25 de setembro de 2008

Aqueles dois.

Que já era pra eu ter feito a propaganda aqui há muito mais tempo, mas sacumé. Nem começarei a falar das correrias todas que isso já encheu o saco, eu sei. Mas ainda dá tempo, muita fé.

Pois então, foi essa A peça do Festival de Teatro deste ano. Aquele que a gente nem falou sobre em momento algum nessa vida, quando na verdade março era pra ser sempre o mês mais ilustrado e comentado por aqui pelas bandas do blog.

A melhor peça deste ano, sem dúvidas.

Em meio a várias medianas, que vou te contar. Esse ano foi meio morno, pelo que me lembro. Talvez me faltem as emoções todas do momento, caso eu fosse falar logo depois de ter visto as cousas, mas ainda assim acho que foi meio meio.

A Companhia é mineira, o que nos lembra de várias outras peças igualmente boas vindas de lá. Mais uma anotação no caderninho, ao lado de Campinas: Minas Gerais = bom.

Mas então, Luna Lunera, a Companhia. E texto de quem, quem? Caio Fernando Abreu.

Uma das adaptações mais fiéis de texto para o palco, atrevo-me a dizer cá em minha ignorância. Quatro atores se revezando em dois papéis, todos misturados e todos ao mesmo tempo agora, ora narrando, ora interpretando e assim vai. Um cenário com vários objetos que acabavam sendo usados para ambientar lugares e situações bem diversas. Livros, discos, televisão, cigarro e café.

A gente teve a sorte de ter sido no Paiol, que eu acho que caiu como uma luva pra disposição do cenário e dos atores. Como que se aproximasse mais, entrelaçasse mais, integração total com o público.

O conto está inteiro aqui, como sempre. Daí acho eu que nem preciso entrar muito no que seria a história, propriamente. E é de bom grado ler antes, como sempre. Até pra reparar quão boa é a adaptação, coisa de louco.

Confesso que, no meu preconceito adquirido ao longo de tantos festivais, fiquei deveras cabreira com a expressão corporal toda dos quatro homens que se encostavam, dançavam, coreografavam e interagiam assim, intimamente, antes do começo da peça. Ainda mais que estava eu com Merilú logo ali na primeira fileira, que na verdade era pra ser a segunda – boa visão, mas estratégica para esconder possíveis fiascos –, mas como a A era usada também pro material do cenário, a B virou A e lá ficamos nós assim, tão expostas.

Mas que nada. Lindo o texto, linda a peça. Excelente trabalho e muito bom de ser visto. Isso que fomos lá numa terça (ou seria quarta) de intenso trabalho e muita vontade de ficar em casa. Ou seja, até Moniquinha Salmaso – e não me orgulho disso – já foi alvo de bocejos em situações assim. E a peça não, em nenhum momento. O tempo passa daquele jeito bom que devia ser sempre.

Com o perigo de estragar uma surpresa na peça – então não leia as próximas linhas se quiser ver a apresentação antes sem saber de nada – até a cena de nudez é bem colocada. E olhe que nudez é outro dos meus tantos preconceitos e pés-atrás teatrais, que pra mim é dificílimo não ficar agressivo, muito pudica que sou. E quase sempre desnecessário. Mas nesta peça em específico foi até suave, se é que isso existe.

Então vão lá, que dá tempo. Sexta, sábado (a las nueve) e domingo (a las siete). Ótemo programa, altamente recomendável. E barato né, vá lá. Pelo que diz o folder, dérreal a inteira e cincão a meia. Pelamor, mais barato que o Festival e mais barato do que qualquer outra coisa do nível.

“Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra”.

Um comentário:

MARIANA disse...

Bem destacado, Kerol. "Aqueles Dois" foi para mim tbém, ao que me lembre, a melhor peça do Festival desse ano. E ainda no Paiol, que gosto taaanto.

Texto do Caio, entonces, mesmo quando mal encenado vale a pena, o que dizer quando a montagem e os atores são ótemos?

Mui bueno. Boníssimo!