vida.

Enfim, Apareceu a Margarida:


Em 1973, o teatro brasileiro conheceu o talento do dramaturgo Roberto Athayde quando "Apareceu a Margarida" ganhou os palcos numa encenação de Aderbal Freire-Filho e Marília Pêra no papel-título. Muitos prêmios e 30 anos depois, a peça volta aos palcos do Rio, com estréia dia 16 de janeiro, no Teatro Cândido Mendes. Protagonizado agora pela atriz Marília Medina, o texto do autor carioca utiliza de um humor ácido para criticar as relações de poder. A direção da montagem é do jovem ator pernambucano Bruno Garcia.Dona Margarida é uma professora ameaçadora, que passa o tempo todo questionando seus alunos. A peça revela uma mestra que seduz, humilha e abusa do poder diante de sua classe de alunos: a platéia. Durante as aulas Dona Margarida critica o uso de drogas, explica que a matemática é à base de todas as outras disciplinas e, a biologia, a ciência da vida. Ela tem uma presença magnética no palco, mas revela-se solitária.

Uma das últimas assistidas esse ano, apesar de estar tudo completamente fora de ordem nessa confusão que cá fizemos para contar tudo e mais um pouco de cada uma das peças. Que, como bem disse Merilú, agora é questã de honra.

Lá fomos para o Teatro Paiol, um de meus preferidos de todos nessa vida. Acho que a coisa de ser meio circular, e com relativamente poucos lugares, e todo aconchegante. Não há lugar em que a apresentação não seja bem vista, uma beleza.

Daí que presenciamos a Dona Margarida, nossa professora da – salvo engano – quarta série na ocasião, sendo que nós mesmos éramos os alunos, no caso. E ficou legal isso, independente de resposta ou não do público, a coisa fica infinitamente mais interativa, mais aberta a improvisações. Não que seja eu grande entusiasta das improvisações teatrais, pelo menos não ao exagero, mãs.

Dona Margarida aparece fazendo questão de ressaltar quem é que manda, exagerando nas ordens e se contradizendo o tempo inteiro sobre o que vai ser ensinado e o que é muito cedo para nós, os alunos, aprendermos. A solidão e a fragilidade da Margarida transparecem ainda mais a cada vez que ela tenta desesperadamente se impor perante a classe, sempre se referindo a si mesma na terceira pessoa, “Dona Margarida”. E tentando até mesmo seduzir, insinuar-se e se colocar como exemplo de tudo o que de melhor existe neste mondo inteiro.

Altas gargalhadas da platéia o tempo inteiro, e ‘história’ propriamente, quase nenhuma, no sentido de uma narrativa, eu digo. Porque a coisa é toda do personagem, das suas características, lembranças e a hierarquia toda de professora e alunos, sendo ela a detentora de todo o conhecimento e nós, mais uma vez, os ignorantes.

Quase nem foi preciso o diretor Bruno feiooooso que só – sendo muito irônica neste momento – ficar sentado na platéia também, rindo alto, talvez para incentivar o povo a fazer o mesmo. Porque todo mundo fez naturalmente, bem lindo.

Juro que prefiro escrever sobre as coisas logo depois de vê-las né, pelos detalhes todos que se perdem. Ainda mais tendo eu esta memória tão desprivilegiada, mas a intenção é tudo nessa vida, né mesmo?

18 de abril de 2007

Eu nunca disse que prestava

A peça é composta de histórias curtas e flashes que exploram o universo feminino e suas carências, anseios e decepções, em especial no quadro amoroso. No palco, afetos, desafetos, carreira profissional, escolhas, vida e morte. Temas universais, que afetam todas as mulheres, se refletem nas alegrias e tristezas exploradas na peça. Com Natalia Lage, Luisa Thiré, Ana Barroso, Anna Cotrim e Murilo Grossi. Direção: Rodrigo Penna.

Essa não fez parte do Festival de Teatro, mas esteve aqui na terrinha no último fim de semana. Moi, como pessoa teatral que sou, fui lá né.

Grande parte do interesse, se não todo ele, deu-se em razão de o roteiro de Rodrigo Penna, estreante nesta área, assim como na direção da peça, ser baseado nos livros “O doido da garrafa” de Adriana Falcão e “Ao vivo” de Luciana Pessanha.

Desconheço a obra de Luciana Pessanha, mas pelo texto de Adriana Falcão de mesmo nome do livro “O doido da garrafa” tive amor à primeira vista, tendo eu inclusive usado trechos do texto por algum tempo como descrição da minha pessoa no “profile” do famigerado orkut. Sem querer com isso reduzir toda a beleza do texto ao profano mundo orkutiano, bem entendido.

Como a sinopse revela, é uma incursão ao universo feminino, com todos os pensamentos e ansiedades tipicamente femininos e a eterna busca pelo amor. Tudo com humor, o que deixou as histórias leves e divertidas.

São quatro mulheres e um homem interpretando vários personagens em pequenos quadros, ao som da trilha sonora produzida pelo mesmo Rodrigo Penna que fica lá no fundo da platéia escondido timidamente atrás do som.

O ator Murilo Grossi bem permaneceu no papel secundário de homem-gênero dentro de uma história de mulheres, aparecendo a maior parte do tempo como um ser que não compreende muita coisa, mas que acaba se rendendo às cobranças e aos caprichos das mulheres porque enfeitiçado pelos domínios femininos e que, apesar de toda a incompreensão (ou por causa dela), assim como elas, não renuncia ao desejo de viver ao lado do sexo oposto.

Uma das melhores histórias pra mim foi a da mulher prestes a subir ao altar, vestida de noiva, desabafando toda a sua dúvida em casar e em ser o noivo o homem que ela realmente desejou para si por toda a vida. Cheia de dúvidas e ponderações sobre as diferenças dos dois, ela se debate no conflito entre a vontade de viver impetuosa e destemidamente, de conhecer, de desvendar e de buscar coisas novas e a ilusória tranqüilidade trazida pela acomodação e pelo término da busca, desconfiando de que a busca tenha finalmente chegado ao fim, mas somente porque ela desistiu de encontrar o “príncipe encantado”.

Numa outra história, lendo uma carta que escreveu à sua parente contando notícias do recém-conhecido Rio de Janeiro, eis que Doris define os cariocas com a maior exatidão jamais vista dantes:

Este Rio de Janeiro é tão amostrado, Nena, que parece até que a gente tá na França de tanto canto lindo que aparece. Por outro lado, tem hora que dá pra jurar que aqui é aí, tamanha a desgraceira. O povo daqui, sendo rico ou sendo pobre, fala igualmente alto. Só não sei o motivo de tanta gritaria, se é falta de alegria ou se é falta de tristeza.

Muitas coisas realmente. Uma série de questionamentos mui salutares e despretensiosos de morais da história ou de certo e errado.

Mui Bueno!

A mente vazia é.....óóótema

Meia-noite e meia de uma terça-feira...
A Day entra no blog no Alberto (ex-BBB) e resolve comentar. Descobre então que existe um moderador que avalia os comentários antes de publicar.
Seguem os seguintes comentários:

1) Faça-nos um favor: pegue fogo. De preferência que comece pelo rabo!!! Obrigada.
2) Aposto que é o Alberto que deixa os comentários bacanas. Sempre que eu posto um comentário, o moderador me saca. Cadê a liberdade de expressão???
3) É ou não é Alberto=Moderador????
4) Aposto que você deve ficar se divertindo sacando meus comentários!!!
5) Abaixo a repressão!!!
6) Ahhh, deixa os meus comentários....só um dia!
7) Só mais uma coisa: Viva o Alemão!!!

13 de abril de 2007

Dia do Beijo

Hoje, 13 de abril, sexta-feira treze.

Quão irônico.

9 de abril de 2007


Auto para Maria – Cordel de Amor



Espetáculo com texto escrito em cordel, e que aborda tradições ligadas a festas populares brasileiras. Maria, uma menina do interior do Brasil, é convocada pela Pomba do Divino (Festa do Divino) a encontrar um anjo que confia a ela uma grande missão: levar em segredo um tesouro que deverá se revelar nas terras onde é farto o pinhão. Durante sua viagem ao Paraná, Maria e seu noivo José encontram inúmeros personagens do folclore brasileiro, entre eles Caipora, Boi-Bumbá, Cazumbá, Iara, figuras de Reisado, Pastoril e Congada.

Pois então.

Apesar de ser deveras raro nesta vida, eis um caso em que a sinopse resume praticamente tudo o que acontece na peça. Tanto a ponto de não haver surpresas ou grandes impactos a partir de então. Mãs, vamos lá.

Tudo muito simples: Maria e José viajam pelo mundo afora para cumprir a missão que lhes foi confiada pelo Anjo, que agora vejo se tratar da “pomba do divino”, tendo como destino nada menos que cá, o nosso querido Paraná. A companhia é curitibana, nada mais natural. Para cumprir esta sua missão, o casal deve vencer as dificuldades, as intrigas, as tentações, contando por vezes com a ajuda daqueles que encontram pelo longo caminho até a terra dos pinhões.

A peça mistura atuação, música e dança, com alguns e simples recursos de palco, dentre os quais a projeção de imagens em telão. Aliás, simplicidade é a palavra de ordem aqui. E, acredito eu, que essa tenha sido mesmo a intenção do grupo. Só que, por uma questã de honestidade com o grande público, cá sou obrigada a dizer que em alguns pontos ela, a simplicidade, foi tanta, que beirou o amadorismo, pincelado por alguns momentos máximos de vergonha alheia.

Mas, não me entendam mal, que eu gostei sim de tudo isso. Não foi unânime, já digo, mas essa coisa simples deu todo um charme à coisa, que foi ela mesma uma genuína manifestação popular, como as tantas retratadas na história. E o texto escrito em cordel foi um ponto pra lá de positivo, completando este ar de tanta popularidade que presenciamos.

Não sei como funciona a escolha ou distribuição dos teatros para cada peça do Festival, mas até aí – coincidência ou não – eles acertaram, já que o Teatro Cultura é uma sala bem pequena e, não preciso dizer mas digo mesmo assim, simples.

Nada de extraordinário, mas simpática e bonita.

A peça ganhou o Troféu Gralha Azul na catigoria 'Adereço', de autoria de Andreza Crocetti que, por sua vez, também atuou na peça.

As fotos, aqui. E o site de divulgação da peça, para maiores informações, acá.

5 de abril de 2007

Só pra variar um pouquinho,

"Às vezes lhe doía ter deixado com a sua passagem aquele riacho de miséria e às vezes sentia tanta raiva que espetava os dedos nas agulhas, porém mais lhe doía e com mais raiva ficava e mais lhe amargava o fragrante e bichado goiabal de amor que ia arrastando até a morte*."

(Márquez, Gabriel García. Cem Anos de Solidão)

* Tendo sido impossível encontrar uma expressão equivalente em português ao excelente achado literário de Gabriel García Márquez feito sobre um emprego regional (Antilhas, Colômbia e El Salvador) do "guayaba", preferimos manter a imagem acrescida desta nota: a goiaba é uma fruta que bicha com muita freqüência e sem apresentar marcas externas que sirvam de aviso à pessoa que come. A partir daí, da conotação afetiva de frustração que se desenvolveu no seu significado, a palavra passou a ser empregada em sentido figurado nas regiões da América Hispânica que assinalamos, com a denotação de "mentira","embuste". (...)

4 de abril de 2007

Olha só,

Ainda não acabou!

E é questã de honra escrever sobre as peças todas, sabem, já que o Festival além de ser o evento mais aguardado do ano aqui por nosotras, é também a nossa grande recompensa por sermos curitibanas.

A peça que fechou o nosso festival deste ano foi "Porcus (tm)" - maior descoberta do século tinha sido esse comando do Word que deixa as letrinhas sobrescritas, mas para a frustração total da pessoa, aqui, no mundo de html's não foi possível reproduzir a mesma dádiva - do grupo Antropofocus (trade mark) - óia, de novo - de Curitiba:


Depois do ano de 1989, o mundo nunca mais seria o mesmo. Grandes eventos abalaram tudo o que as pessoas tomavam como certo: a queda do muro de Berlim, a criação da World Wide Web, a morte de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e o lançamento do álbum Like a Prayer, de Madonna. É neste contexto que todos os líderes do mundo se reúnem, antes da noite de Ano Novo, para decidir o futuro do nosso planeta.

O grupo curitibano Antropofocus(tm) foi criado por alunos formados na Faculdade de Artes do Paraná (FAP) e se apresenta no Festival desde 2000, tendo estreado com as conhecidas peças “Amores & Sacanagens Urbanas” e “Pequenas Caquinhas”, pertencentes ao Fringe. Essas peças retornaram todos os anos, devido ao sucesso de público.

Com o espetáculo "Porcus(tm)", pela primeira vez estréiam nacionalmente no Festival dentro da Mostra Oficial.

A primeira das considerações a ser feita é de que já havíamos assistido à famosa e popular “Amores & Sacanagens Urbanas” no FTC de 2003, e, na época, lembro-me inclusive de ter escrito sobre a peça e de ter achado tudo um pastelão pretensioso, porque tinha sido aquele caso de quando a fama chega antes de qualquer impressão própria que a pessoa possa ter.

Muito diferentemente dessa primeira impressão do grupo, rendo-me ao talento dos rapazes e do diretor Andrei Moscheto, para reconhecer que “Porcus(tm)” marca a maturidade profissional do grupo e consegue fazer comédia com uma história absolutamente louca e inteligente, baseada em fatos e marcos da história e com nítida inspiração em obras de grandes escritores e do grupo inglês de comédia Monty Phyton.

A história parte do último dia do ano de 1989 com os grandes líderes mundiais (Gorbatchev, Bush, Thatcher, Fidel Castro, Papa João Paulo II e, por que não, Collor) reunidos para decidir o melhor, para eles. Com este intuito, decretam a exclusão de todos os indesejáveis, como os países africanos e a Argentina, e de tudo o que for elemento cultural, levando em conta a produção musical da Xuxa.

Passam a viver então nA Superfície, um mundo asséptico, onde as pessoas vivem a base de pílulas da felicidade e se referem umas às outras indistintamente por “Camarada Friend”, enquanto os indesejáveis são enviados todos para o esgoto, o mundo de Porcus. Como canal entre um mundo e outro existe o Grande Ralo.

Como recurso cênico, para os personagens viventes na Superfície são utilizadas fotografias ampliadas de seus próprios rostos como uma máscara em tamanho desproporcional ao corpo e que possui articulação na boca, sendo as vozes gravadas previamente. Algo como isso:



Um integrante da Superfície acaba caindo pelo Grande Ralo e no esgoto é encontrado por dois habitantes de Porcus que imaginam ser ele o "Messias". Daí desenvolve toda a história.

Sacada realmente genial foi a da malfadada Revolução encabeçada pelo integrante da superfície caído em Porcus e mais dois sujeitos dos esgotos ser impedida por uma artimanha de defesa do chefe dos esgotos que foi a de ligar a televisão na frente dos revoltosos quando eles se preparavam para atacar, detalhe, com uma reprise de jogo de futebol Brasil x Argentina.

Obviamente que o jogo os distraiu.

Isso muito me remete à Copa do ano passado ocorrida em meio a todos os escabrosos escândalos de corrupção do governo e que parece ter anestesiado a todos em momento bastante providencial.

Coisas do gênero acontecem aos montes em "Porcus(tm)". Mãs, conter-me-ei e não contarei mais nada. Vão conferir que vale muitíssimo a pena. Pelo que li estão todos aguardando nova temporada da peça pelas próximas semanas e, após, possivelmente eles entrem em turnê pelo Brasil.

Porque os créditos são obrigatórios e nós respeitamos o direito autoral, as fotos são daqui e daqui.

3 de abril de 2007

"Não existe bem ou mal: só conhecimento e ignorância".

Mais uma das onze peças assistidas esse ano, que pelo jeito até dezembro vamos escrever sobre, foi A sobrancelha é o bigode do olho – Uma conferência do Barão de Itararé.



Convidado a explanar sobre otimismo, o Barão de Itararé acaba por destilar seu humor crítico acerca dos temas mais improváveis do cotidiano. Mas sem falsa modéstia, acaba por apresentar aos afortunados ouvintes, o “ovo-de-colombo” para um convívio harmonioso com a incoerência humana.

Antes de mais tudo, é bom se saber quem foi a figura(ça) do Barão de Itararé. Para isso, recorramos mais uma vez ao nosso amado Releituras, poupando o trabalho de vocês de ler um texto enorme aqui no blog. Mas não me enganem, leiam lá que vai cair na prova. Pincelando as mais relevantes, entre tantas façanhas, um resumo amigo:

Apparicio Fernando de Brinkerhoff Torelly era o seu nome verdadeiro. Viveu de 1895 a 1971. Em 1918, durante as suas férias, sofreu um derrame, abandonando a faculdade de medicina e iniciando, a partir daí, uma série de viagens pelo interior, fazendo conferências sobre diversos assuntos. Publicou vários sonetos e artigos em jornais e revistas, trabalhou em outros jornais, dentre os quais O Globo, fundando o seu próprio em 1926, "A Manha".
Em 1930, com a revolução, proclamou-se Duque de Itararé, herói da batalha que não houve. Semanas depois, rebaixou-se a Barão como prova de modéstia.
Foi preso, ao que tudo indica, duas vezes por seus ideais revolucionários publicados muitas vezes em seu jornal.
E se conta uma pequena história a seu respeito:

Corria o ano de 1928. Em Porto Alegre, uma conferência sobre pesquisa para descobrir a causa da aftosa (doença que ataca o gado) mobilizava um público atento. Getúlio Vargas, então deputado no Distrito Federal (Rio de Janeiro), estava presente. O conferencista, dono de argumentação técnica consistente, impressionava. No encerramento, disse:
— É imperioso que desenvolvamos esse tipo de pesquisa, para benefício do Brasil, pois que uma vacina eficaz contra a aftosa tem grande significado econômico.
Criado o clima de gran finale, aumentou a voltagem atmosférica, ao desafiar, subitamente:
— Afinal de contas, quem é que somos nós? Repito: quem é que somos nós?
Ato contínuo, frente a uma platéia literalmente hipnotizada, o conferencista começou a dançar e a cantar o conhecido hino: "Nós somos da pátria amada, fiéis soldados...". E dançando e cantando saiu da sala.


Daí que tudo isso faz parte da peça em questã. Um monólogo de pouco mais de uma hora, em que o Barão de Itararé é incorporado com muita propriedade pelo ator Márcio Vito, passando a divagar sobre os mais variados assuntos, demonstrar algumas de suas teorias mais mirabolantes e, acima de tudo, filosofar sobre os assuntos da vida com todo o otimismo possível ao seu público, a platéia.

Completamente à vontade no corpo do Barão, o experiente ator diverte e entretém com uma espontaneidade que só à custa de muito trabalho de pesquisa de época, costumes e da própria figura retratada, é que se adquire da maneira tão clara como foi mostrada. Muito, muito bom.

E vocês vejam né, o que não é a versatilidade da pessoa. Estávamos nós lá com o Barão de Itararé tão bem incorporado – nem falo interpretado pra não diminuir a força toda da atuação do moço – e, quando a peça acabou, me volta o ator de lá de dentro, despido completamente de seu personagem, pelo simples fato de ter tirado os óculos. Toda uma expressão que mudou, sem ele tirar praticamente nada das roupas de senhor de época, e ainda assim se via perfeitamente a diferença. Coisa de louco, a satisfação que dá neste momento.

Tão diferente a outras que vimos pela vida afora, em que nem se via o personagem, era o ator e só o ator, o mesmo que fazia a peça e aparecia depois para agradecer e dar os recados. Coisa mais sem graça, trabalho nenhum. Assim, até eu.

Ouquei, menos, menos.

Lindo o trabalho da equipe toda de não sei quantas pessoas, a interpretação do querido Marcio, e o ritmo da peça, que não caiu em um momento sequer. Porque monólogo é um perigo que só, mesmo para quem já está relativamente acostumado com o negócio.

As fotos, como quase sempre, são daqui.

2 de abril de 2007

Acabou-se o que era doce.

A 16ª edição do Festival de Teatro de Curitiba chegou ao fim no domingo, dia 01/04. Triste, muito triste...

Ainda assim, temos váárias peças do último fim de semana de Festival para compartilhar com todos. Uma delas foi “Essa Nossa Juventude”, peça do americano Kenneth Lonergan cujo texto foi traduzido e produzido por Maria Luísa Mendonça e sua amiga, a dramaturgista Christiane Riera:

Edu, Denis e Jéssica estão perdidos, distantes dos pais, não muito seguros de si mesmos e ainda amedrontados com o futuro. Em apenas dois dias, o embate entre eles revela gradualmente a angústia de enfrentar o mundo lá fora por conta própria. Apesar de ainda inseguros, eles estão armados com idéias e estratégias de sobrevivência que eles mesmos desenvolveram e que provam serem muito mais sofisticadas do que seus pais imaginam, mas menos eficazes e mais perigosas do que eles esperam.


A peça busca retratar 48 horas na vida de três adolescentes na faixa dos 18 aos 20 anos. De como supostamente os adolescentes ocupam o seu tempo (todo ou quase todo ocioso) remoendo-se de inseguranças e dominados pela necessidade de se auto-afirmarem.

O jovem Denis mora sozinho num apartamento pago pelos pais, porque os pais, ao que parece, não mais queriam a presença do rapaz no convívio familiar. Denis vive de vender maconha e outras drogas aos seus amigos. Edu é um jovem, muito jovem mesmo, que, numa briga com o pai, é expulso de casa e vai se refugiar no apartamento do amigo Denis, durante o fim de semana.

Edu, antes de sair de casa, rouba um saco de dinheiro do pai e leva consigo, usando parte deste dinheiro pra pagar a dívida que tinha com o amigo Denis, pelo fornecimento assíduo de maconha.

Os dois passam então a bolar um plano para devolver todo o dinheiro roubado ao pai de Edu, sem que o pai se dê por conta do sumiço e, ao mesmo tempo, aproveitar parte da grana com alguma diversão que, obviamente, inclui muitos artigos entorpecentes, bebidas, mulheres e extravagâncias. Tudo isso imaginando lucrar em poucas horas o dobro ou o triplo do valor a ser reembolsado ao pai.

Denis faz o tipo adolescente sabichão, cheio de manha e facilidade com as mulheres. Edu faz o tipo atrapalhado, inseguro, frágil e dependente do amigo. Ambos são o resultado de famílias desestruturadas e pais ausentes.

Nada do que foi planejado por eles, como era de se esperar, dá certo, mas no meio de tudo Edu consegue ao menos se envolver com Jéssica, a terceira adolescente, com quem ensaia um início do que se poderia chamar de romance. No entanto, todos são adolescentes inábeis e problemáticos, o que significa dizer que não só não conseguem se comunicar com os pais, ou com qualquer outro adulto, como também entre eles nada engata com muita facilidade.

O texto traduzido procurou inserir as gírias e maneiras de falar típicas dos nossos adolescentes e é carregado ainda de palavrões e expressões bastante chulas.

Não é, por isso, nenhum texto que acrescente grande coisa ou mesmo desperte curiosidade em qualquer pessoa que tenha mais de 25 anos ou que não tenha filhos adolescentes e queira desesperadamente saber como eles agem quando estão entre eles. Diria que, levando em conta a peça, qualquer pai de filho adolescente deveria ficar no mínimo preocupado em como o pimpolho crescidinho anda passando o tempo.

Em vários momentos pensei estar assitindo à uma versão teatral de "Kids", excluída a problemática da aids.

Além disso, a peça é muito longa e já inicia cansativa no primeiro diálogo que bem poderia ter uns vinte ou trinta minutos a menos, sem que nada da sua essência fosse comprometido.

Na verdade, a sinopse nos induz a um erro, descoberto nos primeiros cinco minutos de peça, de serem os dramas e questões existenciais vividos pelos personagens algo de alguma relevância ou profundidade, quando, de fato, os adolescentes retratados se resumem a lamentar a indiferença dos pais, que parecem tão ou mais infantis que eles, a se meter em todo o tipo de trapalhada e a fumar maconha o dia todo.

De bom mesmo destacamos a atuação do Caio Blat, que está muito bem no papel, diga-se, imerecido, de adolescente amental, como diria a Fer.