1 de fevereiro de 2008

Por conta dos mais de 3.800 metros de altitude que nos aguardavam em La Paz, metade dos viajantes ficaram baqueados já no aeroporto. Falta de ar, dores de cabeça, sensação de cansaço, para alguns, diarréia e náuseas.

A outra metade permaneceu firme e forte, só sucumbindo à cerveja quente e espumante que era servida nos lugares. Eu mesma senti nada não. Aliás, acabei constatando que nasci mesmo foi pra viver nas alturas que, puxando pela memória, desde criança, sintomas de mal estar físico e ‘baixura’ sempre senti foi na praia, no nível 0.

Nada, entretanto, que uns dias de adaptação, chá e folhas de coca não pudessem resolver. E dá-lhe um e outro. Coisas estas com as quais não me adaptei já que na bem dizer única vez em que tomei o chá botando fé de que ficaria preparadíssima pra subir os 100m que faltavam até o Pico de 5.400m de altitude do Chacaltaya, consegui somente uma taquicardia e precipitações gastro-intestinais. Esta parte eu não precisava contar, é verdade, mas sinto uma necessidade de mim para migo mesma de justificar o fato de não ter chegado aos 5.400m, mas somente aos 5.350.

O Chacaltaya, por sinal, foi uma das maiores atrações de La Paz, passeio espetacular, com direito a no mesmo dia calor & frio em seus extremos, pânico tanto no caminho, dentro da van, da onde não se enxergava o chão da estrada, mas somente o precipício ao lado, quanto na caminhada até o Pico, com os raios e trovões que não cessavam. E a neve que presenteou os tupiniquins tropicalientes em pleno janeiro.




Aí me pergunto, e o gosto pela aventura e perigo, surgiu quando mesmo?

La Paz é um prato cheio. A cidade mais particularmente chocante e espantosa de todo o caminho. Lembrou-me “Blade Runner” ou o recente “Filhos da Esperança”. Quando o mundo estiver perto do fim, todas as cidades parecerão La Paz. E, paradoxalmente, em La Paz há muita vida. Vida que se mantém a despeito de todas as condições desumanas, a completa ausência de preocupação ecológica, o lixo, a miséria, o caos.



Nenhuma palavra melhor define La Paz do que caos, o que se evidencia em primeiro lugar, e de forma bastante impactante, no trânsito, que funciona na base da buzina, com os carros sucateados se atravessando uns sobre os outros, e também sobre os pedestres, estes um mero detalhe no meio de tudo; na imensidão de casas sem pintura e sem reboco amontoadas encima das montanhas e no povo que parece estar todo vendendo pequenezas no meio das ruas. Não só pequenezas, mas também laranja descascada, "chorizo", “pollo” frito, carne crua, pães em pilhas e pipocas.



Em La Paz conhecemos pessoas ótimas, dentre eles os mineiros Mariana, Isabela e o João, mais conhecido como “O Paceña”, já que após as explanações dos guias, quando seria normalmente o momento das dúvidas e perguntas dos turistas, ele levantava o braço e perguntava se lá onde íamos tinha paceña, uma cerveza boliviana, pra vender.
Descobri com eles e mais outro grupo de mineiros que andavam em sete meninos e uma única menina e que encontramos em todos os lugares por onde passamos, - a menina em todas as ocasiões abanando e sorrindo para nós como que pedindo desesperadamente por uma amizade feminina - que os mineiros são as pessoas mais amáveis, sociáveis e gentis de que já se ouviu falar. E eles ainda nos diziam com o jeitinho típico minêr: “acho tão lindo o sotaque ducêis”.

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