29 de maio de 2008

De Gramado, Canela e Adjacências,
desta vez, por Mariana


Excursão.

Aquela coisa.

Fiquei um pouco atordoada quando percebi que a guia passaria os 4 dias seguintes, no decorrer de todos os passeios, falando e falando e falando nos nossos ouvidos. E falando no gerúndio, o que é bastante pior. Este o primeiro fenômeno peculiar da viagem: a guia somente falava no gerúndio quando fazia as explanações; nas conversas descomprometidas ela ressuscitava o bom português e falava certinho.

Aí que o grande barato da viagem foi mesmo o grupo da excursão.

Tinha de um tudo, minha gente.

Nós, as únicas xóvens solteiras, além de um outro xóvem solteiro que acompanhava o casal de velhinhos senhores seus pais, a fim de evitar que o casal se matasse; vários casais de meia-idade, alguns casais xóvens, dentre eles um em lua-de-mel e outro cujo marido era a cara do Zed do Loucademia de Polícia; uma mãe e uma filha e uma solteira de meia-idade psicanalisada (palavras dela mesma). E um metrossexual de meia-idade cantor da velha guarda.

Inevitáveis foram os acessos de riso, portanto. E os cochichos seguidos de risadinhas presas, o que gerava, Kerol sabe, aquela explosão mais ruidosa que a gargalhada propriamente. Isso tudo grande parte das vezes enquanto a guia explanava, mas todos os santos são testemunhas de que era para desviar a atenção do gerundismo todo que doía no ouvido.

Eu tenho 8 anos.

Mãs, ...não sem motivo: todos os restaurantes que íamos em que eventualmente houvesse música ao vivo, o nosso amigo cantante levantava a hipótese de dar uma palhinha até que no meio do repertório ora de canções italianas ora de música gaudéria, ele subia ao palco pra cantar “Ronda” ou “Chega de saudade”, em interpretações altamente teatrais absolutamente apaixonado por si mesmo que era. Quando desceu do palco e eu, naturalmente, cumprimentei-o-o pela apresentação, ele ficou muito admirado de eu conhecer “Ronda” (sabe cumé, sô xóvem) e mais admirado ainda de eu conhecer “Negue”. Neste mesmo embalo, disse, com toda a ausência de modéstia que lhe era peculiar, que o “Negue” dele não deixava nada a dever ao “Negue” de Maria Bethânia.

Enquanto isso, estreitávamos a relação com a nossa amiga psicanalisada que nos explicava que na nossa sociedade as mulheres ainda buscam um homem provedor e de que ela, ao contrário, não queria um homem para troféu. E que é no silêncio que escutamos a nossa alma, além de que a guia não entendia nada sobre a relação capital-trabalho, momento em que descobrimos que ela era, além de psicanalisada, socióloga, claro.

E a moça em lua-de-mel visivelmente acima do peso que nos contou quase em segredo,...como se não pudéssemos perceber..., que é gordinha, mas que o recém-marido só foi descobrir isso agora, depois do casamento, quando ela resolveu abandonar as 3 cintas que usava pra sair com ele.

E a “Garfo & Bombacha”, um show de churrascaria, onde se come e se assiste ao show em que os gaúchos provam que são realmente machos, numa dança com facões deveras impressionante.

Tiveram também os passeios.

Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Gramado, Canela e Nova Petrópolis, o tour do vinho e dos chocolates e dos couros, da comilança desgovernada e das coisas carérrimas.

Os carros páram pra não atrapalhar a sua foto.

O teleférico do Parque do Caracol e a escadaria que leva lááá embaixo da Cascata do Caracol, lindíssima, foram os meus preferidos, eu que vivo este momento lindo de integração com a natureza.


Numa definição sucinta, Gramado é européia até dizer chega, com direito a descendentes nórdicos lindíssimos desfilando pelas ruas.

Enfim, recomêindo.

3 comentários:

CAROLINA disse...

Hahahaha! Ai Mary, tu me mata aqui neste início de sábado! Inspiradíssima, devo dizer.
A viagem na verdade foi apenas um detalhe diante da variedade do tal grupo da excursão. Jisuis amado.
Tudo foi muito bom, mas do Zed eu estou rindo até agora! Ai ai, só tudo mesmo.
Puxa vida, e seu preferido foi justamente o lugar que eu não conheci daquela vez, saco saco.
Agora eu vou TER que voltar pra lá, não tem jeito.

MARIANA disse...

Kerol, Kerol, a cascata é tããão legal, e dá à pessoa a oportunidade de vencer o medo de altura no teleférico e de quebra ter uma vista super privilegiada, além de conferir àqueles com pretensões esportistas a chance de descer (e depois subir) 751 degraus até a parte baixa da Cascata. Pura aventura na selva e entretenimento!
Eu mesma só pensava em amenizar a situaçã calamitosa das milhões de calorias ingeridas no menor espaço de tempo como jamais dantes.
Essa parte causou angústia sabe. Mas a gente se mata no pós e fica tudo certo. Assim cremos.

Marcos Faro disse...

Um legítimo texto by Mari. Um épico! E eu que vira e mexe estou por aquelas bandas e não encontro nenhuma excitação desse tipo... felizmente!