7 de agosto de 2007

Prosseguindo com o monotema...

Santiago, que já chegou lá, explica-nos o processo:

"Verdade que em dias como hoje não sei se estou com frio, se estou com fome, se é só gula, carência ou sono. Carência que faz ter frio. Ou frio que faz ter fome. Gula pela carência. Frio que me faz querer...

Continuando com a crise de meia-idade, fiquei pensando que não se pode mesmo confiar em ninguém com mais de 30. Essas pessoas nem sabem se têm frio, se têm fome, se estão só carentes, com sono ou recalcadas.


A verdade, é que depois da "passagem" a gente acredita que tem de ficar mais adulto... ou mais sofisticado. Ou a gente fica com preguiça do esforço, do ímpeto e da transgressão, e acaba se conformando com tanta coisa que a gente nem acredita.

Tenho me pegado tanto analisando meus valores. Acho que estou me tornando uma pessoa pior. Acho que meus valores são discutíveis. Mas então, encontro as pessoas que estudaram comigo, as pessoas da minha idade, as pessoas mais velhas, dos mesmos círculos, e elas estão todas assentindo e reafirmando os maiores absurdos que eu pratico, mas não concordo. Elas estão reafirmando valores em que eu penso, mas não admiro. Elas se permitem indulgências, deslizes, futilidades e as elevam para categoria de qualidade.

(...)

Por isso eu digo: faça enquanto é tempo. Faça cedo. Busque logo para você os rótulos de revelação, promessa, prodígio. Tudo o que você conquistar depois não terá graça, não terá validade, será apenas sua obrigação. E cada comemoração na sua vida virá acompanhada de uma dor nas costas."

Pombas.

Rolou assim uma identificação faraônica com a descrição toda.

Abster-me-ei de comentários, que muito provavelmente só repetisse as mesmas palavras.

Mas, ...é por aí.

É muito por aí.

2 comentários:

Anônimo disse...

ah, mas muito deprê, muito terror, esse texto do Nazarian. muito chororô diante de algarismos.

não que eu, 29, esteja pleno e lampeiro, esperando A Chegada, sem tremores. nada. também me pergunto tantas coisas. mas;

primeiro de tudo é perceber que hoje fazer 30 _não_ é a mesma coisa do que fazer 30 quando a gente era piá e isso era um futuro longínquo. mudou tanto quanto já fica estranho chamar alguém de 60 de "vô" simplesmente porque é sexagenário. o tempo ficou mais elástico. cabe mais vida.

que o ritmo, o tempo mudou. e o nosso desenvolvimento. as necessidades de um jovem pós-90 são diferentes. amadurecemos em outra velocidade (e isso não é certo nem errado). dá mais uma década e fazer 30 vai ser qualquer coisa banal. que, nos antigamentes, "o mundo é dos adultos", os abismos, ter 30 é "estar pronto", saber tudo, existir finalmente, sair da preparação, o 'agora vai'!

tudo imaginação. e reflexo de um tempo onde as pessoas, aos 30, já deveriam família, filhos, apê do BNH e um Fusca. ou: fracassados. essa pressão não se aplica mais. estamos em outra fase da Modernidade. (leiam Bauman, leiam Bauman.)

outra, é notar que o tempo não corre na frente, e sim nos leva na mão. é, dá um estranhamento quando um amigo casa, o outro já casou e teve filho, e a gente aqui, vergando o fim do juventude? que nada. pro bem ou pro mal, continuamos sendo nós mesmos. notamos aqui e ali as mutações, festejamos algumas e lamentamos outras, mas - nos vemos no processo. porque somos o processo. ser é estar. e não tem efeméride que pese mais do que a própria existência.

ou, pelo menos é assim que eu tenho encarado :) ...e se tenho momentos em que posso me orgulhar de mim, é porque tive que passar por todo esse caminho pra chegar até aqui.


a parte chata é que, aos 18, eu pensava que pudesse dizer coisas desse tipo, e eu jovem apontava pra mim do futuro e dizia, "rá, te explica, seu velho!" :D

MARIANA disse...

Bom...

Tiagón querido. Tu deves ter razão.

Mas a gente (ou eu, não sei) sempre tende a um certo fatalismo e acho mesmo inevitáveis as lamúrias pré 30 anos tendo um cérebro tão tarimbado a condicionamentos históricos, sobretudo porque desconfio da autenticidade dessa evolução dos tempos e dessa nova forma de ver a passagem do tempo.

Sei não se vivemos o 'reflexo' do tempo em que as pessoas aos 30 já tinham família, apê do BNH e fusca, ou, se a família, o apê e o fusca foram tão somente adaptados aos seus substitutos modernos.

Ao mesmo tempo captei, captei inteiramente isso de que a mentalidade deve evoluir acompanhando as novas fases, e não ficar atrelada às percepções passadas e distantes que temos de cada coisa. De fato, aos 12, era muito normal achar que aos 25 toda a pessoa já estaria casada e com filhos, profissão definida e emprego certo, panorama este que não era difícil de visualizar, porque quando eu tinha 12, a vida das pessoas de 25 não costumava fugir à esta regra. E a gente cresce e chega aos 25 e continua pensando que deveria estar assim ou assado, afinal, era esta a percepção que se teve dos 25 desde sempre.

Tua visão é moderníssima, super de vanguarda e, por si só, já é razão pra te orgulhares de ti.

Valeu!

Besos para ti!