9 de maio de 2007

Meu tempo é quando – parte II

Esse post tem mais ou menos um ano de atraso, porque na época, não achei que havia algo do que falar que não fosse causar forte indignação. Para a minha pessoa no caso. E para a psicologia enquanto estudo do comportamento.

Ocorre que à algumas coisas falta tanto critério e à algumas pessoas falta tanta percepção, que só nos resta rir da ironia da cousa toda.

“Inventário de Atitude do Trabalho” ou, como apelidado pelo Rafa, “Inventário mother fucker psicográfico”.

Consiste numas 48645 perguntas sobre comportamento profissional, a fim de traçar o perfil profissional da pessoa. Sim, porque hoje não se fala mais em 'talentos para determinadas áreas do conhecimento', mas sim em 'perfis para determinadas funções'. Aliás, não se fala mais em "talentos", estes foram substituídos pelas palavrinhas nada simpáticas “habilidades vendáveis”.

Pois sim. Para todas as perguntas deve ser marcada uma resposta, obrigatoriamente, ainda que nenhuma das respostas corresponda àquela que seria dada por vc. Não bastasse, as perguntas se repetem inúmeras vezes pelo teste afora, com respostas diferentes e, por vezes, opostas àquelas outras da pergunta anterior. Mais ou menos assim: numa pergunta vc assinala, contrariada, a alternativa “a”, porque na verdade ela não teria resposta pra vc, mas vc tem que responder. Mais à frente, surge a mesma pergunta, com outras respostas, opostas àquela da anterior, sendo que deve ser assinalada a que mais tem a ver com vc; em não havendo, qualquer uma, que, por isso, vai ser absolutamente oposta a alternativa “a” antes assinalada, que já tinha muito pouco a ver com vc. E assim vai.

Aí que chegou o dia da “orientação individual”, que seria a análise do resultado deste teste cujo resultado alimenta um programa que forma um gráfico. Este é o gráfico dos seus pontos fortes e fracos. São analisadas várias características divididas em grupos de “administrativas”, "interpessoais’ e “intrapessoais”.

Daí que o meu gráfico é de uma pessoa problemática, por assim dizer.

Segundo a psicóloga que aplicou o teste e depois me entregou o resultado, devidamente comentado, nas palavras da própria: existe uma "porra-lôca" dentro de mim querendo se liberar e sendo impedida pela minha ‘dificuldade em tomar decisões’, esta, por sua vez, decorrente do ‘medo da perda’.

E mais um bocado de outras coisas na mesma linha, só que mais pra baixo.

Para finalizar, sofro de um conflito existencial entre o meu ímpeto pelo arrojo e o meu conservadorismo. Trocando em miúdos, preciso de ajuda profissional. Sabe cumé, pra resolver esse "dilema interno" que está me impedindo de escolher entre um e outro.

No entanto, analisando superficialmente o meu gráfico eu mesma pude perceber que as colunas vistas assim, de maneira global, e, considerando os grupos de características, denunciavam uma série de contrariedades. Qualquer um poderia por ex. olhar o gráfico e, sem titubear, encontrar ali um conflito entre a minha vontade de ousar ou de abraçar o certo ao invés do duvidoso. Qualquer um, menos, talvez, a psicóloga.

Certo que há este conflito. Sempre houve e sempre haverá, e, até onde entendo, graças ao Senhor Jesus, que não quero mesmo optar por uma das coisas e com esta permanecer para todo o sempre. No entanto, isto não significa em absoluto todas as outras conclusões que o gráfico dela tirou por si só, consciente e sensível que não foi à pessoa que se sentou à frente dela e que disse coisas que deveriam ter sido avaliadas, quando menos, em conjunto.

Numa dessas que as pessoas menos esclarecidas entram em desajuste com as demais e caem no dilema aquele do ‘ó, como sou incompreendido’, como se houvesse compreensão no mundo e isso não fosse um falso problema, seguido de uma falsa crise.

Contudo, hoje relendo o texto e lembrando do quanto fiquei atônita e considerando o tempo que passou e as novas idéias que surgiram, devo dizer que o conflito persiste e todo o resto deve ser jogado fora, exatamente como há um ano atrás, com a diferença de que agora convivo melhor com a contradição, a minha e a dos outros.

Na minha ânsia por coerência e congruência, perdi todas as vezes em que tentei compreender o que não se compreende e justificar o que não se justifica, e ainda assim teimei nesta tarefa ingrata. Ainda teimo, na verdade, mas dou a isso menos importância, o que suavizou deveras uma porção de coisas.

E, claro, prossigo naquela do arrojo x conservadorismo, passeando pelos dois lados e tentando sair o menos chamuscada possível.

4 comentários:

Anônimo disse...

Estes questionários! Estes questionários! E teve amigo meu que respondeu 17 perguntas positivas num questionário com 20 perguntas, e acabou sendo enquadrado no famoso complexo da "bipolaridade". O melhor da história é que ele só precisa responder 4 perguntas positivas para assim pertencer a esta nova gama de frustrados com essa vidinha mais ou menos que a gente leva.
E dá-lhe prozac pra acalmar essa gente e um MOTHER FUCKER nestes questionários furados.

Anônimo disse...

Olá Mari, bom?

Bah, vc não sabe como fico triste quando vejo profissionais assim por ai. Certo que a forma como um psicologo ou qualquer profissional de qualquer area olha para o seu instrumento de trabalho é diferente de um leigo por isso não dá para dizer que o que ele disse está errado pelo resultado do inventario.

Mas as psicoterapias com base dinamica tem ido longe demais nessa.

heheheeh dei boas risadas lendo o seu post heheheeheh

Beijos

Anônimo disse...

ei, eu preciso atualizar meus favoritos!

:-)

ó, eu quero convidar vocês pra participar do blog novo da verbeat, o atmosfera - www.verbeat.org/blogs/atmosfera. passem lá pra conhecer que vocês vão sacar de cara a proposta... e eu fico esperando um e-mail (no atmosfera@verbeat.org) dizendo ok e eu já respondo com o login, tá?

abraços! :-D

CAROLINA disse...

Meriluuu, que isso já faz um ano? Jisuis.

Aliás, quase um ano faz que cá não dou as caras, que esta vida real anda me exigindo por demais e as energias todas são consumidas pela ansiedade, essa peste, e não sobra nada senão o suficiente para engatinhar até a cama e lá permanecer até o outro dia.

Mãs.

Voltando.

Essa mocinha psicóloga está mais parecendo as ciganas da Rui Barbosa, te contar. "Alguém vai trair a sua confiança", "Vejo uma viagem na sua vida". Ousadia x conservadorismo, vontade de arriscar x medo de perder, porra loca x certinha? Assim até eu.

Onde que se candidata à vaga?