29 de janeiro de 2008

Charlie Gil (lê-se Guil), taxista em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia.

Segundo ele, primo do apresentador Raul Gil (o pai dele seria primo em primeiro grau).

Identificado brasileiro ao dizer: “si, si, o aeropuerto és meio longinho”.

Entre um ponto e outro da cidade que nos apresentou, ia contando piadas machistas, cortando os carros no trânsito, subindo as calçadas nas curvas, acelerando nas rodovias, até quase nos matar ao se virar todo para trás, pra fazer funcionar o vidro elétrico da janela de um carro cujos bancos eram no chão, enquanto mantinha o pé fundo no acelerador.

Pelo que foi possível perceber, fora do carro representava tanto perigo quanto dentro, já que ao avistar suposto pivete que supostamente importunaria os seus clientes, ameaçou bater nele com a garrafa de cerveja, a mesma que bebíamos em confraternização, comendo comidinhas típicas.

Na despedida, cobrou o dobro do combinado pela corrida.

Primeira grande lição:

A relação aparentemente amistosa firmada com pessoas a quem você está pagando não deve ser considerada amistosa de fato. O “Fator Gente Boa” estará neutralizado sempre que:
a) vc estiver pagando
b) vc for estrangeiro
c) vc for turista
d) todas as alternativas acima existirem conjuntamente.

Comecemos por partes...

Na tentativa de não esquecer de nenhum dos causos, de nenhuma das impressões e, principalmente, de nenhuma das pessoas que cruzaram o nosso caminho na viagem.

Mãs, tenhais paciência com esta que vos fala, que a pressa sempre foi inimiga da perfeição. Neste caso, a pressa significaria a morte matada dos fatos mais pitorescos e das sensações ainda a depurar.

Entonces, vamos lá:

De como é linda Corumbá,

onde chegamos depois de viajar a noite toda no melhor ônibus de todos os tempos, cheio de funcionalidades, com um espaço gigantesco entre as poltronas, que já eram mais largas que o normal, encosto para as pernas e, naturalmente, ar condicionado. Tudo isso me causando efusiva alegria.

Passávamos, sem saber, pelo primeiro extremo climático da viagem, que começou na sala vip da viação Andorinha, onde esperamos o ônibus por horas, assistindo ao especial do Rei na TV, abafados num calor que o mais potente ar condicionado não venceria, e terminou em tempo recorde, dando vez logo em seguida ao extremo climático inverso.

E a cidade que era para ser somente nuvem passageira e onde as circunstâncias felizmente nos obrigaram a ficar além do planejado, acabou sendo a primeira e grande boa surpresa, com os seus sobrados antigos de muros baixos, portas estreitas e mosaicos nas janelas, as árvores da rua cheias das luzes de Natal, o calor inacreditável, o nosso albergue chiquérrimo com piscina de água naturalmente morna.

Do passeio de chalana pelo Rio Paraguai, que nos proporcionou as primeiras fotos/cartão postal da viagem, o primeiro jacaré visto de perto e os bichos todos do Pantanal.



Da peixaria do Lulu e do primeiro peixe de rio; do Ney, taxista paranaense que salvou a viagem da Sio; das primeiras amizades; do primeiro desacerto.

O contraste estampado já na porta de entrada para os ‘bovilianos’ e a primeira sensação de que como o Brasil não há.

E eu que não tenho grandes simpatias por lugares quentes, me rendi ao calor de 40º à sombra e à luz do dia que faz os olhos doerem, e nem liguei pra o que não deu certo porque na verdade estava começando do modo mais acertado.

23 de janeiro de 2008

Xente xente...uma pausa para o seguinte comunicado:

De nossa querida amiga Sina (pseudônimo), notícias - acompanhadas de notas explicativas - sobre a possibilidade de celebrarmos um contrato de locação de imóvel de veraneio no próximo feriado:

"Pessoas,

Estou verificando a possibilidade de uma casa em Ingleses aproximadamente 700m da praia com 3 dormitórios pelo valor de R$250,00 por dia - R$1250,00 o período de carnaval (9 pessoas = R$ 139,00 por pessoa). Mas calma!!! Essa casa é particular, sendo assim não tem no site pra olhar. Pedi que fossem tiradas fotos e enviadas para mim. Estou aguardando o envio das mesmas.

Caso a casa seja horrível (Vamos torcer para que não!!), o Sr. Amaro informou que está sem apartamentos de 3 dormitórios para alugar. Ele ofereceu um de 2 dormitórios com 2 camas de casal e 1 de solteiro para 9 pessoas!! Achei apertado demais...colocar 9 pessoas onde deveriam ficar 5 é pedir demais!! Nesse caso a opção seria alugarmos 2 apartamentos de 2 dormitórios caso a casa não se concretize. Nesse caso cada apartamento ficaria R$1000,00 pelo período. (9 pessoas = R$222,22 por pessoa). Parece que esses apartamentos ficam na mesma região que a casa em questão.

É claro que deve ter ainda a taxa de limpeza para ambos os casos.

Vamos torcer para que a casa seja excelente, e não vamos nos decepcionar caso não seja e tenhamos que alugar os 2 apartartamentos. Lembrem-se que inicialmente estávamos prevendo 5 pessoas em 1 apartamento... o que seria R$ 200,00 por pessoa e estávamos achando ótimo. Agora poderá ficar só R$22,22 mais caro. Ou ainda pode ir mais alguém e ficar do mesmo jeito de antes só q com muito mais gente.

Beijos."

Tô boba.

21 de janeiro de 2008

O fim é belo e ...certo

Não que se queira falar de fins em período de inícios, de (re)começos e de grandes esperanças nascidas ou reforçadas pelo révelon. Mas o meu primeiro fim aconteceu já neste primeiro mês de 2008, com o fim da grande viagem aventureira que marcará os “inte”. Para os “inta” pensarei em algo tão ou mais grandioso. Porém, enquanto o seu lobo não vem, fico cá revirando as fotos, contando e lembrando causos, rindo sozinha e compartilhando as alegrias e surpresas tidas nesta viagem, absolutamente anestesiada pela realização de um plano tão aguardado e desejado.

Decretei meu período sabático de processamento das informações até que enfim estejam ordenadas as idéias. Assim, faço de conta que tamanho luxo é possível e que não há o trabalho, as obrigações, o retorno da rotina e o início brusco da engrenagem. E nem a curiosidade de Kerol e a minha auto-cobrança de colocar todas as sensações no papel.

Mas, antes disso tudo:

18 de janeiro de 2008

Fora de hora.

Daí que antes que mis amigas e compañeras queridas tragam as mileuma novidades da viagem mais super legal do século, cheias de impressões, ilustrações e comentários, deixa eu aqui postar um post (ouquei…) que já estava meio caminho pronto há duzentos e vinte e oito anos. Fora de hora, totalmente.

Mãs.

Em algum momento de novembro, fui pra Foz. Já tinha ido há dezenove alguns anos, mas realmente não me lembrava da grandeza da coisa toda. Que é grande. Deveras. E, de verdade, de tirar o fôlego. Anda-se, anda-se, anda-se, em todos os passeios e caminhos.

Com a parada anterior providencial no Paragua velho de guerra, para comprar câmera pequenina que só, então agüentem.



Águas por todos os lados, como não poderia deixar de ser.


E o Parque das Aves, que em princípio chega a dar uma agonia sem fim de ver pássaros grande e pequenos engaiolados, mas daí você chega nos viveiros mais ou menos abertos, e os animales todos passando bem ao seu lado, e tudo fica lindo.




Inclusive o pavão, que é um bicho grande que só. Muitos medos na hora que essa enormidade passa do seu (meu) lado, corajosa que sou com as cousas da natureza. Mas ele se abriu todo, vejam, e foi o melhor de tudo. Ainda mais porque com a devida distância de mi persona.

Cuja foto ficarei devendo, que achei que estava por aqui pelo escritório, mas não não.

Mas vai outro tucano então, bem lindo e desfocado, pra compensar.




Então ta, devidamente ilustrado tudo, vou fechar tudo mais cedo e vou ali na praia e já volto. Inté mais.

4 de janeiro de 2008

As salas de espera da vida acabam trazendo gratas leituras de quando em vez, como diria minha mãe.

Essa Veja rolou por todos os lados lá em casa, e só lembrei por causa da capa, do leão que teria virado papai noel com o fim da CPMF e coisa e tal.

Mãs, texto bom, muito bom. Ainda mais para os começos de ano e suas esperanças todas tão próprias e salvadoras.

Da Lya, a Luft.

As coisas boas

Recebo e-mail de um jovem de 16 anos reclamando, num texto lúcido e bem escrito, de que sou pessimista. Pois escrevi na última coluna que "ninguém faz nada", quando, segundo ele, eu deveria dar uma mensagem esperançosa a quem quer "mudar o mundo". De alguma forma, isso me comoveu. Quase todos queremos melhorar o mundo na juventude, e é bom querer não ficar rançoso, amargo ou queixoso na idade adulta. Pior ainda, chato na velhice. Sou esperançosa e otimista, por isso mesmo não posso escrever apenas sobre coisas amenas, e infelizmente não tenho mensagem nem receita para o mundo melhorar. Pois eu sou apenas mais uma pessoa que de um lado se alegra, de outro se aflige. O número espantoso de leitores desta revista me dá uma sensação de comprometimento com a não-alienação. Escondendo a realidade é que não se vai poder mudar ou melhorar coisa nenhuma.

Acho nosso momento tristíssimo. Até jornais estrangeiros importantes, que em geral não nos dão bola, registram os fatos que andam ocorrendo no Senado e em outras instâncias solenes como "coroamento da corrupção brasileira". A impressão que se tem, que eu tenho, é que ninguém anda fazendo grande coisa, ou pouca gente faz alguma coisa para melhorar. Escrever que "ninguém faz nada" é uma hipérbole literária, é como dizer, sem realmente querer dizer isso, "morri de ódio". Acho, sim, que muitos responsáveis não fazem nada, ou fazem o mal: desviam ou aplicam de maneira irresponsável dinheiro destinado aos pobres, desprezam a educação e a cultura, cospem na saúde, enganam uma montanha (não, um verdadeiro Everest...) de gente que merecia coisa melhor.

Mas também vejo muita gente fazendo muita coisa positiva, gente querendo acertar, jovens ou velhos com esperança, pessoas espalhando o bem. Cada vez que um de nós é leal com alguém, faz uma coisa boa; cada vez que respeitamos o outro com suas diferenças, seus dramas e necessidades, fazemos uma coisa boa. Cada vez que somos decentes em vez de perversos, cada vez que cultivamos compreensão e respeito em lugar de rancor, cada vez que somos carinhosos, alegres, solidários, fazemos coisas muito boas.

Cada vez que um jovem estuda, trabalha, e se constrói como pessoa produtiva e positiva, faz algo muito bom. Cada vez que um pai presta atenção no filho, cada vez que uma mãe é dedicada sem depois cobrar isso, fazem uma coisa boa. Cada vez que alguém fuma seu último cigarro, bebe seu copo derradeiro, cheira sua ultimíssima carreirinha e dá o primeiro passo numa nova vida, faz uma coisa maravilhosa. Sempre que alguém recusa uma baforada de maconha, negando-se a homenagear os traficantes que amanhã vão matar seu filho ou trucidar seu amigo, está fazendo uma coisa muito boa.

Quando olhamos uma árvore na beira da estrada, a luz do sol num gramado, a chuva na vidraça, a criança observando um besouro, um bebê dormindo, um velho rodeado pelos filhos, estamos fazendo uma coisa muito boa; cada professor mal pago que atende com dedicação seus alunos, cada médico de uma saúde pública apodrecida que cuida com humanidade de seus doentes faz uma coisa muito boa. Sempre que uma mulher aproxima os filhos do pai mostrando que ele é um ser humano, está fazendo uma coisa boa; cada filho que abraça o pai que já não o pode sustentar faz uma coisa boa. O político que rema contra a correnteza permanecendo honrado faz uma coisa muito boa.

Fazem-se muitas coisas boas neste mundo, e por isso ainda não nos matamos. Por isso ainda estamos abertos ao belo, ao bom e ao outro. Por isso vale a pena viver. Mas, sinto muito, o ser humano é um animal predador: o desejo de destruir e arruinar coexiste em todos nós com a bondade, a decência, a dignidade. Que fazer? Somos assim. Se pudermos estar do lado do bem, querendo melhorar o mundo, viva! As coisas não estarão perdidas, a amargura não vai nos dominar, a sombra acabará fugindo da claridade, e continuaremos sendo, mais que feras, humanos. Mesmo quando alguém escreve sobre as realidades menos bonitas, elas não precisam prevalecer. E muita gente continuará fazendo muita coisa boa, aos 16 anos, aos 68 ou aos 86.

1 de janeiro de 2008

Inícios.

Na verdade fiquei eu encarregada de deixar uma pequenina mensagem de final de ano, com os desejos todos de uma vida próspera, feliz e contente para todos, já que mis amadas compañeras encontram-se agora pela América Latina afora, se não me falha a memória em La Paz, onde passariam as festas das entradas.

O que significa que, muito em breve, o blog estará cheio de novidades mis e atualizações constantes, que imagino o que as duas não estão aprontando pela terra de nuestros hermanos. A história será re-escrita, aguardem.

Mãs. O facto é que, cá às voltas com sogra e sogro e cunhada e cunhado, acabei falhando miseravelmente em minha incumbência de mensagem de final de ano, ó vida.

Daí que, por conta disso, cá estou para ao menos deixar um alou de COMEÇO de ano, o que, vejam, é muito mais super legal e oportuno. Tudo friamente premeditado, na verdade.

E nada melhor do que, depois de vinte e cinco anos e meio de blog, fazer as devidas apresentações para o mundo virtual e real, desta vez devidamente ilustradas. Mesmo que sem autorização, que afinal eu estou aqui sozinhabandonada enquanto vocês desbravam terras desconhecidas por triiiinta dias! Mas EU tenho internet! Hahahaha! A vingança do pipoqueiro.

Brincadeira. Fé, que ninguém se zangará.

Prazer: Ferdi Maria, Merilú e yo.


E, é claro, todos os melhores desejos de um ano realmente alegre e contente, como não poderia deixar de ser, com ótemas experiências para todos, e com contentamentos tão grandes quanto ao de Merilú ali em cima, depois de receber presentes e mais presentes. Uma boa analogia esta, até. Agarrem os seus (presentes) com toda a empolgação e não soltem nunca mais, e que os frutos sejam sempre os melhores possíveis.