18 de abril de 2007

Eu nunca disse que prestava

A peça é composta de histórias curtas e flashes que exploram o universo feminino e suas carências, anseios e decepções, em especial no quadro amoroso. No palco, afetos, desafetos, carreira profissional, escolhas, vida e morte. Temas universais, que afetam todas as mulheres, se refletem nas alegrias e tristezas exploradas na peça. Com Natalia Lage, Luisa Thiré, Ana Barroso, Anna Cotrim e Murilo Grossi. Direção: Rodrigo Penna.

Essa não fez parte do Festival de Teatro, mas esteve aqui na terrinha no último fim de semana. Moi, como pessoa teatral que sou, fui lá né.

Grande parte do interesse, se não todo ele, deu-se em razão de o roteiro de Rodrigo Penna, estreante nesta área, assim como na direção da peça, ser baseado nos livros “O doido da garrafa” de Adriana Falcão e “Ao vivo” de Luciana Pessanha.

Desconheço a obra de Luciana Pessanha, mas pelo texto de Adriana Falcão de mesmo nome do livro “O doido da garrafa” tive amor à primeira vista, tendo eu inclusive usado trechos do texto por algum tempo como descrição da minha pessoa no “profile” do famigerado orkut. Sem querer com isso reduzir toda a beleza do texto ao profano mundo orkutiano, bem entendido.

Como a sinopse revela, é uma incursão ao universo feminino, com todos os pensamentos e ansiedades tipicamente femininos e a eterna busca pelo amor. Tudo com humor, o que deixou as histórias leves e divertidas.

São quatro mulheres e um homem interpretando vários personagens em pequenos quadros, ao som da trilha sonora produzida pelo mesmo Rodrigo Penna que fica lá no fundo da platéia escondido timidamente atrás do som.

O ator Murilo Grossi bem permaneceu no papel secundário de homem-gênero dentro de uma história de mulheres, aparecendo a maior parte do tempo como um ser que não compreende muita coisa, mas que acaba se rendendo às cobranças e aos caprichos das mulheres porque enfeitiçado pelos domínios femininos e que, apesar de toda a incompreensão (ou por causa dela), assim como elas, não renuncia ao desejo de viver ao lado do sexo oposto.

Uma das melhores histórias pra mim foi a da mulher prestes a subir ao altar, vestida de noiva, desabafando toda a sua dúvida em casar e em ser o noivo o homem que ela realmente desejou para si por toda a vida. Cheia de dúvidas e ponderações sobre as diferenças dos dois, ela se debate no conflito entre a vontade de viver impetuosa e destemidamente, de conhecer, de desvendar e de buscar coisas novas e a ilusória tranqüilidade trazida pela acomodação e pelo término da busca, desconfiando de que a busca tenha finalmente chegado ao fim, mas somente porque ela desistiu de encontrar o “príncipe encantado”.

Numa outra história, lendo uma carta que escreveu à sua parente contando notícias do recém-conhecido Rio de Janeiro, eis que Doris define os cariocas com a maior exatidão jamais vista dantes:

Este Rio de Janeiro é tão amostrado, Nena, que parece até que a gente tá na França de tanto canto lindo que aparece. Por outro lado, tem hora que dá pra jurar que aqui é aí, tamanha a desgraceira. O povo daqui, sendo rico ou sendo pobre, fala igualmente alto. Só não sei o motivo de tanta gritaria, se é falta de alegria ou se é falta de tristeza.

Muitas coisas realmente. Uma série de questionamentos mui salutares e despretensiosos de morais da história ou de certo e errado.

Mui Bueno!

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