1 de julho de 2007

Essa idéia de que o amor para ser completo deve incluir o momento da separação já foi tema de um dos textos do Jamil Snege, com o qual, apesar de me agradar a poesia, jamais concordei, o que me deixava naquela posição desconfortável de discordar de alguém que se admira e a quem, até então, eu somente lia assentindo positivamente com a cabeça. Tinha a impressão de que a intenção era apenas a de criar polêmica, mas vejo que a idéia é antiga e até bastante propagada.

Passei a estranhar menos, no entanto, depois de ler a uma entrevista em que ele falava sobre o assunto e explicava o seu ponto de vista à entrevistadora:

"Sim, os grandes amores sempre se acabam. Todos nós precisamos de um grande amor finito, interrompido, para continuarmos a crer na infinitude do amor. (...)

Lembrei-me então de um conto de Graham Greene, que li há muito tempo, chamado "Visita a Moritz". Um sujeito muito rico tem uma doença crônica aparentemente incurável. Depois de percorrer os grandes centros médicos do mundo, informam-lhe que vive em Moritz um obscuro doutor em cujo histórico clínico registram-se casos de cura da rara doença. O homem viaja a Moritz e hospeda-se num hotel. No dia seguinte, pela manhã, sai a caminhar pela pequena cidade e logo localiza o endereço do médico. Uma rua aprazível, um chalé com um belo pé de tília no jardim. Aquela atmosfera acolhedora anima-lhe a visita. Mas ele não chama pelo doutor. Não entra. Limita-se a contemplar a casa, a modesta placa de madeira que a brisa matinal balança. Retorna ao hotel e na mesma noite inicia a viagem de volta.

Minha entrevistadora sorri. A fita acabou finalmente. Desnecessário explicar-lhe o óbvio. Conservar viva uma esperança, mesmo que para isso tenhamos de renunciar ao objeto de nossa busca."

3 comentários:

Anônimo disse...

Bem, eu concordo...

CAROLINA disse...

Noussa senhora. Pois então... Eu estava prestes a defender a minha confortável posição de que não necessariamente as coisas tenham que acabar em separação para serem completas. Mas me perdi. Depois dessa frase aí, sucumbi miseravelmente.
Recuperarei o fôlego aqui e quem sabe volte com uma tese à altura, que assim de sopetão tá difícir.

Anônimo disse...

Uaw!!! uaw!!! Uma ótima reflexão!!!! obrigada por compartilhar conosco!

beijos