19 de abril de 2007

Ói nóis aqui travêis.

Deixem-me aproveitar esta brecha que Merilú deu, ao falar mais uma vez de teatro, pra continuar a saga praticamente interminável das peças do Festival. Eu sei, eu sei, monotema total. Mas a coisa não ta fácil aqui não, capanheros, que senão eu juro que escrevia tudo assim de uma só vez all together now. Mas não dá, que alguém tem que alimentar as crianças nessa vida.

Enfim, Apareceu a Margarida:


Em 1973, o teatro brasileiro conheceu o talento do dramaturgo Roberto Athayde quando "Apareceu a Margarida" ganhou os palcos numa encenação de Aderbal Freire-Filho e Marília Pêra no papel-título. Muitos prêmios e 30 anos depois, a peça volta aos palcos do Rio, com estréia dia 16 de janeiro, no Teatro Cândido Mendes. Protagonizado agora pela atriz Marília Medina, o texto do autor carioca utiliza de um humor ácido para criticar as relações de poder. A direção da montagem é do jovem ator pernambucano Bruno Garcia.Dona Margarida é uma professora ameaçadora, que passa o tempo todo questionando seus alunos. A peça revela uma mestra que seduz, humilha e abusa do poder diante de sua classe de alunos: a platéia. Durante as aulas Dona Margarida critica o uso de drogas, explica que a matemática é à base de todas as outras disciplinas e, a biologia, a ciência da vida. Ela tem uma presença magnética no palco, mas revela-se solitária.

Uma das últimas assistidas esse ano, apesar de estar tudo completamente fora de ordem nessa confusão que cá fizemos para contar tudo e mais um pouco de cada uma das peças. Que, como bem disse Merilú, agora é questã de honra.

Lá fomos para o Teatro Paiol, um de meus preferidos de todos nessa vida. Acho que a coisa de ser meio circular, e com relativamente poucos lugares, e todo aconchegante. Não há lugar em que a apresentação não seja bem vista, uma beleza.

Daí que presenciamos a Dona Margarida, nossa professora da – salvo engano – quarta série na ocasião, sendo que nós mesmos éramos os alunos, no caso. E ficou legal isso, independente de resposta ou não do público, a coisa fica infinitamente mais interativa, mais aberta a improvisações. Não que seja eu grande entusiasta das improvisações teatrais, pelo menos não ao exagero, mãs.

Dona Margarida aparece fazendo questão de ressaltar quem é que manda, exagerando nas ordens e se contradizendo o tempo inteiro sobre o que vai ser ensinado e o que é muito cedo para nós, os alunos, aprendermos. A solidão e a fragilidade da Margarida transparecem ainda mais a cada vez que ela tenta desesperadamente se impor perante a classe, sempre se referindo a si mesma na terceira pessoa, “Dona Margarida”. E tentando até mesmo seduzir, insinuar-se e se colocar como exemplo de tudo o que de melhor existe neste mondo inteiro.

Altas gargalhadas da platéia o tempo inteiro, e ‘história’ propriamente, quase nenhuma, no sentido de uma narrativa, eu digo. Porque a coisa é toda do personagem, das suas características, lembranças e a hierarquia toda de professora e alunos, sendo ela a detentora de todo o conhecimento e nós, mais uma vez, os ignorantes.

Quase nem foi preciso o diretor Bruno feiooooso que só – sendo muito irônica neste momento – ficar sentado na platéia também, rindo alto, talvez para incentivar o povo a fazer o mesmo. Porque todo mundo fez naturalmente, bem lindo.

Juro que prefiro escrever sobre as coisas logo depois de vê-las né, pelos detalhes todos que se perdem. Ainda mais tendo eu esta memória tão desprivilegiada, mas a intenção é tudo nessa vida, né mesmo?

Um comentário:

MARIANA disse...

Que nada, Kerol! O impacto do 'logo após' é normalmente mais intenso, mas também tem aqueles casos em que a gente precisa de muitos dias refletindo e digerindo o que viu e o que ouviu, pra daí sim conseguir falar com mais propriedade sobre a cousa. Essa da Dona Margarida acredito ser um caso desses, porque no 'logo após' eu só conseguia pensar nela como uma pobre criatura ninfomaníaca, sozinha de doer até.

E a gente ("os alunos") fica tbém um pouco irritada por ser tratada daquela maneira humilhante o tempo todo. Mas, despues, percebe um monte de coisas na personalidade dela e tbém passa a vincular tudo ao contexto histórico e político em que o texto foi escrito.

Mas, infelizmente, a demora em escrever dessa vez, bem sei, não foi em razão do tempo de digestão, mas do tempo de 'indigestão' que estamos vivendo, nessa correria alucinada de trabalho.

O monotema que nos desculpe, mas ainda é sem dúvida o melhor tema dos últimos tempos. Beijuuss, Kerol!