2 de fevereiro de 2007

"Você já se sentiu como se todos estivessem no palco e você fosse a única pessoa sentada na platéia?"

Eu gosto da vida simples, mas ela não me preenche por muito tempo. Eu preciso de algumas coisinhas fúteis sem as quais não há bem-estar, de jeito algum. Coisinhas como manicure e pedicure, meia dúzia de produtos de beleza, cama limpa e macia.

Tenho 28 anos e a proximidade dos 30 e, mais um pouco, do fim da vida reprodutiva me põe bastante ansiosa às vezes. Não com muita freqüência já que a vida familiar e a maternidade não são absolutamente desejos intrínsecos meus. Talvez porque tenha isso em demasia até hoje; a vida familiar, bem entendido. Refiro-me à leve pressão que todos, mais cedo ou mais tarde, passam a sentir depois de bombardeados incessantemente e por anos a fio pela publicidade e pelas exigências de consumo.

Como ser várias em uma só? As escolhas me são tão limitativas. Essas escolhas de rumo que definem o que vc vai fazer para o resto da vida, com quem vai estar, onde vai viver, que são o aglomerado de escolhas que acabam por definir se vc será feliz ou se não. Parece-me um tanto óbvio de que é impossível manter-se feliz por muito tempo, ou mesmo, de que isso seja até pouco proveitoso, já que o estado de felicidade é por si só um estado de estagnação. E também acho que a felicidade não é para todos, porque requer uma dose de alienação inviável aos "muito" lúcidos. Mas, para estes, talvez sobre um destino bem mais interessante, porque livre, autêntico e verdadeiro.

Gosto de algumas regrinhas, as de convivência, de harmonia e de ordem. Talvez por isso tenha feito Direito. Não sei. Acho que, na verdade, a razão da escolha foi bem menos nobre. Acho que fiz Direito porque achava que o status me faria sentir-me importante e destacada. Aquela coisa do trabalho difícil, que pouca gente seria capaz de fazer ou, ao menos, de fazer bem feito. Eu sempre gostei disso do diferenciador, da qualidade que te torna destacado entre os outros, que te torna especial. Especial pela diferença. E procuro por isso em tudo na vida. Aliás, esta é a minha procura. O homem destacável e diferenciado pela qualidade de valores e pensamentos que poucos ou que ninguém mais tem. O trabalho destacável e diferenciado pela exigência pessoal e intelectual. Os gostos e preferências que apontam para o que há de pouco comum, para o que tem cheiro de inédito.

Ah, e o fundamental: eu tenho o péssimo hábito de entregar o ouro ao bandido. Sempre, todas as vezes. E ainda não sei se já aprendi a lição.

Um comentário:

CAROLINA disse...

Merilú! Eis que iniciaste o nosso querido e novo blog, versão dois mile sete. São várias as considerações sobre nós mesmas e sobre os outros, né mesmo? Mas muito me inveja este seu poder de síntese. Falas tanto em tão pouco. Diferente de mim, é claro. Cinco frases pra 'bom dia', quatorze para 'como vai', e assim por diante.
Descreveste tu mesma muito bem, minha filha, um orgulho de ser. E nem entregasse o ouro tanto assim aos bandidos mil, visse?
Besos mil e bora lá escrever!