10 de novembro de 2007

Rímini entrou, fechou a porta com duas voltas na chave, pôs o rádio no último volume, como se quisesse ensurdecer um exército de microfones clandestinos, meteu-se na cama vestido e só então, coberto até o queixo, atreveu-se a olhar novamente a foto, a virá-la e ler o que haviam escrito do outro lado: Não quero falar com o culpado que confunde viver com fugir, esconder-se, "proteger-se" do que ama (e do que o ama). Quero falar (porque o conheço, porque me comove, porque vem antes de tudo) com o inocente que aos sete anos (você aí tinha sete, não?) iluminava as tardes com sua curiosidade e cobria os sapatos de pó. Se ainda está vivo, se ainda está em algum lugar (e eu acho que sim, que está), que bata três vezes nesta foto, e eu vou lhe abrir a porta.

O Passado, Alan Pauls

2 comentários:

MARIANA disse...

Eu queeeero!!!!

PS:Gente gente...muito medo do que Babenco possa ter feito com esse livro hein?

Angelo Horst disse...

legal!