2 de abril de 2007

Acabou-se o que era doce.

A 16ª edição do Festival de Teatro de Curitiba chegou ao fim no domingo, dia 01/04. Triste, muito triste...

Ainda assim, temos váárias peças do último fim de semana de Festival para compartilhar com todos. Uma delas foi “Essa Nossa Juventude”, peça do americano Kenneth Lonergan cujo texto foi traduzido e produzido por Maria Luísa Mendonça e sua amiga, a dramaturgista Christiane Riera:

Edu, Denis e Jéssica estão perdidos, distantes dos pais, não muito seguros de si mesmos e ainda amedrontados com o futuro. Em apenas dois dias, o embate entre eles revela gradualmente a angústia de enfrentar o mundo lá fora por conta própria. Apesar de ainda inseguros, eles estão armados com idéias e estratégias de sobrevivência que eles mesmos desenvolveram e que provam serem muito mais sofisticadas do que seus pais imaginam, mas menos eficazes e mais perigosas do que eles esperam.


A peça busca retratar 48 horas na vida de três adolescentes na faixa dos 18 aos 20 anos. De como supostamente os adolescentes ocupam o seu tempo (todo ou quase todo ocioso) remoendo-se de inseguranças e dominados pela necessidade de se auto-afirmarem.

O jovem Denis mora sozinho num apartamento pago pelos pais, porque os pais, ao que parece, não mais queriam a presença do rapaz no convívio familiar. Denis vive de vender maconha e outras drogas aos seus amigos. Edu é um jovem, muito jovem mesmo, que, numa briga com o pai, é expulso de casa e vai se refugiar no apartamento do amigo Denis, durante o fim de semana.

Edu, antes de sair de casa, rouba um saco de dinheiro do pai e leva consigo, usando parte deste dinheiro pra pagar a dívida que tinha com o amigo Denis, pelo fornecimento assíduo de maconha.

Os dois passam então a bolar um plano para devolver todo o dinheiro roubado ao pai de Edu, sem que o pai se dê por conta do sumiço e, ao mesmo tempo, aproveitar parte da grana com alguma diversão que, obviamente, inclui muitos artigos entorpecentes, bebidas, mulheres e extravagâncias. Tudo isso imaginando lucrar em poucas horas o dobro ou o triplo do valor a ser reembolsado ao pai.

Denis faz o tipo adolescente sabichão, cheio de manha e facilidade com as mulheres. Edu faz o tipo atrapalhado, inseguro, frágil e dependente do amigo. Ambos são o resultado de famílias desestruturadas e pais ausentes.

Nada do que foi planejado por eles, como era de se esperar, dá certo, mas no meio de tudo Edu consegue ao menos se envolver com Jéssica, a terceira adolescente, com quem ensaia um início do que se poderia chamar de romance. No entanto, todos são adolescentes inábeis e problemáticos, o que significa dizer que não só não conseguem se comunicar com os pais, ou com qualquer outro adulto, como também entre eles nada engata com muita facilidade.

O texto traduzido procurou inserir as gírias e maneiras de falar típicas dos nossos adolescentes e é carregado ainda de palavrões e expressões bastante chulas.

Não é, por isso, nenhum texto que acrescente grande coisa ou mesmo desperte curiosidade em qualquer pessoa que tenha mais de 25 anos ou que não tenha filhos adolescentes e queira desesperadamente saber como eles agem quando estão entre eles. Diria que, levando em conta a peça, qualquer pai de filho adolescente deveria ficar no mínimo preocupado em como o pimpolho crescidinho anda passando o tempo.

Em vários momentos pensei estar assitindo à uma versão teatral de "Kids", excluída a problemática da aids.

Além disso, a peça é muito longa e já inicia cansativa no primeiro diálogo que bem poderia ter uns vinte ou trinta minutos a menos, sem que nada da sua essência fosse comprometido.

Na verdade, a sinopse nos induz a um erro, descoberto nos primeiros cinco minutos de peça, de serem os dramas e questões existenciais vividos pelos personagens algo de alguma relevância ou profundidade, quando, de fato, os adolescentes retratados se resumem a lamentar a indiferença dos pais, que parecem tão ou mais infantis que eles, a se meter em todo o tipo de trapalhada e a fumar maconha o dia todo.

De bom mesmo destacamos a atuação do Caio Blat, que está muito bem no papel, diga-se, imerecido, de adolescente amental, como diria a Fer.

Um comentário:

CAROLINA disse...

Pois é né, menina. Uma indução coletiva a erro, eu diria, essa da sinopse. Na verdade, até não mentiram, mas nós todas é que esperamos coisa diferente.

Cansativa, deveras. Eu crente que veria dramas existenciais muito profundos e tudo mais, mas que nada. Quadros enormes de diálogos intermináveis, e muito muito muito palavrão, que essa nossa juventude é uma cousa de louco, veja vc.

Caio querido personificou o adolescente amental, realmente. Um espetáculo esse menino, o que salvou.