4 de setembro de 2008

Dos TRINTA

Porque os TRINTA não passam batidos nem que a gente tente. Com todo o poder de abstração – não que seja o caso –, ainda assim é impossível se esquecer dos TRINTA. Você pode até tentar fingir que não é com você, que imagina, você é tão maior que essas coisas de idade, sabe como.

Mas não.

Os TRINTA estão aí e chegam, para todos.

E quando se vê, se está inconscientemente fazendo aqueles milhões de reflexões por minuto, de como a vida anda tão rápido e de como você achava que isso ou aquilo já iria ter acontecido aos TRINTA, e de como as perspectivas mudam radicalmente a cada ano – imagine pensando em décadas, então – e de como as reflexões de tempos atrás já não se aplicam mais.

Mais do que tudo, essas mudanças de perspectivas.

Que quando na infância doirada, nos tempos de rosada rebenta, como bem diria Thiaguito, eu mesma sempre colocava nas brincadeiras de contagem de anos e eventos que se sucederiam na vida, os 22 anos como uma ótima idade para casar. E com o apoio de dona Edith, que bem lembro, que concordava e endossava do quão boa a idade dos 22 era boa para o evento casadoiro. Mas naquela época minha profissão seria paleontóloga ou cantora, então as coisas realmente não regulavam, nem sob a mais complacente das perspectivas.

Mesmo mais tarde, nas épocas tensas de vestibular, os TRINTA eram sinônimo de estabilidade, conforto e conquistas materiais todas devidamente satisfeitas, quem sabe até com prole criada. Não, acho que nem tanto. Não especificadamente os TRINTA, já que aos dezessete não se pensa – ou não era só comigo – exatamente no que cada idade representaria e nem em chegar os TRINTA mais precisamente. Mas quem tinha TRINTA era gente adulta, senhôures e senhôuras, tenho quase certeza. Que a memória, que já era fraca, me falha por completo neste momento.

Mal sabia eu que sairia da faculdade com 22 – aqueeela idade lá, boa que só pra se casar –, com diploma e carteirinha, sem experiência nenhuma nessa vida, nem noção da gravidade de nada, e levaria este choque imenso sobre o que é realmente ser responsável pela vida dos outros, ou pelo menos pelo patrimônio alheio. Que é uma responsabilidade. Te contar. A gente acostuma, como tudo nessa vida, e acaba meio que sem perceber minimizando a preocupação constante com o tamanho da coisa, porque senão também não se trabalha. O tal do distanciamento necessário. Mas ainda assim é grande, a gente é que prefere não lembrar. Senão certamente nem aos TRINTA chegaria.

Daí que, cá estou eu, essa gente adulta. Sem a estabilidade imaginada, sem nem um décimo das tais conquistas materiais, preocupada que só com tudo e com todos nessa vida, trabalhando até não poder mais.

E se começa a perceber o tamanho do amadurecimento dos vinte aos TRINTA. Sem brincadeira, verdade verdadeira. A noção de tudo melhora, as percepções todas, a visão crítica, digamos, de toda a informação que se absorve o tempo inteiro. E principalmente a noção do quanto ainda se tem a amadurecer.

E isso é bom, muito bom. Sinceramente bom. Conscientemente bom.

Pero sin perder la ternura, é claro.

Que ao mesmo tempo se pensa no ritmo que se consegue manter, nas coisas a conhecer, no companheiro extraordinário que se tem, nos amigos tidos e mantidos e que seguem exatamente este mesmo ritmo, como que por simetria. Automática, espontânea e confortante simetria, que só se consegue assim, quando se está nos TRINTA, ou perto.

E nas possibilidades todas que se enxerga agora um pouco mais do alto, e os zilhões de oportunidades, da consciência da capacidade de ação, e no quanto ainda se vai aprender. Tomada e inundada, eu diria, pelas possibilidades, é o sentimento do dia. Com sorte, de todos os TRINTAs.

E até uma nostalgia antecipada, que algo me diz que vai ser a época melhor de se lembrar depois. A vida promete.

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