13 de fevereiro de 2007

Sobre perder o seu lugar preferido na vida.

Eu tinha um, sabe. Que veio a ser descoberto há alguns anos, não lembro bem como, mas que se tornou preferido em pouco tempo porque era tudo o que havia de peculiar e que me agradava em cheio.

Aí criei todo um ciúmes por tudo o que se referia ao lugar e só levava lá as pessoas que julgava se agradassem e valorizassem as mesmas coisas e pudessem dar àquilo o mesmo significado. Enfim, tudo o que se costuma chamar de especial.

Isso de apresentar lugares especiais pra outras pessoas é uma coisa muito séria pra mim. Porque eu sequer falo de lugares dos quais eu gosto pra pessoas que me são indiferentes ou que eu não gostaria de encontrar no lugar que tenho por especial. Auxiliada pelo fato de serem lugares normalmente desconhecidos, dentro das minhas possibilidades, faço a minha parte mantendo-os secretos ou selecionando os freqüentadores.

Por outro lado, a todos aqueles de quem eu gosto é imediata a vontade de compartilhar daquilo que me é mais caro. Como uma prova de confiança mesmo, e de estreitamento dos laços. Aqueles rituais todos de entrada na vida do outro que, diga-se, nem sempre são compreendidos e respeitados da forma como deveriam.

Até aqui, nenhuma novidade, afinal, não é assim com tudo o que se preza na vida?

Só que os lugares tem lá a sua trajetória própria que como tudo, ou quase tudo, foge à nossa vontade. E o lugar cai na boca de todos, chama a atenção de mais pessoas, que passam a frequentá-lo não exatamente por se agradarem dele, mas porque aquele lugar é comentado. E o público muda, e o seu lugar cativo já não está sempre disponível pra vc. Um pouco mais de tempo e de movimento e o lugar inevitavelmente fica pequeno para si e passa pela temível e infalível necessidade de expansão. Aquela coisa do "isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde". Assim como aconteceu com o disco de vinil, o vídeo cassete e a máquina fotográfica. Embora os substitutos modernos não sejam exatamente melhores, eles iam acontecer,...o que me coloca em estado máximo de nostalgia já vivido até hoje. Falei né, que jamais fui tão nostálgica como agora? Daí que neste estado, nem sendo melhores os substitutos iriam me agradar, já que o simples fato de fazer parte de um passado torna os primeiros especialmente únicos e insuperáveis.


O que dizer do seu lugar preferido então? Que não se torna apenas difícil e mais caro, como aconteceu com os vinis, mas simplesmente deixa de existir. Pra ocupar somente a memória, com suas boas e más lembranças, mais vivas do que nunca.

Um comentário:

CAROLINA disse...

Ai ai Merilú, mas põe nostalgia nisso. Minhas rugas pululam, do alto de meus cem anos, com tantas inovações tecnológicas presenciadas in locu, digamos.

Mãs, o seu super lugar especial decerto deixou muita gente na saudade.

Muita gente especial, diga-se. E que fazia parte daquela primeira leva de quando a coisa era de todo desconhecida do grande e estranho público.

Há de aparecer outro, ou com sorte outros, lugares tão ou mais significativos que aquele, não se aflija. Novidades podem ser boas, quem sabe. Façamos uma busca incessante e muita fé.