16 de fevereiro de 2007

Era isso!

Uma das secretárias intrometeu-se, Vai ver é um segredo delicioso, disse, e me olhou com malícia: Ou não? Uma rajada ardente abrasou meu rosto. Maldição, pensei, como o rubor é desleal. Outra, radiante, me apontou com o dedo. Que maravilha! Ainda tem a elegância de ficar vermelho. Sua impertinência me provocou outro rubor em cima do rubor. Deve ter sido uma noite feroz, disse a primeira secretária: Que inveja! E me deu um beijo que ficou pintado na minha cara. Os fotógrafos deliraram (Gabriel García Márques, Memórias de minhas putas tristes, 7ª edição, p. 50).

Era isso que eu queria dizer sobre o quão traiçoeiro é o tal rubor, mas, por absoluta falta de capacidade e/ou percepção, Garcia Marques disse antes de mim. Sempre atrasada, te contar.

Sei que é justamente isso que me incomoda tanto ao falar para públicos: o fato de ficar visivelmente vermelha. Primeiro que cá tenho a pele por demais alva, para não dizer brancura total, o que ajuda deveras a denunciar ao mundo o menor sinal de meu desconforto. E depois que principalmente ao fazer ‘brincadeiras’ para ‘descontrair’ é que a coisa fica mais feia. O triste é que às vezes eu nem estou sentindo realmente vergonha de nada, e lá fico vermelha de graça. Sendo que, por sua vez, isso sim é que me faz sentir a real vergonha e vem o tal ‘rubor em cima do rubor’, que é duplamente irritante.

E olhe que, sendo adEvogada, eu estou acostumada a falar, falar e falar e várias pessoas me ouvirem atentamente ou pelo menos fingindo muito bem que, o que não me incomoda em absoluto. Mas me coloque na frente de uma platéia de ouvintes e pronto, está feito o estrago. Que cousa, não?

Digo isso porque num grupo de estudos filosóficos, espirituais e afins, de que eu gosto muito de participar, diga-se, não é raro eu começar a falar e logo, não mais que de repente, cá me reparar desconcertantemente roxa. Aquele calor nas bochechas, sabe? Isso sem necessariamente sentir qualquer tipo de constrangimento, o que dificulta a solução. Saco saco. Mais cousas a serem trabalhadas.

Nunca mais tinha me incomodado com isso, mas esse descompasso já está dando nos nelvos.

Seria condicionamento aos assuntos do Direito? Seria uma total atrapalhação de meu ser, ou um descontrole das emoções mis, ou ainda um retardo à adolescência e seus fiascos sem fim?

Olhe que nem o amigo Sig explica.

4 comentários:

MARIANA disse...

hahahaha! Ai ai. Compreendo-te Kerol. Embora não tenha esse problema do vermelho com tanta frequência, já passei algumas dessa de sentir as bochechas queimarem e imediatamente aparecer alguém de mui bom senso, apontar e dizer: ficou vermeeeeelha! Tudo isso seguido de risadas dos presentes. Deveras irritante mesmo.

Anônimo disse...

hahahaha adoro os seus textos Carol! Devo admitir que quase não li porque vc começou citando um livro que eu ainda não li, de um autor que eu amo, e que está na lista de urgentissimos! rs (só preciso que uma boa alma devolva o livro para a biblioteca rs).

hahahahhaha olha, o Sig não veio hoje, mas eu vou dar uma dica que pode ajudar... Respire com a barriga (sabe aquela repiração abdominal?) isso ajuda a dar uma relaxada nos musculos e não concentrar tanto sangue nas bochecas... as vezes eu tb fico vermelha, mesmo sem estar com real vergonha. Duro isso! rs Por sorte minha pele é clara, mas o solzinho nosso de cada dia a deixa com um bronzeado aliado, tudo de bom... ahahahahah

Ah, e sabe uma coisa que entra nesse circulo vicioso de "fica vermelha, ai percebe que está vermelha e fica mais vermelha, ad infinitum"? Pra mim isso acontece com a minha risada. Tenho uma risada ri-di-cu-la, pra dizer o minimo, e quando eu dou risada com vontade e logo ouço-a acabo rindo da minha própria risada ridicula. E ai eu percebo o quão ridiculo é isso, afinal quem é que ri da própria risada? E dai que eu rio com mais vontade ainda... uma crise, enfim... ahhaha azar de quem estiver por perto heheheh expetaculo deploravel...

Ah, e só mais uma coisa pra fechar. Segundo a minha prof de psicanalise , "Freud não explica nada, quem explica é o paciente". Eu acho que ela deve ter razão.. ehehehhe

beijokas

Anônimo disse...

Carol, nobre colega, que delícia de texto. Isso é tudo tão humano!

GABRIEL RUIZ disse...

Putz esses acessos de "ruborização" são literalmente foda, as vezes. Pq quando se está entre amigos é sussa, mas qndo não se está... parece que o ciclo não acaba!

Muito legal a abordagem e a ilustração com o Gabriel G. Marques! =)

Mas... que tal uma parceria? Tem um blogue (que não o meu pessoal) chama-se heterônimos aleatórios e que é legal igual ao de vcs!
Eu linko vcs e vcs likam a gente? Que tal?
Ia agradecer eternamente! =]

obg, até a próxima visita
bjo e boa semana pós carnaval!